quinta-feira, 11 de março de 2010

Escrevinhando

Escrevinhando: inesperados resultados numa praça

Numa praça pública, um mendigo, um gari, uma cigana e uma moça caipira perdida. Cenário trivial do cotidiano. Humor, simplicidade e o amor na sua forma mais pura, embalados por uma deliciosa trilha musical ao vivo.


Escrevinhando conta as aventuras do ingênuo e analfabeto João Batista, ex-lavrador que, iludido pela idéia de que na cidade grande ganha-se a vida com mais facilidade, deixa sua terra e a noiva esperando e vai tentar a sorte na capital. Mas ele logo descobre que a vida na cidade é mais difícil do que pensara e acaba virando mendigo; Conhece o gari José de Jesus, a quem pede ajuda para escrever uma carta à noiva que não vê há cinco anos. Da ingenuidade e ignorância de um, esperteza e boas-intenções do outro, surgem inesperados resultados.


Elenco:

Ronald Pinheiro

Fernanda Rocha

Luiz Reikdal

Trilha musical de Beto Collaço e Michel Wilian

Texto: M.Z. Zakrzewski

Direção: M.Z. Zakrzewski e Ronald Pinheiro

Produção: Master Encena


Informações: (41) 9113-3929

m.z.zaker@hotmail.com


www.masterencena.blogspot.com


SERVIÇO
Datas:
17/03 - 15:00, 18/03 - 18:00, 19/03 - 21:00, 20/03 - 12:00
Gênero: Comédia
Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00
Local: Museu Oscar Niemeyer

quarta-feira, 10 de março de 2010

Curiosidades sobre "Alice No País das Maravilhas"

Montagem que fiz com os personagens
do filme e com o próprio Tim Burton

Quando Lewis Carroll (pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson) acertou com o editor Alexander Macmillan, em 1864, para publicar o livro “Alice no País das Maravilhas”, discutiram quem poderia ilustrar o livro, cujo original tinha desenhos do próprio Lewis. Foi apresentado a ele o ilustrador da revista Punch, John Tenniel. Era o estilo de desenho que ele desejava. O livro inicial tinha outro título, menos páginas e Lewis, ao conversar com Tenniel decidiu amplia-lo, mudando, de imediato o seu nome de “As Aventuras de Alice sob a Terra” para “Alice no País das Maravilhas”, com o dobro das páginas iniciais.

Lewis levou a sério a idéia de ampliar seu livro. Foi assim que “a história do Rato ficou bem diferente, o Chá Louco não existia antes e a cena do julgamento, no final do livro, que ocupava duas páginas na primeira versão, foi transformada em dois capítulos de 26 páginas”, segundo revela Morton N. Cohen, autor de “Lewis Carrol – Uma biografia”, publicado pela Editora Record em 1998 (669 páginas). O exemplar eu comprei numa liquidação das Livrarias Curitiba, bem baratinho, no ano passado.

Os primeiros dois mil livros que foram publicados em junho de 1865 não agradaram nem a Lewis nem a Tenniel. Mesmo arcando com o prejuízo de 600 libras esterlinas, Lewis que financiara a primeira edição, recolheu todos os livros (hoje eles valem verdadeiras fortunas) e mandou para outra gráfica imprimir outros dois mil exemplares.

A venda foi espantosa. Em 1898, ano da morte de Lewis Carrol, a Macmillan colocara no mercado mais de 150 mil exemplares de “Alice no País das Maravilhas” e mais de cem mil de “Alice Através do Espelho”, a continuação da saga daquela menina aventureira.

Tenniel fazia "cartoons" políticos na revista inglesa Punch. Ele obrigou Lewis Carrol a eliminar um capítulo do livro "Alice Através do Espelho" porque, ao tentar ilustrá-lo, decidiu que "um marimbondo de peruca é algo que está completamente fora do domínio da arte", segundo Cohen.

O filme de Tim Burton chega ao Brasil no próximo mês. Em recente entrevista, Tim Burton diz que seu “Alice” não é uma alegoria sobre a volta à infância, nem um filme para crianças. Para ele, o interesse é explorar histórias nas quais os personagens compreendem a vida a partir de um ponto de vista novo e estranho. Assim, Burton interpretou os personagens de Lewis Carrol com esse “novo e estranho ponto de vista”. Os personagens de Burton no filme nasceram da leitura do diretor sobre os desenhos originais de Tenniel, respeitando o espírito dos personagens que se transformaram em autênticos ícones.


INFORMAÇÕES ÚTEIS

(ou guia para quem é mais curioso do que eu)

Pesquisei sobre o livro com a biografia de Lewis Carroll e o site da Livrarias Curitiba indica que o preço agora é sob consulta.

Aqui, um pouco sobre o livro de Morton N. Cohen editado pela Record.

Sobre John Tenniel e suas ilustrações da primeira edição de "Alice No País das Maravilhas", veja aqui.


terça-feira, 9 de março de 2010

A fila anda...

Como foi que o senhor entrou aqui?

- O senhor acredita mesmo nisso tudo?
- Se não acreditasse, não estaria aqui, não é?
- Mas o senhor veio por onde? Como entrou aqui?
- A porta estava aberta. Ninguém impediu. Fui entrando. Estou aqui.
- E a senhora, veio com ele?
- Quem? Eu?
- Sim, a senhora. A senhora que está de blusa verde...
- Responda, mulher...
- Você mandou eu não dizer nada...
- Mas, senhora, então estão juntos...
- Quem?
- O senhor... e a mulher de blusa verde.
- Eu, eu não... cheguei aqui sozinho.
- Mas você não disse para ela responder?
- Disse, claro que disse. Mas eu disse para ela responder. Foi só isso.
- Se disse é porque a conhece...
- Eu não conheço esse senhor, não. Nunca o vi nem mais gordo, nem mais magro.
- Mas, senhor, senhor... Estão juntos ou não?
- Quem?
- A mulher de blusa verde e o senhor...
- Eu vim por minha vontade. Não sou de seguir quem não conheço...
- Senhor, por favor, vamos esclarecer as coisas de uma vez por todas, está bem?
- Para mim, já está definido. Estou aqui porque a porta estava aberta.
- Para mim, também. Vim até a porta, pela calçada. E entrei.
- Assim, sem mais nem menos?
- É preciso convite para vir até aqui?
- Bem, não é preciso convite. É preciso autorização... e me parece...
- Não me interessa o que lhe parece...
- Como assim?
- Assim, como você disse...
- Mas eu disse que é preciso autorização...
- Espere... acredita mesmo que eu me daria ao trabalho de pedir autorização?
- O senhor é muito folgado, me parece...
- Folgado, folgado como? Isso não é coisa que uma mocinha bem educada diz para uma pessoa mais velha...
- O senhor não me parece um homem mais velho... Parece que é mais novo que meu pai...
- Como assim, como seu pai?
- Meu pai tem 50 anos e o senhor não aparenta mais que 40... me parece...
- Veja, só... agora a mocinha está querendo se apegar na questão da idade, das aparências...
- Eu não estou falando com a senhora, por favor. Um de cada vez, está bem?
- Está bem, como? Não está nada bem...
- Deixe a mocinha falar. Afinal, ela é quem está do outro lado do guichê...
- Que guichê? O senhor está confundindo tudo...
- Quem?
- O senhor...
- Senhor é Deus... ou seu pai...
- Eu sou apenas um consumidor.
- Eu também.
- O quê?
- Sim, sou um consumidor.
- Eu também.
- Mas... Chega! Como o senhor entrou aqui?
- Ué, já disse... pela porta.
- Isso, o senhor já disse. Eu quero saber como o senhor entrou aqui. Como, no sentido de com que autoridade veio até aqui, com autorização de quem?
- Menina. Quer parar de tanta pergunta.
- Sim, concordo com ele...
- Acho melhor você falar quando for sua vez...
- De novo? Já não basta lá em casa...
- O quê? Na sua casa também, não lhe deixam falar?
- Sim... Não, não me deixam...
- Por favor, por favor...
- Está bem, um de cada vez... Primeiro eu que cheguei primeiro.
- Vamos, estou perdendo muito tempo...
- O quê? Eu sou um consumidor e tenho meus direitos.
- Está bem, vou respeitar seus direitos.
- Vamos... vamos logo resolver a questão...
- O senhor pode dizer a que veio?
- Eu não sei a que vim, mas sei como vim... Foi caminhando...
- Posso falar?
- De novo?
- Sim, pode... diga...
- É aqui que estão precisando de uma faxineira?
- Como?
- Faxineira...
- Mas a senhora...
- Eu o quê?
- Aqui é um teatro, senhora.
- Ah, é mesmo? Que bom... e vocês não fazem faxina aqui de vez em quando?
- Faxina, como?
- Limpeza, varrer, tirar o pó, passar cera, lustrar, lavar... desinfetar...
- Nós temos uma equipe própria... Não contratamos diaristas...
- E você agora só vai falar com ela? Estou na frente, se esqueceu?
- Ah, sim... eu estava atendendo o senhor. E daí?
- Daí o quê?
- O que o senhor quer, afinal de contas?
- A mocinha disse que aqui é um teatro... é mesmo?
- É sim, o senhor não percebe que estamos em pleno ensaio...
- Ensaio, como?
- O senhor não percebe que veio atrapalhar toda nossa concentração...
- Concentração? Ué, aqui é teatro ou time de futebol?
- Nossa! É mesmo... estamos num palco, nem percebi... Mas, fale a verdade, não precisam mesmo de uma faxineira?
- Senhor! Senhor! Quer dizer a que veio?
- Eu me confundi todo... pensei que aqui fosse a fila do INSS... e fui entrando, fui entrando... esperando a minha vez...
- Mas não tem fila nenhuma lá fora. E ...
- O quê, como não?
- Viu só como chegou mais gente agora?
- Quem, que gente?
- Bem, a mocinha não enxerga nada mesmo, não é?

O olhar e o ouvir

Aprenda a olhar e a ouvir. Ouvir e olhar
sempre ajuda a escrever melhor.

Quem fotografa desenvolve seu olhar. O olho fica mais atento e o dedo ganha agilidade e precisão. Quem fotografa aprende a enxergar o que pode passar sem despertar a mínima atenção de quem não se habituou a olhar através do visor de uma câmara fotográfica. É preciso ter uma boa câmara para fazer uma boa foto? Uma boa câmara, claro, sempre ajuda, mas a boa fotografia nasce pelo olhar e não pelo equipamento. Se o olhar for preciso, a foto sairá boa. Se o olhar se prestar a descobrir novos ângulos, o enquadramento será facilitado. O resultado é que somente o olhar faz uma boa fotografia. Com ou sem equipamento sofisticado.

Quem escreve desenvolve sua audição. O ouvido fica mais atento e registra tudo com agilidade e precisão. Quem escreve aprende a ouvir o que pode passar sem despertar a mínima atenção de quem não se habituou a ouvir através de seus ouvidos e de todo seu corpo. É preciso ter ouvido absoluto para fazer um bom texto? Um bom ouvido, claro, sempre ajuda, mas um bom texto nasce pelo que se ouve e não por onde se ouve. Se o ouvido for preciso, o texto sairá bom. Se o ouvido se prestar a descobrir sons inaudíveis, o bom texto será facilitado. O resultado é que somente o ouvido faz um bom texto. Com ou sem um ouvido absoluto.

Quem escreve tem que desenvolver seu olhar e seu ouvido. E juntar com precisão o que o olhar registra e o que o ouvido confirma. O que o olhar indica e o que o ouvido percebe. O que o olhar procura e o que o ouvido atinge. Quem escreve tem que desenvolver sua audição e sua visão. Ouvir as vozes que estão soltas no ar e enxergar os personagens escondidos em cada sussurar.

Seria uma receita? Não. Não existe receita para escrever. Mas quem afinar seu ouvido e calibrar sua visão, vai, sim, poder escrever de um jeito todo particular. Apenas tem que desobstruir o olho e ouvido e contectá-los diretamente ao seu coração. O resultado é a emoção pura, sem bloqueios ou filtros. Pura imagem e som cristalino.

Deixe-se envolver. Veja, ouça, sinta-se invadido e deixe fluir imagens e personagens, vozes e sons, histórias e suas verdades.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Frases de um certo dia

Casa onde morou Anita Garibaldi, em Laguna (SC) - set/2007

Em 8 de março de 2007 escrevi o texto abaixo como homenagem ao Dia Internacional da Mulher. É um texto em forma de frases soltas, alguns até parecem títulos de matérias de jornal. O contexto ainda tinha Bush, o forte calor, as chuvas - não tão intensas quanto as de hoje - era quinta-feira, hoje é segunda, os campeões são outros, os juros agora são maiores, as leis para os bandidos afrouxaram já que bandidos e réus confessos foram absolvidos pela morte de um bombeiro em São Paulo, em algum lugar uma menina rica, hoje, está se apaixonando por algum bandido. A luta dos políticos por ministérios continua. Ainda mais que teremos eleição presidencial e para governadores, deputados e senadores este ano. Será um pega pra capar. O PT está sendo envolvido no escândalo do Bancoop, em São Paulo. No BBB 10, o machão enfrenta o menino bonito e burro e não para de agredir o diferente. É um duelo sulista, um gaúcho valentão e metido a besta, contra um londrinense que fica bonito com sua peruca rosa e um goioerense malhadinho, sim ambos do Paraná. E por aí vai. Mas as frases sobre as mulheres continuam as mesmas, a não ser uma, lá em Los Angeles que venceu a corrida pelo Oscar de melhor direção e, infelizmente, ganhou com um tema tão "idiota e machista", a guerra. Mas ela ganhou e quebrou um paradigma. A frase dela poderia ser.

Mulher ganha o Oscar com a guerra.

Então vai... minhas frases de um certo dia. O dia internacional da mulher.



FRASES DE UM CERTO DIA

Hoje é um dia como outro qualquer.
Uma quinta-feira, do mês de março.
Estamos no Brasil e faz muito calor.
Chove no nordeste, no sul também.
São Paulo vai receber mister Bush.
Câmara quer leis duras a bandidos.
Nosso álcool é tema de negociação.
No Rio, o Flamengo ficou campeão.
Menina rica se apaixona pelo crime.
No BBB7, um clima de muita fofoca.
Balas perdidas têm endereço certo.
Policiais apreendem carga roubada.
Políticos lutam por mais ministérios.
Taxa de juros cai um pouco: 0,25%.
Agricultura terá crescimento recorde.
Uma mulher levanta hoje mais cedo.
Uma menina sonha com o estrelato.
Uma senhora espera por uma carta.
Aquela mãe quer seu filho de volta.
Outra não faz nada além de chorar.
Uma amou muito na noite passada.
Muitas tentam lembrar dos amores.
A cantora italiana diz não ter idade.
A mulher lembra da antiga canção.
Uma mensagem veio de tão longe.
Contas e mais contas para pagar.
Mais entrevistas para o emprego.
O namorado se esqueceu do dia.

Hoje é um dia como outro qualquer.
Uma quinta-feira, do mês de março.
Homens não sabem que dia é hoje.
Os meninos são levados à escola.
A mulher prepara uma nova tese.
Outra espera pelo novo emprego.
Uma sente dores na sala de parto.
Outra já amamenta o rosado bebê.
A professora sorri para o aluninho.
Vovó prepara a lancheira da menina.
Na farmácia sai um teste de gravidez.
Na sacola ela leva mais absorventes.
Aquela roupa nova ficou mais bonita.
A calça jeans não fecha mais o zíper.
Mais trabalhos para o professor chato.
O amor da menina por aquele ruivinho.
A mãe jovem e outro filho na barriga.

Hoje é um dia como outro qualquer.
Uma quinta-feira, do mês de março.
Na rodoviária, sacolas e esperança.
No supermercado faz falta dinheiro.
A mulher sonha com a Mega-Sena.
Outra quer apenas reconhecimento.
A velha atravessa a rua com a neta.
A bala perdida matou outra jovem.
Muitos sonhos também morreram.
Outros sonhos começam a nascer.
Amor verdadeiro não sai de moda.
Uma se chama Maria, outra Lívia.
Uma é Aspásia, outra Bernadeth.
Uma se chama Cleusa, outra Íris.
Lá vai indo a Patrícia e seu gato.
Naquela fila só tem Maria Tereza.
Na outra, são apenas Rosângelas.
A Vera, também Maria, está na fila.
No final da fila apareceu a Zenaide.
No meio da fila surge uma Mariza.
Lá bem distante vai a tal Cleonice.
Chega sorridente a loira Rosicler.
O que esta outra quer é a Marinez.
Rosana ri quando fala das ameixas.
Aquela outra chorou pelo seu amor.

Hoje é um dia como outro qualquer.
Uma quinta-feira, do mês de março.
Hoje é o dia internacional da mulher.
E hoje é um dia tão lindo e diferente.
Dia da gente beijar quem nos ama.
Quem a gente imaginou nunca amar.
E amor, neste dia é o que não faltará.

Rogério Viana
8 de março de 2007, em Curitiba - PR
Rogério Viana
Publicado no RECANTO DAS LETRAS em 08/03/2007


domingo, 7 de março de 2010

Lennon e o anti retrô da Citroën

John Lennon no comercial da Citroën: Viva sua vida agora.

Mesmo morto, John Lennon gera polêmica. Infelizmente, mesmo morto. Nos últimos dias Lennon retorna a uma polêmica por conta de um comercial de TV, veiculado na Inglaterra e que é propaganda de um carro francês da marca Citroën. O polêmico comercial de TV do DS3 da Citroën que está gerando críticas de fãs dos Beatles e de John Lennon pode ser visto aqui.

Diz Lennon no comercial: "Depois que uma coisa foi feita, ela foi feita, então por que essa nostalgia toda - que dizer pelos anos 1960 e 1970, sabe, buscando inspiração no passado, copiando o passado - de que maneira isso é rock´n´roll?. Crie alguma coisa própria. Comece alguma coisa nova, sabe como? Viva sua vida agora. Sabe o que eu quero dizer?"

Sobre o comercial, Sean Lennon comentou em sua página do Twitter que sua mãe - Yoko Ono - não autorizou a utilização da imagem de Lennon por dinheiro. "Teve a ver com a esperança de manter meu pai vivo na consciência pública. Não há mais LPs novos, então o comercial de TV é exposição dele junto aos jovens", disse Sean. Depois: "Tendo acabado de ver o comercial, entendo por que as pessoas estão furiosas. Mas a intenção não foi financeira, foi simplesmente querer que ele continue ai fora no mundo", completou.

Será mesmo que um ex-Beatle poderá ser esquecido? Ainda mais, John Lennon?

Eu me lembro muito bem do dia em que Johnn Lennon foi assassinado. Eu morava em Piracicaba, interior de São Paulo, e no dia 9 de dezembro de 1980, pela manhã (era uma terça-feira) meu filho Rafael, então com quatro anos, foi até o meu quarto e me acordou dizendo: "Pai, pai, o João Lenos morreu!". Ele acordara mais cedo, ligara a TV Globo e vira a notícia. Ainda sonado, perguntei: "O que, quem morreu?". E ele, "pai, pai... o João Lenos morreu". Levantei e fui ver a notícia que ainda estava sendo comentada. Sim, John Lennon havia mesmo sido morto na noite anterior, em Nova York, perto das 23 horas, no corredor de acesso ao edifício Dakota, onde morava. Aos 40 anos.

O interessante dessa história toda é que Lennon - com ou sem polêmica - nos ensina: "Crie alguma coisa própria. Comece alguma coisa nova, sabe como? Viva sua vida agora. Sabe o que eu quero dizer?"

Mas é possível criar alguma coisa nova sem que ela possa, de alguma maneira, vincular-se ao passado? Vivemos agora, o tempo é hoje, o momento em que escrevi isso e agora, quando você lê, já ficou no passado. Será que coisas novas são apenas novos modelos de carros? Um outro poeta, numa canção também antiga, brasileira, já dizia: "Recordar é viver, ontem sonhei com você". Pois é. Sempre eu me lembro do John Lennon, de suas músicas, de sua irreverência, de sua verve irônica. Das suas mensagens que só aparecem no subtexto, nas entrelinhas... O que você tem mais a nos dizer, John Lennon?