quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cu-riitibanóides: homo sapiensis senza culus

Exercício coletivo de fragmentação / coesão

Participante : Rogério Viana


10.Monólogo. Um personagem mostra ao público um objeto artístico de uma cultura “primitiva”, descrevendo-o e interpretando-o.

(personagem segura um quadro onde está colado um rolo de papel higiênico de cor vermelha. Ele tem um ar professoral, com aspecto de um cientista)

Cientista (com roupa de aspecto metálico)

A história da humanidade tem sempre uma surpresa a nos revelar. Em recentes escavaçõescomandadas por humanóides nanorobotizados na província arqueológica dos Cu-riitibanóides, descobriu-se traços de uma antiga civilização que se presume, ainda possuia cu, também conhecido por ânus. Mais que isso, e que ainda aquela população, hoje extinta, limpava-se com pedaços de papel que eram retirados de rolos como este aqui mostrado e que estão fossilizados pela ação do tempo.
Os antigos habitantes da região dos Cu-riitibanóides, agora encoberta por densas camadas de poeira cósmica e restos de uma carbonizada floresta de araucária brasiliensis e outros resíduos de materiais sólidos e micropulverizados, com mais de um milhão de anos, foram a última geração da escala evolutiva antes de atingir a que se convencionou chamar de homo sapiensis senza culus, visto que a espécie humana, nos dois últimos milhões de anos já não registrou a presença do referido cu, que consistia de canal retal, do esfíncter e do anel flexível que existia nas proximidades da parte inferior da coluna espinhal e que por onde eram excretados os dejetos e resíduos da alimentação ancestral.
Este pequeno objeto arqueológico, uma verdadeira relíquia de milhões de anos, tem sido para os cientistas da atualidade, motivo até de intriga. Há uma corrente, dos nanodedacófagos, que diz que o papel higiênico tinha uma única função. Retirar daquele anel rudimentar, chamado como ânus ou comumente denominado cu, o que era definido cientificamente na época como cocô. Alguns, mais eruditos, chamavam-na de merda. Um pequeno segmento, no entanto, não tinha nenhum pudor em afirmar que era mesmo bosta!
Então, este produto, aqui mostrado em estado de fóssil, e que era feito de fibras vegetais – naquele tempo ainda existiam árvores, água e oxigênio – se originava de celulose extraída de árvores, também era feito por resíduos de outros tipos de um produto chamado comumente de papel. O processo desses materiais produzia uma massa e esta massa – esbranquiçada - espremida em enormes rolos metálicos – ainda se utilizava ferro e aço inox no processo industrial da época – e, em seguida, a tal massa era espalhada em imensas correias para secarem. O material, então, era enrolado em pequenas peças como essa e, depois, tinha o seu fim, limpando os ancestrais anéis defecativos chamados de cus.
A evolução do ser humano, a partir do homo sapiensis senza culus, em especial os da região chamada província arqueológica Cu-riitibanóides, também conhecida por província arqueológica Cu-riitibócas, teve origem quando uma parte daquela população cansada de tomar no cu – expressão que significava ser violentada literal ou figurativamente - decidiu opor-se ao regime vigente na época, manifestando-se contrária à estirpe que era comandada por antigos membros de uma casta de privilegiados membros da vigente comunidade política do Paraná – pequena região ao sul do que foi um grande país de nome Brasil - que só sentava a mandioca, o ferro, o cacete, o pau na população e, esta, sentia o quanto ardia seus cus no final de cada mês. Resumindo: de tanto levar no cu, os habitantes daquela região, agora sem registro no mapa ergomasteraquariano, acabaram perdendo a sensibilidade no dito cu e este, sem uso, perdeu a função e, sem função, deixou de ser cu, ânus ou outras denominações comuns à época focalizada em nossas pesquisas mais recentes.
Havia uma expressão popular de então que pode explicar, talvez, com uma razão simplista, surrealista e por não dizer heterotópica, o desaparecimento do cu no corpo da população ancestral da província arqueológica dos Cu-riitibanóides ou Cu-riitibócas. A expressão dizia: Quem tem cu, tem medo. Como a população focalizada em nossas pesquisas se rebelou e perdeu o medo, perdeu, portanto, o cu. A tese ainda suscita discussões acaloradas nas comunidades científicas, locais e extraespaciais que estudam com denotado interesse o fim dos homens-sem-cu.

Oficina Regular de Dramaturgia – Núcleo de Dramaturgia SESI-PARANÁ
Roberto Alvim – Curitiba – PR – Aula de 14 de abril de 2009 – Teatro José Maria Santos

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