sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ensinem os filhos a falhar. Como posso aprender?

Quem sofre deve chorar. Quem sente dor, também. Quem perde um grande amor, chora. Quem não passa no vestibular, também. Quem cresce, sofre e chora. Também chora e sofre, quem não. Ser humano é conviver com perdas, ganhos, dores e alegrias. O que me faz sofrer me faz crescer, mas eu também cresço quando sou invadido por uma efêmera alegria. É a vida, é a vida e é bonita... já dizia Gonzaguinha, que nos aliviou a alma com seu libelo em favor dos “eternos aprendizes”.


Nas “páginas amarelas” da revista Veja (edição 2142 – 9/12/2009), o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, um estudioso das relações familiares, diz que “aprender a lidar com o insucesso é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta”. Segundo ele, a ideia de que os pais sejam “senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente, no ritmo das transformações sociais”. Seriam ruins as consequências disso? Lebrun afirma que necessariamente não são. E indica um caminho: “O que vale é a capacidade dos pais de fazer os filhos crescer”.


Em nosso crescimento, nos amplos sentidos e entendimentos do que seja crescer, sempre podemos ter alguém a nós orientar, vigiar, alertar, indicar, corrigir. No modelo antigo, hierarquizado, e que foi tradicional ao longo dos séculos, sempre havia uma figura superior que se prestava a estabelecer algumas normas, a indicar caminhos, a premiar e a punir. A essa figura, nossos respeitos, obediência. Vindo de cima, aqui em baixo, nós tínhamos que acatar. Respondendo como filhos, como subordinados ou como fiéis seguidores. Lebrun vem e diz que essa legitimidade, nos últimos trinta anos, como organização social, “não está mais constituída como pirâmide, mas como rede”. Na visão da rede não aparece, mais, um lugar diferente, nem se destaca alguém com um papel de autoridade superior. Assim, a figura do pai, com autoridade, está deixando de existir.


Se não há como ensinar pela autoridade paterna, como evitar, então, que os filhos – nós mesmos e os nossos descendentes – possamos caminhar pela vida sem que venhamos a trilhar por caminhos errados, penosos e mais difíceis? Lebrun diz que é preciso ensinar os filhos a falhar. “Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar”, afirma o belga. A vida, em algum momento – ou em vários, eu diria – vai nos mostrar que erramos. Errando, fracassando, aprendemos pelo modo inevitável que faz parte da vida. O fracasso e o erro podem nos ensinar muito mais que sucesso e acertos. O ensinamento de Lebrun é que “aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo”.


Eu peguei apenas essa questão da desvalorização da figura do pai, dos erros que a vida nos impõe e nos leva a fracassar, para chegar na questão da frustração. Quando algo não dá certo, quando minha expectativa era maior do que seria possível, é natural sentir aquele gosto amargo da derrota e chorar? Agora, pensando um pouco como pai e filho que sou, creio que é muito natural e louvável até, chorar pelo que não tenho alcançado. Mas, também, não posso fazer de inúmeras e seguidas derrotas, uma regra. Errei uma vez, errarei sempre. Falhei ontem, falharei hoje e amanhã, também. Não. Não é o que farei, nem recomendaria que alguém também fizesse um mantra dos seus “fracassos e falhas” e o repetisse à exaustão.


Hoje, nesta manhã, acordei com um certo gosto amargo na boca e um sentimento de frustração muito grande. Frustrado por ter sido preterido em algumas de minhas aspirações pessoais, profissionais, até. Mas é por esse motivo que vou desistir? Seria por essa razão que vou me considerar menor e menos capacitado para seguir em frente? Vou desistir de aprender ao que me propus, mesmo tardiamente? Minha resposta a todas as inquietantes perguntas é um grande e sonoro “não”. Querem que eu reforce? Então vai: “NÃO”.


Agora, não mais como filho, nem também como pai, apenas como ser humano, sem me preocupar em estar ou não dentro de alguma escala ou modelo de hierarquização profissional ou pessoal, reconheço que também aprendi a falhar. É difícil reconhecer isso? Confesso, é sim. Dói? Muito. Mas se é difícil e se dói, o que isso me ensina? Continuar lutando, não contra o sistema, nem contra os que foram talhados e abençoados por armas mais eficazes e munições mais fartas, mas lutar contra um inimigo que não me dá tréguas nem me deixa descansar em paz nos momentos de reflexão como agora. Sim, esse que me cobra caro pelos erros, que me joga na cara as minhas falhas, que ri do meu despreparo, que caçoa da minha ingenuidade, que brinca com meu esforço como se fosse algo a não considerar positivo, este feitor sou eu mesmo. Esse pai sou eu, esse filho também.


Qual seria, então, a receita para mostrar que o feitor de mil caras e mil disfarces não vai me derrotar? Não há uma receita, mas contra os disfarces e as caras que me amedrontam eu tenho algumas vantagens que são minhas e apenas eu posso utilizá-las: minha fé, minha capacidade de sonhar, minha visão de mundo e meus dedos ágeis que me fazer continuar digitando, digitando, digitando tudo isso. Até quando? Esperem. Se vocês tiverem tempo. Esperem.


Rogério Viana



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Peças que serão publicadas pelo Núcleo de Dramaturgia

Relação das peças a serem publicados em coleção do Núcleo de Dramaturgia.

1. Como se eu fosse o mundo, de Paulo Zwolinski

2. Antes do Fim, de Marcelo Bourscheid

3. Inverno, de Pretto Galiotto e A noite se foi ou O celibato do superman, de Angélica Rodrigues

4. (em) branco e Tempestade de Areia, de Patricia Kamis

5. (Você), de Alexandre França

6. Só (a) Você, de Humberto Gomes e Pequeno Inventário de Impropriedades, de Max Reinert

7. Fatia de Guerra, de Andrew Knoll e Longe de Casa, de Eliane Karas

8. A Casa da Praia, de Pagu Leal e Teia, de Douglas Daronco

9. Para Consumo Imediato, de Nana Rodrigues e Paraíso 46, de Claudia Brito

10. Quantos, de Sabrina Lopes e Animus, de Luciana Narciso

Os autores acima mencionados devem enviar seus textos com revisão ortográfica até segunda-feira para o e-mail contato@marcosdamacenocia.com.br

Em breve serão informados os textos que terão leitura dramática durante a Mostra do Núcleo de Dramaturgia.

Manson Superstar - Últimas apresentações no "Novelas Curitibanas"

Andrew Knoll concorre como melhor ator ao
troféu "Gralha Azul" como Charles Manson

MANSON SUPERSTAR conta a história de Charles Manson que em 1969 ordenou que um grupo de jovens seguidores matasse a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses e meio do diretor Roman Polanski. A história que chocou o mundo todo quarenta anos atrás é resgatada pela Vigor Mortis por suas inúmeras peculiaridades. “Quanto mais você pesquisa sobre a história da ‘família manson’ , mais você quer investigar”, afirma o diretor Paulo Biscaia Filho, “E de fato existem dezenas e dezenas de documentários e livros sobre o assunto. E o que desejamos montar é um documentário cênico. Uma peça-documentário-musical”. Quem se assustar com a palavra “musical” na expressão, não pense que a Vigor Mortis está se deslocando completamente de gênero. A música entra nesta peça de formas curiosas. “Não estamos fazendo um musical per se. Ou seja, algo onde a música vem de uma dimensão imaginária. Aqui a música entra fazendo parte da cena. Manson queria ser um músico de sucesso e a música está sempre presente em sua vida. Não só não quisemos ignorar este aspecto, mas também desejamos potencializar algo que poderia dar uma nova imagem a esta história.”


Além da música, a peça traz outro elemento incomum: os personagens falam em inglês com legendas em português. “Há poucas falas”, diz o diretor, “a maior parte do que é ‘dito’ , é ‘cantado’, mas o que não é cantado deveria ter a sonoridade do ambiente. Por isso optamos por manter a língua original do material. As palavras não são tão importantes quanto a atmosfera neste caso. Existem citações célebres de Manson, é fato, mas isso pode ficar para o público pesquisar depois do espetáculo. Seria um pleonasmo a gente trabalhar estes elementos aqui.”



Quem mais tem textos é o ator Leandro Daniel Colombo (De “Cachorro Manco Show”, “Morgue Story” e vencedor do Troféu Gralha Azul por “Pincéis e Facas”) que interpreta o cineasta Roman Polanski, que voltou às manchetes recentemente por conta de sua apreensão na Suiça e possibilidade de extradição para os EUA para ser julgado e preso por ter mantido relações sexuais com uma garota de 13 anos em 1978. Andrew Knoll (ator do premiado curta “Com as Próprias Mãos” e da montagem “Jesus Vem de Hanover”) encarna o carismático e assustador Manson em uma interpretação onde ele literalmente canta, toca, dança e representa. O elenco ainda tem Carolina Fauquemont como Sharon Tate, Wagner Corrêa como Jay Sebring (o ex namorado de Sharon que também foi assassinado junto com ela), e os integrantes da ‘família manson’ Tex Watson, Patricia Krenwinkel, Leslie Van Houten e Susan Atkins que são interpretados respectivamente por Marco Novack, Ana Clara Fischer, Michelle Pucci e Rafaella Marques. O cenário é de Paulo Vinícius e a produção é de Tânia Araújo.


IDOLATRIA


“Essa história me persegue literalmente desde que eu nasci.”, elabora Biscaia, “Tate estava grávida de oito meses e meio no dia em que foi morta, 9 de agosto de 1969. Eu nasci vinte dias depois. Sempre fiquei fascinado com a história. Em como esses garotos se deixaram levar por um líder como Manson. Em um dos testemunhos Atkins diz que não havia limites para o que ela faria por ele. E foi isso o que aconteceu. Eles mataram pessoas sem absolutamente nenhum motivo e com requintes de crueldade. Escreveram com o sangue das vítimas e desferiram um quantidade absurda de facadas. Só Sharon Tate recebeu 16 facadas, mas seus amigos receberam mais de 50. De onde vem essa idolatria? Que necessidade é essa de idolatrar alguém e fazer tudo o que fossem comandados a fazer?”.


MANSON SUPERSTAR é uma peca que fala exatamente sobre isso : a necessidade de ídolos. O próprio Manson teve como justificativa das mortes uma música dos Beatles (os mesmos que disseram que eram mais populares de Cristo). A canção Helter Skelter, foi interpretada por Manson como uma profecia de uma guerra racial que faria com que todas as guerras terminassem. A sua ‘família’, um grupo de jovens hippies que na maioria fugiram de casa para se juntar a comunidade de Manson, acreditou piamente na tal profecia. “É por isso que a peça tem essa estrutura não de musical, mas quase como de um show de rock. Não importa a qualidade ou a verdade do que o rockstar faz, seus fãs o idolatram cegamente”, explica Biscaia.


As músicas da peça incluem não apenas composições do próprio Charles Manson, como também canções da época e outras mais contemporâneas. “Na seleção musical, não me preocupei com verossimilhança cronológica, mas com o sentido das letras e a atmosfera da música. Para se ter uma idéia eu já começo a peça com um clássico da banda punk Dead Kennedys”.


NOVOS TERRENOS


“O melhor de MANSON SUPERSTAR para mim e a Vigor Mortis é que estamos entrando em novos terrenos. Esta peça não tem nada a ver esteticamente com outras montagens nossas. Para início de conversa, não tínhamos um texto no sentido formal do texto teatral. Eu já escrevi e dirigi textos tradicionais diversas vezes e estava querendo tentar algo diferente. Começamos fazendo uma pesquisa aprofundada da história de Manson/Tate e depois o elenco estava com repertório de sobra para propor cenas. O que eu fiz foi amarrar estas propostas em um roteiro dentro de uma proposta estética com parâmetros claros. No entanto pode-se dizer com certeza absoluta que esta é uma peça ‘de companhia’ e não ‘de diretor‘, se você tem a necessidade de rotular desse forma. O que mais importa é que a Vigor Mortis está se arriscando por outras linguagens e com isso a gente vai aprendendo e amadurecendo. Isso é gratificante a todos.


MANSON SUPERSTAR é realizada com recursos do Fundo Municipal de Cultura através do Edital de Programação do Teatro Novelas Curitibanas da Fundação Cultural de Curitiba.


Últimas apresentações nesta semana no Teatro Novelas Curitibanas

Quinta à Sábado 21h e Domingo 19h.

O Ingresso é uma lata de leite em pó.

NÃO PERCA. CHEGUE CEDO AO TEATRO

Indicação de MELHOR ATOR para Andrew Knoll para o Troféu Gralha Azul.

Direção Paulo Biscaia Filho
Direção Musical :Gilson Fukushima
Produção : Tânia Araujo
Iluminação : Wagner Correa
Cenário e Figurinos: Paulo Vinicius
Adereços:Thiago Di Giovanni
Arte do Cartaz: José Aguiar
Foto : Andrea Paccini

Estrelando:

Andrew Knoll - Charles Manson
Leandro Daniel Colombo - Roman Polanski
Carolina Fauquemont - Sharon Tate
Wagner Correa -Jay Sebring
Michelle Pucci -Leslie van Houten
Marco Novack - Tex Watson
Rafaella Marques- Susan Atkins
Ana Clara Fischer -Patricia Krenwinkel

Impróprio para menores de 18 anos

MAIS INFORMAÇÕES:


Teatro Novelas Curitibanas

Rua Carlos Cavalcanti,1222
São Francisco
Telefone: (41)3213-7525

Núcleo de Dramaturgia entrega certificados e comemora novos dramaturgos

Roberto Alvim fala no último encontro de 2009 da Oficina de Dramaturgia

Bárbara Lia, Cynthia Becker, Douglas Daronco, Cláudia Brito e Nana Rodrigues
Anna Zétola e Eliane Karas
Rosana Stávis e Júlia Stávis Damaceno

Os integrantes dos grupos da tarde e da noite da Oficina Permanente de Dramaturgia do Nùcleo de Dramaturgia patrocinado pelo SESI Paraná receberam, na noite de ontem (dia 16 de dezembro de 2009) no Teatro José Maria Santos, em Curitiba, seus certificados de participação na oficina que foi comandada pelo autor e diretor Roberto Alvim. A oficina foi realizada, a partir de abril, com encontros quinzenais, teve 72 horas de duração, em 18 encontros, e seus 28 participantes escreveram e entregaram 28 textos dramatúrgicos.

Após a entrega dos certificados, onde falaram Marcos Damaceno, que coordena o Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, Anna Zétola, coordenadora de Cultura do SESI Paraná, Roberto Alvim e alguns dos participantes da Oficina Permanente, a alegria e o entusiasmo de todos era muito grande e só não foi maior porque foi transferida para hoje - provavelmente até o final da tarde - a divulgação dos trabalhos - 10 ou 15 - que serão publicados em livros, o texto que será montado e dirigido pelo próprio Roberto Alvim, e os textos que terão leituras dramáticas, tudo isso que vai acontecer na segunda quinzena de março de 2010 durante a realização do Festival de Teatro de Curitiba, onde o SESI Paraná irá desenvolver uma programação totalmente focada para divulgar seu Núcleo de Dramaturgia.

Foi anunciado, também, que o Núcleo de Dramaturgia, em 2010, vai dar continuidade a sua Oficina Permanente de Dramaturgia, desta vez com duas turmas: uma para iniciantes e a outra para os participantes que concluíram a oficina realizada em nove meses de 2009.

Fotos da comemoração da Oficina de Dramaturgia

Douglas Daronco, Cláudia Brito e Nana Rodrigues

Paulo Lissa, Eberson Galiotto (Preto), Patrícia Kammis, Angélica Rodrigues e Max Reinert

Andrew Knoll, Cléber Braga e Sabrina Lopes

Roberto Alvim, Andrew Knoll, Sabrina Lopes, Cléber Braga e Luciana Narciso

Roberto Alvim, Patrícia Kammis e Eberson Galiotto (Preto)

Fotos da comemoração da Oficina de Dramaturgia

Humberto Gomes e Cláudia Brito

Max Reinert, Paulo Lissa e Bárbara Lia

Renata Klos e Alexandre França

Marcelo Bourscheid e Bárbara Lia

Patrícia Kammis e Cynthia Becker

Comemoração da Oficina de Dramaturgia - fotos

Rogério Viana, Otávio Linhares, Marcos Damaceno e Lígia Oliveira

Pagu Leal, Marcos Damaceno e Otávio Linhares

Anna Zétola, Rosana Stávis e Marcos Damaceno

Marcelo Bourscheid, J. D. Baggio e Paulo Renato

Luciana Narciso (ao fundo), Angélica Rodrigues e Max Reinert

Fotos da comemoração da Oficina de Dramaturgia

Tuiuti, Roberto Alvim e Rogério Viana

Sabrina Santos, Cléber Braga e Max Reinert

Rogério Viana e Roberto Alvim

Cléber Braga, Roberto Alvim, Andrew Knoll e Sabrina Lopes

J.D. Baggio e Nana Rodrigues

Fotos da comemoração da Oficina de Dramaturgia

Cynthia Becker, Bárbara Lia, Roberto Alvim, Douglas Daronco, Cláudia Brito e Nana Rodrigues

Lígia Oliveira e Andrew Knoll

Cynthia Becker, Roberto Alvim, Eliane Karas e Cláudia Brito

Roberto Alvim, Anna Zétola, Marcos Damaceno e Tuiuti

Cláudia Brito, Rosana Stávis e Eliane Karas

Comemoração da Oficina de Dramaturgia - fotos


Cynthia Becker, Anna Zétola, Rogério Viana e Eliane Karas

Júlia Stávis Damaceno e Otávio Linhares

Sabrina Lopes e Cléber Braga

O SESI Paraná ofereceu um coquetel

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Otavio Linhares: o núcleo é feito de complementaridades

No intervalo de um encontro, Lígia Oliveira lê um texto para Otávio Linhares



Depoimento sobre o Workshop com o Samir Yazbek:

- de uma certa forma, samir conseguiu estruturar um ano de trabalho. como se deus escrevesse certo em linhas tortas, começamos o ano com a marici salomão que teve a missão de despertar em nós o sentido da dramaturgia enquanto estudo e técnica e paixão. seguido dela, apareceu em nossas vidas o tal do alvim, provocador, irrequieto, instigando em nós a necessidade de escrever dramaturgias. o abreu veio depois e provou por mais A + B (parodiando suas fórmulas dramatúrgicas) que dramaturgo no brasil pode sim ganhar dinheiro e ser feliz. e no fim da história, nos aparece o tal do samir. uma pessoa já consagrada no meio, com prêmios e traduções para várias línguas, que mostra a independência da técnica em detrimento da idéia, ou seja, o cara nos mostrou que dá pra fazer dramaturgia "de qualquer jeito" sem perder a estrutura de mente. isso me motivou bastante a escrever, pelo motivo de que realmente ainda me faltava um estalo e ele foi dado pelo samir. essa história de estrutura dramatúrgica com elementos que se encaixam numa ordem que reside dentro de cada um, mas que tem um fim comum que é a contação de história, pode ser algo banal e batido, mas na minha cabeça ainda não tinha batido. nesse sentido, acredito que o samir foi importante para todos nós, pois enquanto falava durante os três dias ele nos permitia momentos de reflexão sobre o que estava sendo dito, o que de certa forma racionalizava a teoria alí, enquanto ainda estávamos no debate.
sem mais delongas, a importância do samir no núcleo reside exatamente na importância do alvim, da marici e do abreu. o núcleo é feito de complementaridades e isso o torna tão forte e indispensável, hoje, no cenário dramatúrgico paranaense, quiçá, brasileiro, em breve.

abraços,

otavio linhares.


As ambiguidades de um certo homem ambíguo em torno do seu próprio umbigo

Pois é, nem eu bem acabara de atualizar meu inventário de textos escritos este ano dentro do que pode-se chamar de dramaturgia, havia me esquecido que um certo texto, iniciado em setembro, estava esperando uma revisão e as duas últimas páginas. Terminei o inventário e peguei as páginas para reler e revisar. Na sequência, completei as páginas restantes, agora pela manhã. Talvez inspirado pelo lindo sol que já batia na janela do meu apartamento no décimo terceiro andar perto das 7h10. E assim, hoje, dia 16 de dezembro - nossa, o Natal está aí! - concluí o texto "Homem ambíguo em torno do próprio umbigo". É bem interessante quando a gente passa a refletir em torno do próprio umbigo e olhando, porém, com outros olhos. Tudo fica ainda mais interessante quando percebemos que nosso olhar pode ser um outro olhar, se enxergamos num outro gênero, como se fôssemos mulher. Esta, por sua vez, enxergando também sobre a perspectiva do seu próprio umbigo. Assim, a visão do homem, da mulher, do umbigo dela e do umbigo dele é que nos dá uma visão muito ambígua, porém particular, do que podemos enxergar e refletir. Um auto reflexo, está bem claro, mas ele, um reflexo que volta com um sinal trocado, trocando de gênero, pode ser mais, pode ser menos, pode ser positivo, negativo também.

Então, vai lá uma fala de "Homem ambíguo em torno do próprio umbigo", com o personagem "Um Homem":

(...)

Bem... o que virá depois vocês já sabem...
Acho que sabem, não é? O que estou
fazendo aqui, afinal de contas? Pra que
serve essa coisa que me deixa preso aqui.
Parece confortável o ambiente, mas estou
preso, tenho pressa, mas estou preso,
preciso acostumar com esse balé, essa
dança que vou fazer aqui nessa coisa
aquosa onde sou obrigado a nadar. A
engolir, a respirar como peixe. Mas não
sou peixe, não tenho guelras, mas respiro
esse líquido aquoso que entra pela minha
boca, invade meus pulmões. Ainda não
tenho pulmões? Nem coração? Então, nem
cérebro? Ué, mas como estou pensando?
Que porra é essa? Que porra é essa,
afinal?

Mais adiante, uma fala de "Uma Mulher":

(...)

Na verdade, agora, aqui, você está
crescendo na minha barriga, colado na
parede do meu útero, se alimentando do
meu sangue. Você que é meio sangue meu
e meio sangue dele. Você, se alimentando
do meu sangue. Crescendo a cada
segundo, milionésimos de milímetros por
segundo. Um sanguinho aqui, um
pedacinho de uma célula que se
transforma em osso, em cérebro, em
coração, em um estômago, num pedaço de
bunda, num punhado de cabelo, num olho.
Será azul, como o meu? Ou o cabelo será
crespinho como o dele... Nem deu para eu
ver se o pentelho dele é enroladinho como
seu cabelo. Ah, o meu, loirinho, é bem
escasso e liso. Não é enroladinho, não é
mesmo. É ralo e lisinho. Delicadamente
loirinho.
Como será que vai ser o rosto do bebê que
está agora crescendo em minha barriga?
Como será que ele vai se chamar? Será
menino, ou menina? Lúcia, Lúcio, Dirce ou
Dirceu, Mário ou Marina, Luiz ou Luiza,
Rudney ou Rudnéia, Natálio ou Natália...
Natálio? Logo... bem, acho que vai nascer
próximo do Natal... pode ser mesmo
Natália ou Natálio...! Mas que nome mais
estranho! Bem, o que vier, virá! O médico
disse que em poucas semanas o bebê vai
nascer. Mas não quero saber, antes se
será menino ou menina. Não quero saber.
Só quero é que tenha saúde.

(...)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Vocês que habitam o tempo

Para vocês que habitam o tempo, o espaço, os palcos, as coxias, os ensaios, a preparação dos figurinos, dos cenários, a escolha do elenco, a direção, a sonoplastia, a trilha sonora, a iluminação, a produção, os textos, meus cumprimentos e minha admiração pelo que fazem. A todos vocês e aos integrantes do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, coordenado pelo Marcos Damaceno, ao Roberto Alvim, orientador da oficina permanente de dramaturgia, e a Ana Zetolla, que coordena atividades culturais do SESI Paraná, meus agradecimentos pela paciência e pela oportunidade que me propiciaram de integrar e participar das atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Dramaturgia a partir de abril deste ano no Teatro José Maria Santos.

Ao conseguir minha participação na turma da tarde da oficina coordenada pelo Roberto Alvim, realizei parte de um acalantado sonho e assumi um compromisso de estudar muito, dedicar-me exclusivamente a todas as atividades que seriam desenvolvidas e, também, retribuir a oportunidade com meu esforço e com a possibilidade de escrever muito, muito mesmo, de exercícios a textos teóricos, e, também, textos, novas peças. E foi o que fiz e que, neste momento em que as atividades do Núcleo de Dramaturgia patrocinado pelo SESI Paraná encerra seu primeiro ano de muito trabalho, presto contas do que fiz e até como forma de provar que as "minhocas" plantadas em minha cabeça pelo Roberto Alvim e por todos os outros profissionais, brasileiros ou da Inglaterra e da Escócia, que aqui vieram transmitir seus conhecimentos em palestras e workshops, foram eficazes e que acabaram revolvendo um certo lado do meu cérebro que passou a responder com personagens, situações, funções dramáticas e cinco peças que consegui escrever em nove meses de trabalho. Foram elas: Manhas, Mutretas e o Escambau; Cinco Cafés e Algumas Gotas de Afeto; Daysi; Parent(es)is e Eu avec Você. No mesmo período consegui traduzir um texto teórico do espanhol José Sanchis Sinisterra (Narraturgia) e da autora argentina Susana Lastreto, que mora em Paris, traduzi a peça "Parejas", que é "Casais" em português. Também reescrevi uma peça que havia escrito em 2003 (Das Razões do Nosso Medo), quando trabalhava numa editora universitária na cidade de Salvador, na Bahia.

A todos os meus colegas da oficina de dramaturgia - em especial à Eliane Karas, ao Douglas Daronco, a Cláudia Brito e Cynthia Becker - meus sinceros agradecimentos pelas leituras e comentários sobre meus textos e pela paciência com meus trabalhos que inundaram nossos encontros a partir de abril passado.

Hoje, no penúltimo encontro com o Roberto Alvim, achei que uma forma de agradecer era citando alguns trechos de diálogos do autor francês Valère Novarina na peça "Vocês que Habitam o Tempo" e onde a personagem "A Criança das Cinzas" dialoga com "O Vigia":

O Vigia - Nome inscrito nos olhos que você tem nos olhos: João Veto.

A Criança das Cinzas - Por favor, me passe o meu cadáver!

O Vigia - Recue! Avance!... Você fica com dor nos olhos quando fecho os meus? Se sim diga não, se não diga desde qNegritouando você não me vê mais.

A Criança das Cinzas - Diga primeiro se meu nome é realmente João Veto ou se não. Se não for, me afirme. Risque em nulo se não for o caso.

O Vigia - Teu nome verdadeiro deve ser calado.

A Criança das Cinzas - Será que a minha boca cabe bem nessas palavras?

(trecho na página 157 do livro de Valère Novarina, tradução de Angela Leite Lopes e publicada pela Editora 7 Letras, Rio de Janeiro)

As palavras que não cabem em minha boca, que nasceram em minha imaginação, que foram provocadas pelos ensinamentos do Roberto Alvim, que passaram pelo teclado do meu computador, que ganharam uma forma dramatúrgica, que foram encaminhadas à Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro para registro, agora querem ganhar voz na boca de atores e atrizes. E é com essa disposição que invadirei 2010 para buscar a outra parte do meu sonho que em 2009 consegui completar importante pedaço.

Um forte abraço a todos "Vocês que habitam o tempo", o espaço, as coxias, os ensaios...

Rogério Viana



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Criando personagens - O processo de Enéas Lour

Antes mesmo de começar a escrever uma peça, a primeira coisa que eu faço é criar o título e o cartaz. Aí eu fico imaginando que peça seria aquela, com aquele cartaz. Depois, bem devagar, começam a vir os nomes das personagens. Faço uma lista e ... de repente (nem sempre, mas, quando "dá certo") ... elas aparecem!
Uma a uma numa fila, elas, as personagens, aparecem. Põem a cara na porta ou na vidraça da janela e depois vão entrando na página branca e começam a se mostrar para mim. Às vezes elas tentam me enganar e mentem um monte! Mas, com o tempo aprendi a decifrar essas mentiras. Então eu vou despindo as personagens e vestindo nelas as roupas que me parecem ser delas, as falas, as cores, os cacoetes de cada uma, os olhares, os medos, os orgulhos, os desencontros ... até vê-las vir se sentar e tomar café comigo ou fumar um cigarro e conversar sobre o que elas acham de tudo no mundo, ou então, vê-las só se embalar na cadeira de balanço da varanda sem me dizer mais nada.
É bom!

Enéas Lour - em seu blog http://eneaslour.blogspot.com/

Amanhã tem encontro com o Roberto Alvim

Roberto Alvim participa dos dois últimos encontros em 2009

Amanhã (dia 15) e quarta-feira (dia 16) acontecem os dois últimos encontros de 2009 dentro da Oficina de Dramaturgia sob o comando de Roberto Alvim. Na terça-feira, será dada continuidade na leitura e comentários sobre os exercícios que os participantes desenvolveram sob a temática da "transmigração de consciência" e "transmutação do sujeito". O encontro será no Teatro José Maria Santos.

Já no dia 16, na sala de ensaios do Marcos Damaceno, serão apresentados os novos projetos que serão desenvolvidos a partir de 2010, no segundo ano de funcionamento da Oficina de Dramaturgia que é patrocinada pelo SESI PR dentro do seu Núcleo de Dramaturgia. Após a apresentação dos novos projetos vai acontecer uma confraternização, com "amigo secreto" - os presentes deverão ser livros sobre dramaturgia e teatro.