sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um cardápio só com ratos

Um cardápio que só tem rato


Na fala de Dionelia, o cardápio só com ratos é revelado:

(...)

Mas se a dor é tanta, se tanto seu coração se sente apertado, ele fica engasgado com o prato predileto de suas refeições diárias: ratos, sim ratos. Ratos fritos, ratos ensopados. Ratos na salada. Ratos em escabeche. Souflê de ratos. Ratos gratinados, ratos esfolados, à milaneza. Ratos empanados. Ratos em sushis, ratos em sashimis, ratos rotos, ratos em risotos, ratos em pizzas, ratos salpicados sobre folhas apodrecidas que a muito deixaram de ser verdes. Ah, há mais ratos preparados de forma especial. Ratos em quibes, misturados com quibebes, não apenas em comes e bebes, em salgadinhos de festas baratas, em croquetes ou em esquetes de um insensato palhaço despudoradamente sem graça. Sem verve. Sem alma, sem chama.

(...)

Um trecho da "Entrevista com o devorador de ratos"

Escorre no meio fio uma lama intensa, vermelha. Vermelha da sujeira e do desespero de quem foi arrastado pelas tsunamis do oriente, pelas encostas dos morros que rolaram sem cerimônia para a cerimônia de adeus de tantos inocentes desprotegidos. 
Publico aqui um pequeno trecho da peça "Entrevista com o devorador de ratos". O autor Lourenço Machado  é entrevistado pela jornalista e pesquisadora Dionelia Mutarelli. Ele autor, ela entrevistadora. Ela autora, ele entrevistador. Ele maduro, ela uma jovem que tenta desvendar os mistérios de um autor.

 (...)



Lourenço – Não sei o que deu em minha cabeça aceitar conceder uma entrevista. Eu tinha absoluta certeza que ia dar merda esse nosso encontro. Tinha absoluta certeza. Veja só no que deu!

Dionelia – Ainda tem tempo de desconsiderar sua posição inicial. Mas vai me fazer esta descortesia de cancelar a entrevista?

Lourenço – Se você continuar a estimular pensamentos idiotas e sem sentido, pode ter certeza que cancelarei a entrevista imediatamente. Eu disse: imediatamente.

Dionelia – Você não me parece um homem movido pela coragem. Não me parece mesmo!

Lourenço – Ah, como você gosta de me provocar, não é, menina? Como aprecia levar-me a questionar isso, aquilo outro, não é? Está perdendo seu tempo. Domino a situação. Tenho pleno domínio sobre a situação.

Dionelia – Ah, pensa... pensa só... Tem consciência de que tudo está sobre seu comando, não é? Não comanda nada. Sua consciência não tem valor nenhum, pois não sabe nada sobre nada. Apenas joga com a intuição. E a intuição não existe. Ela é fruto de uma série de coincidências e não leva nada a bom termo. Não leva. Quando apela para ouvir sua consciência, ela aparece viciada, disforme, inquieta e, sobretudo, veja bem, estou afirmando, sobretudo sua consciência aparece irreal. A consciência não é uma capa que vestimos quando temos necessidade de sair na chuva. Pode-se pensar que ela vai livrar nossa roupa de pingos da chuva. Mas ela não livra nada. A chuva é forte. Um temporal está se aproximando. Além da água que cai em todas as direções, tem o vento que é muito forte. Ele vai rasgar qualquer capa... não há guarda chuva que resista. Seu capuz já voou para longe. Escorre no meio fio uma lama intensa, vermelha. Vermelha da sujeira e do desespero de quem foi arrastado pelas tsunamis do oriente, pelas encostas dos morros que rolaram sem cerimônia para a cerimônia de adeus de tantos inocentes desprotegidos. A lama domina tudo e sua consciência não tem proteção eficaz contra a lama, entendeu?

Lourenço – Você não me pega com seus truques...

(...)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Entrevista com o devorador de ratos

(...) Mas se a dor é tanta, se tanto seu coração se
sente apertado, ele fica engasgado com o prato predileto de
suas refeições diárias: ratos, sim ratos (...) 
Novo texto que escrevi e que ofereço para o conhecimento dos interessados.

O texto "Entrevista com o devorador de ratos" foi um desafio para mim. Pois o que parecia ser uma mera entrevista, acabou revelando algo mais que o embate de duas personalidades tão diferentes e tão próximas. Diferentes por serem um homem mais velho, autor consagrado, e uma mulher, jovem, pesquisadora em busca de descobertas e de mistérios que sempre a atraíram. O que os aproxima é a linguagem aberta, desenfreada, com um tom para o exagero e a busca da verdade. Um embate que começa como se fosse um jogo de cabra cega, uma disputa de gato e rato, mas que, no final, mostra-se surpreendente pela crueza dos seus diálogos e o desafio de cada monólogo dos personagens com suas provocações e revelações surpreendentes.

Personagens: Um homem com cerca de 60 anos e uma mulher, jovem, na faixa dos 25 anos.

Quem se interessar pelo texto pode acessá-lo aqui neste link.

Oficinas da Escola do Ator Cômico em 2011 - Inscrições abertas

Ensaio de atores na Escola do Ator Cômico em 2010
A Escola do Ator Cômico oferece, para 2011, um conjunto de OFICINAS DE TEATRO que são interligadas, mas podem ser freqüentadas de forma independente. Os interessados podem escolher as oficinas de seu interesse e realizar sua inscrição.

Obs.: Os iniciantes (não atores) só poderão freqüentar os módulos 04, 05 e 06 com participação nos módulos 01, 02 e 03, que trabalham sobre os fundamentos do trabalho do ator.

Para quem: Aberto a atores e não atores interessados em conhecer e desenvolver o teatro tendo como base “técnicas de comédia”. O curso é freqüentado por atores profissionais, iniciantes de teatro, bonequeiros, estudantes de artes cênicas, advogados, músicos, psicólogos, empresários, bailarinos, pedagogos, professores, profissionais de comunicação, administração, engenheiros, entre outros.

Aulas:                  segundas, terças e quartas,
Horário:              19:00 às 22:00.
Lanche:              18:30 (todos os dias é servido um café àqueles que vem direto do trabalho).
Ministrante:         Mauro Zanatta.
Informações:       41 3332-4361 ou escola@atorcomico.com.br
Idade Mínima:    18 anos (menores de 18 somente mediante entrevista).
Vagas limitadas: Ligue para fazer uma pré-reserva.

As oficinas em 2011

Oficina 01
07/Fev. a 02/março/2011

– O Jogo Teatral: Esta oficina resgata a brincadeira, a espontaneidade e a relação entre universo interno e externo. “Tudo pode acontecer quando duas ou mais pessoas querem jogar”. O jogo é a base para a existência do teatro.
Valor: R$ 350,00

Oficina 02
14 a 23/março/2011

– O Macaco no Treinamento do Ator: A prática da postura corporal e atitude do primata desenvolve a intuição do ator, o tempo cênico, o sentido de grupo e coro, o movimento orgânico, a respiração, o vinculo psicológico. O primata promove uma quebra na verticalidade dramática do homem.
Valor: R$ 175,00

Oficina 03
11/abril a 04/maio/2011

- A Improvisação: Uma reflexão sobre o obvio.  A relação entre o ato de improvisar e a luta pela sobrevivência. Tanto no teatro quanto no cotidiano encontramos a mesma necessidade de dar vida a pequenos planos, projetos ou situações, criados artificialmente. Improvisar é encontrar caminhos que vão além da rigidez de nossas mentes.
Valor: R$ 350,00

Oficina 04
09 a 25/Maio/2011

- A Máscara Teatral: Quando veste a máscara inteira - cobrindo rosto e voz - o ator evidencia suas limitações: vícios corporais, tensões musculares, arritmias, excessos de representação e gestos. Este “desconforto físico”, proporcionado pela máscara neutra, põe o ator em contato com diferentes qualidades de movimentos, ações e linguagens.
Valor: R$ 262,50

Oficina 05
05 a 29 de junho/2011

- Commedia dell’arte: A criação dos tipos cômicos a partir de uma atualização da commedia dell’arte. Tendo como fundamento servos, enamorados, capitães e velhos, formaremos a base para a nossa própria exploração do nosso universo cômico.
Valor: R$ 350,00

Oficina 06
01 a 24 de agosto/2011

- O Universo Clown: Voltada à prática de técnicas para composição do universo clown, o “não personagem”, na transição entre o bem e o mal, o poder e a submissão. Um estudo sobre a “função coringa” do clown e sua força criadora.
Valor: R$ 350,00