sexta-feira, 28 de maio de 2010

O menino que sonhou voar: Albertinho e o céu de Paris

O figurino de "Sobrevoar" é criação de Maureen Miranda
(foto de Lauro Borges)

Atores, diretora e equipe técnica de "Sobrevoar"
(foto de Lauro Borges)

Simão Cunha, Moira Albuquerque, Negra Silva e Felipe Custódio
(foto de Lauro Borges)

Felipe Custódio, Negra Silva, Simão Cunha e Moira Albuquerque
(foto de Lauro Borges)

A Cia. do Abração, de Curitiba, estreará em 12 de junho de 2010, às 20h00, em sua sede, “SobreVoar”, sua nova montagem teatral que fala do menino Albertinho, seus sonhos, medos, desafios, obstáculos, persistência, coragem e as realizações que o levaram ao céu de Paris, cidade que o reconheceu como Santos Dumont, um brasileiro inventivo e destemido. O espetáculo será apresentado na sede da Cia. do Abração, no Bacacheri, aos sábados e domingos até o dia 8 de agosto. Durante este período, em dias e horários letivos, o espetáculo será apresentado conforme agendamento prévio, com escolas de Curitiba e foi produzido com o apoio do PAIC - Programa de Apoio e Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural de Curitiba, da Prefeitura de Curitiba.

“SobreVoar” mostra Santos Dumont criança, na figura do menino Albertinho Dumundo. Ele, como tantas outras crianças, é apresentado como um menino que vive numa dimensão atemporal onde os desafios e os obstáculos aparecem em sonhos que se tornaram realidade após muitas tentativas, quedas e a coragem de recomeçar e de persistir. De acreditar que sempre é possível realizar seus sonhos mesmo quando as dificuldades aparecem instransponíveis ou irrealizáveis.

Os personagens habitam um espaço imaginário que pode ser, ao mesmo tempo, um hangar, uma oficina de criação, uma sala de estudos, em que se transformou o quarto do imaginativo menino Albertinho, sempre cercado por livros, dúvidas, sonhos e maravilhosas idéias em projetos mirabolantes.

Entre travesseiros, edredons, chapéus, abajur e uma mágica cama, o menino recebe a visita e dialoga com instigantes personagens: os “Engenheiros do Sonho”, uma improvável lagarta que sonha voar até a lua e as figuras desafiadoras da “Dúvida”, da “Curiosidade”, da “Auto Estima” e da “Coragem”, além de incrédulos franceses que se curvaram, depois, diante do que ele mostrou ao redor da Torre Eiffel e no céu de Paris.

O tempo é assinalado por um relógio “maluco” que pontua as ações dos personagens e dá saltos atemporais e inusitados nas descobertas que Albertinho faz e que revelam como ele conseguiu transformar a vaidade em um instrumento de improvisações e de inventividade. Todos os atores, em momentos especiais da montagem, vivem a experiência de serem Albertinho Dumundo.

“SobreVoar” é o sexto espetáculo montado pela Cia. do Abração para crianças de todas as idades e se realiza com a parceria da Abração Filmes e da Céu Vermelho Produções. A direção é de Letícia Guimarães e tem no elenco Felipe Custódio, Moira Albuquerque, Negra Silva e Simão Cunha. O texto foi produzido em processo colaborativo pelos atores com supervisão de dramaturgia de Letícia Guimarães.

Ficha técnica

Direção: Letícia Guimarães

Produção executiva: Fabiana Ferreira

Coreografia: Fabiana Ferreira

Cenografia: Marcelo Scalzo

Figurinos: Maureen Miranda

Adereços: Marcelo Scalzo e Maureen Miranda

Iluminação: Anry Aider

Sonoplastia: Karla Izidro

Arte gráfica: Blas Torres

Elenco: Felipe Custódio, Moira Albuquerque, Negra Silva e Simão Cunha.

Oficina espaço, corpo e som: Eliane Campelli

Preparação vocal: Alysson Siqueira e Karla Izidro

Preparação corporal: Fabiana Ferreira

Preparação de animação de objetos: Renato Perré


Serviço


SobreVoar – espetáculo teatral para crianças de todas as idades

Temporada: de 12 de junho a 8 de agosto de 2010

Horário: sábados, às 18:00 horas e domingos às 16:00 horas

Local: Sala Raul Cruz, sede da Cia. do Abração. Rua Paulo Ildefonso Assumpção, 725. Bacacheri

Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)

Telefone: (41) 3362 9438

Capacidade: 60 pessoas

Duração: 50 minutos

Classificação indicativa: Livre, especialmente recomendada para crianças.

domingo, 23 de maio de 2010

La Traviata, em um mercado na Filadélfia

Recebi de Alice Fontana, minha amiga que mora em Milão, o e-mail com o seguinte texto e com o vídeo do YouTube que pode ser visto aqui. Clique no título do "post" e assista ao vídeo. Imperdível!


O texto do e-mail:


Imagine você no mercado público por exemplo, muito barulho, aquela confusão de gente pra todo lado e de repente alguém começa a cantar uma música completamente contagiante ...


Agora veja mais de 30 membros da Companhia de Ópera da Filadélfia, no meio do povo, em um local público - Reading Terminal Market Italian Festival (foi no dia 24 de abril de 2010) e, passando-se por transeuntes comuns, de repente começam a cantar La Traviata!


Pensa, trovarsi in un mercato, in una fiera e, al'improvviso sentire "la traviata", cantata da persone supostamente comuni, tra la gente....!!!!!


Baci


Alice Fontana

 


"Vida", o haicai e o performático

Um "haiga" - foto com haicai

O jornalista e crítico teatral Valmir Santos publicou em seu site "Teatro Jornal" uma crítica, a meu ver, bem estruturada, sobre o espetáculo "Vida", da CBT e dirigida por Márcio Abreu. O título do texto é tão provocativo quanto quem inspirou "Vida": Haicai performático.

Não vou falar sobre o que seja haicai - para uns haikai, para vários lugares do mundo haiku - mas pego a provocação do Valmir sobre o uso do "haicai" no título da crítica. Uma poesia sintética, de três versos apenas, 17 sílabas poéticas, uma métrica restrita, uma forma muito difícil de construção, não poderia nunca, em hipótese nenhuma, servir de referência para o que "Vida" tem e apresenta. Escrevi "poderia". Não poderia, em sã consciência, não poderia mesmo. Mas a "Vida", que se refere ao universo de Paulo Leminski, sem ser sobre Leminski ou sua obra, pode ser e é mesmo um "haicai" e um "haicai performático" como indicou Valmir sobre o espetáculo de Márcio Abreu, Nadja Naira, Ranieri Gonzales, Giovana Soar e Rodrigo Ferrarini, com a contribuição de outros profissionais talentosos e argutos como Fernando Marés e André Abujamra, esse a quem um dia eu terei que escrever algo para esclarecer uma inusitada pendência entre nós. Minha para com ele, com certeza, mas também, dele para mim. Tudo a seu tempo, porém.

Agora eu trato apenas de "Vida", um inusitado e inesperado haicai performático. E não vou além do que, para mim, agora, até parece óbvio: "Vida" sendo um haikai, Leminski é seu "kigo" e, para mim, um "kigo" que representa toda a dimensão da palavra "outono". Para se entender o que seja "kigo", uma comparação bem didática, rasa mesmo: verão é sol (calor, chuva), primavera é flores (perfume, cores), inverno é frio (agasalho, sopa), outono é Leminski. Mas o "haicai" é "performático", daí o "kigo" outonal daquele polaco fiodaputa ser/ter o contraponto da luz difusa que invoca, do cheiro incômodo que exala, do som estranho que propicia, do gosto acre que sugere, e do toque áspero de um bigode numa boca que emite um estranho lamento da mais profunda alma feminina. Leminski, em vida, escreveu sobre haicai e kigos. Sendo homenageado, Leminski é teatro, é explosão de vida em "Vida" e é o outonal ocaso de quem agora vira seu próprio "kigo". Coisas mesmo dignas de Leminski.

Para quem se interessar no texto crítico de Valmir Santos, um trecho do que ele escreveu sobre "Vida", que esta semana encerrou sua participação no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.


(...)

Vida é justo um exemplo. Não há Paulo Leminski e há todo o Paulo Leminski em Vida, a visita da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, ao universo do conterrâneo mais varrido das letras paranaenses, para espanto e deleite da cidade – agora é que são eles – e do Brasil.

Assim como a palavra não constitui signo absoluto na escrita do autor de Catatau – ela é sempre entranhada a outras pontes imaginárias, mesmo quando no osso -, o texto do diretor Marcio Abreu e a dramaturgia que assina com as atrizes Giovana Soar e Nadja Naira encerram desvios para alcançar o seu próprio objeto de desejo. Apropriam-se da liberdade de linguagem que caracterizou a existência e a produção literária desse artista para construir uma galáxia particular no palco.

O espírito é libertário, primo do literário. Lançando mão da fábula e da fantasia, Vida ergue-se sem dependência biográfica, sem a promissória estilística do poeta. A Companhia Brasileira de Teatro afirma ter investido mais de ano e meio em pesquisa de campo, bibliografia, experimentos. O espetáculo pode ser lido como um haicai performático em suas estruturas e conteúdos livres e inerentes à cena contemporânea. Descama expectativas dramáticas padrões para incorporar à narrativa procedimentos sintéticos mais evidentes da performance, das artes visuais e da música. E sem jamais ostentá-los. Um projeto afinado à trajetória de quem o move – o luminescente Leminski - e radica o ato criador à condição sem a qual não se respira.


(...)

Para quem ficou curioso sobre "kigo" e "haicai", visite o que escreveu o mestre Edson Kenji Iura.