sábado, 21 de maio de 2011

Uma estreia em Buenos Aires. Um texto traduzido em Curitiba.

O cartaz da peça "África... um continente", de Patricia Zangaro

Amanhã, em Buenos Aires, vai estrear no Teatro del Pueblo, a peça de Patricia Zangaro - "África... um continente". O texto da autora argentina foi por mim traduzido no final de abril, depois de eu haver traduzido “A cumplicidade da Inocência”, texto dela e de Adriana Genta, que está em cartaz no teatro Celcit em Buenos Aires e que trata de questões muito sensíveis para o povo argentino pois o tema é sobre a trágica ditadura militar pós Perón e sua Isabelita.

Meus contatos com Patricia Zangaro, uma talentosa e profícua autora, tiveram início depois que lhe enviei a tradução de "A cumplicidade da Inocência". Como resposta, a autora mandou-me sete de seus mais recentes textos. E desafiei-me a traduzi-los. E em pouco mais de um mês, traduzi cinco de suas peças, sendo que três delas são cenas breves. As outras duas foram "Tango" e "África... um continente", esta que terá sua estreia amanhã. 

Nesta manhã recebi um e-mail de Patricia Zangaro e as imagens do cartaz e do programa da estreia. No e-mail, Patricia diz: (na tradução que fiz):

(...) Que gentileza a sua de lembrar-se de minha estreia. Muito obrigada. Estou contente porque o diretor e os atores entenderam a obra e fizeram um bom processo criativo, mesmo nervosa, porque o mundo ali sugerido é, quem sabe, mais duro e angustiante que o que eu mesma havia criado e não sei qual será a reação do público, enfim. Em qualquer caso, é importante estrear. Agradeço novamente por sua atenção. Um forte abraço. Patricia Zangaro.


Segue abaixo a sinopse de “África ...um continente” que foi desenvolvida pela própria autora.

Sinopse

No terraço de um arranha-céu em uma cidade qualquer. O encontro inesperado de um homem, uma mulher, uma moça e um rapaz. Atravessam a noite discorrendo com alguma hostilidade, com certo enfado. Muito embora um homem negro agonize lá em baixo. Como um continente que se funde no esquecimento, África... um continente se articula em torno a este outro que não se vê nem se ouve, silenciado pelo palavreado vazio da cidade.

Patrícia Zangaro comenta sobre a origem do texto

África... um continente nasceu como uma exploração sobre a linguagem, como uma pergunta sobre aquilo que falamos, sua necessidade, seus limites e impossibilidades. Em meio ao palavreado urbano, acreditei identificar quatro vozes, a de uma mulher, de um homem, de uma moça e de um rapaz. Imediatamente suas silhuetas se recortam no terraço de um arranha-céu e, ao tropeçar um no outro, conversam. Invadi suas palavras, e o mundo de África... um continente começou a ser criado.

O diretor Alejandro Ullúa fala sobre a montagem de África

Esta nova obra de Patrícia Zangaro fala do horror como algo cotidiano, porém muito longe de normalizá-lo, o olhar é ferozmente crítico. Os personagens de África... um continente são devorados por algo que os angustia e os impede de comunicar-se entre si, porque cada um permanece preso em seu próprio inferno. O desafio da montagem é fazer com que os diálogos estourem e nos perturbem.

Ficha artística e técnica

Autora: Patricia Zangaro
Elenco: Alejo Ortiz, Stella Matute, Verónica Hassan, Matías De Padova
Assistência de Direção: Florencia Ravera
Assistência de produção: Sofía Kiguel
Assistência de Cenografía e Figurino: Laura Muñoz e Camilo Caycedo
Fotos: Fuentes2Fernandez Fotografías
Música e trilha sonora: Sergio Vainikoff
Desenho de Iluminação: Matías Iaccarino
Desenho de Cenografia e Figurino: Valentina Bari
Produção Executiva: Andrea Montaldo
Assessoria de Imprensa: Simkin & Franco
Direção: Alejandro Ullúa

Duração aproximada: 60 minutos

Os interessados pelo texto poderão solicitá-lo através do meu e-mail: rogeriobviana@yahoo.com.br ou deixando seu pedido nos COMENTÁRIOS.




Programa de "África... um continente"


domingo, 15 de maio de 2011

De temas, textos de teatro e de depositários fiéis de sonhos

Em 2009, quando integrava da Oficina de Dramaturgia do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná, tive a oportunidade de participar do workshop de leitura "Amostra Grátis" com o autor e diretor de teatro Márcio Abreu. Neste evento, que aconteceu no Palacete Wolf, da Fundação Cultural de Curitiba, Márcio Abreu trabalhava com a leitura de alguns textos narrativos e pedia aos participantes que criassem textos que, depois, eram lidos e comentados. Não havia textos de teatro.

Num dos últimos encontros no workshop mostrei ao Márcio que eu tinha uma lista, uma enorme lista de temas para desenvolver futuras peças de teatro.  Eram ideias gerais na forma de títulos, pois no meu modo de escrever, os títulos sempre nascem primeiro, como se fossem "story lines" para serem desenvolvidos depois. Já tinha, naquele dia, escrito minha primeira peça "Das razões do nosso medo" (de 2003), e o musical "Arco, Tarco ou Verva? Paixão e Alegria de Um Barbeiro Caipira" (2005-2007) que hoje está em fase de captação pela Lei Rouanet pelo escritório do produtor Ricardo Trento.  Também, tinha acabado de escrever o segundo texto que cheguei a mostrar ao Roberto Alvim - o primeiro foi "Manhas, Mutretas e o Escambau" e o segundo foi "Daysi", dentro da Oficina de Dramaturgia.

Naquela minha lista de temas, de ideias, tinham duas que citavam o Paulo Leminski. O Márcio Abreu disse que eles estavam trabalhando num projeto inspirado no Leminski também e que tinha o título de "Vida". O projeto do Márcio Abreu foi concluído, estreou e fez muito sucesso. Foi premiado. É um trabalho primoroso e sobre o qual já fiz comentários não apenas no meu blog, mas, principalmente, no site "Teatro Jornal", do Valmir Santos.

Bem... a lista foi crescendo, à medida em que eu trabalhava num dos temas e incluia, sempre, outros. Creio que seja uma lista interminável. Mas eu, na época, já tinha, como afirmei acima, quatro peças de teatro escritas. E, religiosamente, desde, então, tenho feito muitas pesquisas, lido muito e, sobretudo, tenho estabelecido uma pequena ponte com autoras de língua espanhola, das quais já consegui traduzir 10 textos: para relembrar foram dois textos (os primeiros) de Susana Lastreto (que é argentina mas mora em Paris), dois de Gracia Morales (que é de Granada, Espanha), um texto (cuja montagem está em cartaz em Buenos Aires), escrita em quatro mãos pela uruguaia Adriana Genta e pela argentina Patricia Zangaro. Esta última, ao receber minha tradução de "A cumplicidade da inocência", enviou-me vários textos (foram 8, no total) para que eu pudesse, na medida do possível, traduzí-los. E, intercalando minhas leituras e pesquisas, meus textos, em pouco tempo completei a tradução de cinco textos de Zangaro.

Mas minha lista de desafios continuava lá, com vários textos - uns cinco, pelo menos, iniciados - e outros que, mesmo ainda não registrados na lista de intenções, rondavam minha imaginação. E, não sei por que razão, quando terminei a tradução de "Tango", de Patricia Zangaro, voltou a me perseguir a ideia de escrever um novo musical. E, finalmente, ele nasceu. Surgiu firme e forte. Um novo desafio que vou buscar transformar em um projeto e, com certeza, numa montagem mesmo. Bem, antes, de pegar pra valer o novo texto de um musical, trabalhei em cima da ideia inspirada em Leminski. E num dos eventos na CBT entreguei ao Márcio Abreu uma cópia do meu texto. Também deixei outra cópia com o Gerson Delliano, durante o mesmo evento na CBT. São as duas únicas pessoas do mundo teatral a terem contato com meu texto, cujo título, de público, prefiro ainda não revelar. Mas se refere a um certo dia de 1989 quando morreu uma famosa cantora brasileira de nome Nara Leão.

Bem... e o musical? O novo musical? Então, nesta manhã fria de outono, quando Curitiba amanheceu com cara de Curitiba, fria e molhada - coisa compatível apenas com uma cidade, nunca com uma mulher, não é? - escrevi a parte final do musical. E, amanhã, já tenho agendado com um músico, compositor e arranjador, uma reunião para apresentar-lhe não apenas o texto que escrevi, mas a ideia toda do projeto deste novo musical. Será, de novo, um grande desafio encontrar os parceiros certos para a nova aventura de montar um projeto, de enviá-lo para a Lei Rouanet, quem sabe para outros editais, e de descobrir pessoas que tenha um sonho de mostrarem seus talentos num musical singelo, delicado, puro e sensível, como é a personagem principal da fábula a ser musicada.

Amanhã, logo após o almoço, estarei dando entrada na Biblioteca Pública do Paraná com o pedido de registro junto a Biblioteca Nacional do novo texto de teatro musicado que escrevo. E, assim que sair de lá, divulgarei alguns detalhes deste novo trabalho. Ah, o que escrevi inspirado em Leminski, ainda não vou divulgar nada oficialmente. O que já fiz está nas mãos e sob os cuidados do Márcio Abreu e o Gerson Delliano, os que, de graça e sem esperar, viraram fiéis depositários de um novo e caro sonho meu.