sábado, 6 de março de 2010

Em defesa de um teatro adulto

Roberto Alvim, recorte da matéria da Gazeta do Povo e
Paulo Zwolinski (autor do texto), Pretto Galiotto
(assistente de direção) e Patrícia Kamis (atriz da peça)

Luciana Romagnolli, repórter da Gazeta do Povo, assistiu ao ensaio da peça "Como Se Eu Fosse o Mundo", de Paulo Zwolinski, que vai estrear no Festival de Curitiba e conversou com Roberto Alvim, diretor da montagem e orientador da Oficina de Dramaturgia SESI Paraná de onde o texto nasceu.

Em defesa de um teatro adulto

Luciana Romagnolli - Gazeta do Povo (06.03.2010)

Nada tem mais peso no teatro de Roberto Alvim do que a presença humana – provavelmente nem a palavra, que é sua matéria-prima essencial. É possível percebê-lo desde a aparição de Patrícia Kamis na primeira cena de Como Se Eu Fosse o Mundo, o espetáculo que está sendo ensaiado no Teatro José Maria Santos para estrear em 26 de março, no Festival de Curitiba. A atriz cumpre a passos lentos um trajeto linear sob a penumbra vazia, seus braços pendem semi-imóveis, os traços do rosto pouco se distinguem. Por instantes, toda a atenção se volta à existência dessa mulher.

“Para que tantos refletores, tanta cenografia, como se a presença de um indivíduo numa sala não mudasse tudo?”, pergunta o diretor que trocou o Rio de Janeiro por São Paulo, e desde o ano passado vem semanalmente a Curitiba orientar as atividades do Núcleo de Dramaturgia do Sesi/PR. “Perdeu-se a fé na capacidade do ser humano de recriar o mundo à sua volta”, sentencia Alvim.

(...)


Visite o blog PALCO - Luciana Romagnolli - Gazeta do Povo.

De Néstor Caballero, autor da Venezuela

E-mail de Néstor Caballero, autor da Venezuela

Recebi, hoje, e-mail do Néstor Caballero, autor da Venezuela e do qual traduzi o texto "De onde vem a dramaturgia?" - postei aqui em 19 de janeiro . Caballero agradeceu-me pelo texto que eu traduzi e prometeu que vai divulgar meu blog entre seus amigos de teatro na Venezuela.

De onde vem a dramaturgia? Caballero, no seu diário, respondeu assim:

(...)

De onde vem a dramaturgia? Pergunto-me. De onde e como foi que escrevi? Trato de recordar e sempre me vejo, todas as manhãs de minha vida, sentado, primeiro com lápis e papel, logo quando pude, com máquina de escrever e, nestes anos, diante da tela do computador, angustiado, buscando o que escrever. Ali passei, e passo, horas e mais horas, inutilizado, atrevendo-me apenas a respirar, sem que nada venha a mim, sem uma frase, sem uma palavra. Se roga, por misericórdia, que venha nem que seja uma letra. Nada. Não aparece. É como se, no papel ou na tela, espero que algo brote. É como se ali, na página vazia, se encontrasse um espelho onde examino que flor em mim crescerá e vai secar ao meu toque. Por fim, sem saber quando, nem como, a flor, brota, e, feliz, se escreve. Porém, paradoxalmente, se escreve para podá-la. Se escreve podando essa flor, porém às vezes, esparrama uma semente, num novo crer, uma nova esperança, enfim, uma nova utopia para poder seguir vivendo. Angustio-me agora mais pois me pergunto: E se chegar o momento em que nada brotará, em que nenhuma flor germinará? Ai, e o que é pior, quando esgotarão minhas sementes?

(...)

O texto completo "De onde vem a Dramaturgia?", acesse-o aqui.

Abaixo, o texto de Néstor Caballero em sua mensagem para mim:

Estimado Rogério Viana,

Antes que nada mis disculpas por no haberle respondido antes su correo pero me encontraba fuera del pais e recén hoy regresé.

Quiero agradecer su justa, precisa, sensible y hermosa traducción de mi texto De dónde viene la dramaturgia. He leído también su interesante blog y lo voy a difundir a todos los compañeros de teatro de Venezuela.

Una vez le agradezco su traducción y le deseo el mayor de los éxitos en la escritura teatral. Aquí, en Caracas, Venezuela, cuenta con un amigo que le manda un afectuoso abrazo y queda de Usted siempre atentamente

Néstor Caballero

Site do Néstor Caballero. Acesse aqui.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Programação do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná

Veja aqui a programação do Núcleo de Dramaturgia
SESI Paraná durante o Festival de Teatro de Curitiba.


MOSTRA SESI DRAMATURGIA

Espetáculo

Como se eu fosse o mundo, de Paulo Zwolinski, direção Roberto Alvim
26, 27 e 28/03, às 21h - Núcleo de Dramaturgia SESI/PR

Leituras Dramáticas

(Você), de Alexandre França, direção Nina Rosa Sá
23/03, às 15h / 24/03, às 18h

Antes do Fim, de Marcelo Bourscheid, direção Marcos Damaceno
23/03, às 18h / 25/03, às 15h

(em) branco:, de Patrícia Kamis, direção Marcio Mattana
24/03, às 15h / 25/03, às 18h

Teia, de Douglas Daronco, direção Edson Bueno
27/03, às 15h / 28/03, às 18h

Inverno, de Pretto Galiotto, direção Marcio Abreu
27/03, às 18h / 28/03, às 15h

Leituras Dramáticas Convidadas

Descartes com Lentes - de Paulo Leminski, direção Marcio Abreu
21/03, às 16:30h

Projeto Lulu / A Caixa de Pandora, de Frank Wedekind - Cia. dos Atores
23/03, às 21h

Estúpido Direito de Sofrer, de Jô Bilac, direção Vinicius Arneiro
24/03, às 21h

Mente Mentira, de Sam Shepard, direção Paulo de Moraes
25/03, às 21h

Eventos

Mesa-Redonda - O Papel do Dramaturgo Contemporâneo, com Roberto Alvim e Mario Bortolotto e coquetel de lançamento da primeira edição das peças do Núcleo de Dramaturgia SESI/PR

20/03, às 15h

Workshop Introdução à Dramaturgia, com Marici Salomão
23 a 26/03, das 10h às 14h

Local
Teatro José Maria Santos
Rua Treze de Maio, 655 - Curitiba - PR
(41) 3322-7150


Yo tengo hambre de Libertad



Se você quiser utilizar o desenho que criei para uma camiseta como a do modelo, protestando contra o regime de los hermanos Castro, acesse o arquivo aqui e mande fazer uma camiseta com ele. Fica bem numa camiseta escura (como a preta do modelo), mas, também, em camisetas brancas.

O padeiro e a boneca cobiçada - roteiro de curta metragem

O padeiro apaixonado por uma cobiçada boneca...

Em 1996 escrevi, quando trabalhava como jornalista em Piracicaba, a uma série de contos que integram meu inédito livro "Arenito do Caiuá". O conto ficou guardado. Em 2001, dos vários contos que escrevi, juntei três e, depois de muita pesquisa, escrevi um roteiro de um longa metragem que tem o título de "Caculé". É um roteiro que me agradou muito, pois me deu a noção exata de como contar uma história com imagens. Claro, não estou seguro de que tenha contado a história de um jeito certo, mas o que é certo e errado quando se trata de lidar com imagens, palavras e emoções? Continuei lendo muitos roteiros, livros, críticas de cinema. E não deixei de assistir a muitos filmes. Comecei, também, a ver com carinho a possibilidade de escrever para teatro. Um sonho que sempre esteve presente em minha vida, mas que não havia ainda se apresentado como possível de acontecer.

Quando fui trabalhar numa editora universitária em Salvador (Ba), em 2003, fui desafiado por duas atrizes que conheci na TV Educativa da Bahia a escrever uma peça de teatro para poucos atores - elas queriam duas atrizes e um ator, só - e saiu "Das razões do nosso medo", que saiu inicialmente com o título "O medo de te perder", mas achei melhor usar no título "razões" do que ir diretamente para o temor de perder algo. Mesmo nas perdas a gente sempre aprende mais, pois nos deixam lições. Algo que dê certo de cara, pode ser simples obra do acaso ou da sorte, se preferirem. Foi uma grande lição que aprendi.

Em 2006 fiz um curso on-line com Hugo Moss, do Rio de Janeiro e, um ano depois, fui participar da Oficina de Roteiro, no projeto Olho Vivo, com o Luciano Coelho. Dentre os vários exercícios que estudamos, um deles era de escrever um "roteiro". Como eu já tinha um certo domínio de roteirizar peças de audiovisuais - como jornalista e vinculado a uma agência de propaganda, durante muitos anos escrevi roteiros de audiovisuais para empresas, também para roteiros de comerciais de TV - então o desafio ficou menor pois eu já tinha um argumento e esse era o de um dos meus contos. Foi assim que passei do conto para um roteiro de curta metragem este "O Padeiro e a Boneca Cobiçada".

Ao longo de minha vida como jornalista - no ano que vem, oficialmente completo 40 anos como jornalista - mas, se retomar em minha história o fato de, aos 12 anos, ter entrevistado um jogador de futebol - meu ídolo, o baixinho driblador e ponta direita do ACP - Atlético Clube de Paranavaí, de apelido Babá (José Eustáquio da Silva) - e o então jornal semanário "O Noroeste" (que desapareceu depois de um incêndio em meados dos anos 60 em Paranavaí) publicou em suas páginas aquela minha entrevista, posso me considerar que terei, no ano que vem, 50 anos de paixão pela palavra escrita, pelos personagens e suas histórias.

Na vivência como jornalista fui, sempre, guardando na memória alguns fatos, coisas que noticiei enquanto repórter, mas também, em coisas que li. Eu morava, em Paranavaí, na frente da casa do meu amigo Ricardo Antonio Balestra, advogado aqui em Curitiba, e cujo pai tinha uma padaria no fundo de sua casa e que, tempos depois, foi arrendada para uma família que foi morar ao lado de minha casa. Sempre ia ver os padeiros trabalhando, as gozações entre eles. Uma empregada nossa foi namorada de um dos padeiros. Bem... melhor não entregar todo o ouro.

Meu roteiro de "O Padeiro e a Boneca Cobiçada" tem como "story line": Padeiro, homem maduro, se apaixona por uma jovem prostituta e faz tudo para tirá-la da zona.

O padeiro, portanto, já aparece no título. A "boneca cobiçada", a figura dela, de uma cobiçada, jovem e linda prostituta, foi inspirada na canção "Boneca Cobiçada", cantada pela dupla "Palmeira e Biá" e composta por Biá e Bolinha, regravada por muitas duplas sertanejas, caipiras e outros cantores românticos desde os anos 50, quando foi grande sucesso no rádio da época.

Assim, com todas as explicações que julgo necessárias, nasceu o roteiro de um curta metragem de 15 minutos (fui preciso na questão do tempo, já que, para cada página de roteiro deve gerar um minuto do filme, aproximadamente). Andei mostrando o roteiro para algumas pessoas e uma delas, a Alessandra Moretti, que é cineasta aqui em Curitiba, sugeriu que eu mudasse para uma menina, o que, a princípio eu havia colocado como menino o filho da jovem prostituta de nome Suzi. Ficou melhor sendo uma menina.

Aqui, uma das cenas iniciais do curta. A revelação da paixão do padeiro Justino pela Suzi, uma jovem prostituta da casa da Terezona, numa pequena cidade do interior paranaense nos anos 60.

O roteiro completo, aqui.

(...)

EXT. PONTO DE TÁXI – NOITE

No ponto de táxi, o motorista está dormindo no banco de um antigo Corcel. Justino agora veste outra roupa, escura. Ele acorda o motorista, tocando-o em seu ombro.

O motorista acorda assustado.Ajeita-se ao volante do carro.

MOTORISTA

Ué! Vai pra zona, de novo, padeiro? Está se juntando com aquela moreninha da casa da Terezona?

Justino abre a porta do carro e senta-se ao lado do motorista.

INT. TÁXI – NOITE

Justino permanece sem nada dizer. O motorista olha para ele e balança a cabeça.

MOTORISTA

Puxa! Então se apaixonou mesmo, não é, padeiro? Cuidado! Menina nova, na zona, é problema. Pode ser que ela já tenha um coronel, nunca se sabe.

Justino apenas balança a cabeça, negativamente, permanecendo calado e tenso.

FUSÃO do rosto de Justino.

INT. CASA DA TEREZONA – NOITE

Justino entra na sala da casa onde algumas mulheres estão bebendo cerveja com homens nas pequenas mesas. No fundo da sala, o sanfoneiro toca boleros.

Ao ver Justino entrar no salão, o SANFONEIRO começa a tocar BONECA COBIÇADA.

Suzi está sentada numa mesa, sozinha. Ao ouvir a música, olha em direção à porta, onde Justino está.

Justino faz sinal de positivo com o polegar direito para o sanfoneiro e vai para a mesa onde Suzi está.

SUZI vê Justino se aproximar e sorri.

POV JUSTINO

SUZI

Você de novo, no cu da madrugada! Será que a farinha acabou, padeiro?

Justino abaixa-se até Suzi.

POV SUZI

JUSTINO

Acabou não. O que acabou foi minha paciência. Quero falar com você, menina. Pode?

Suzi faz sinal para Justino sentar-se ao lado dela, mas ele a pega pela mão e a faz levantar-se, com delicadeza.

SUZI

Tudo bem. Mas tem que ser num programa. Nada de jogar conversa fora. Tenho conta pra pagar, sabe?

Ambos caminham em direção a uma porta, ao lado de onde o sanfoneiro está tocando BONECA COBIÇADA.

(...)

Para ouvir BONECA COBIÇADA, com um arranjo orquestral belíssimo e a voz mais bonita ainda do ANTÔNIO MARCOS, veja a letra da composição de Biá e Bolinha e ouça aqui (o vídeo é uma montagem tosca de imagens de bonecas antigas). Mas a versão que me inspirou é a original do Palmeira e Biá que está aqui neste link. Ao abrir clique no bonequinho com o violão. Há esta versão (muito boa, também) do Milionário e José Rico. Está no YouTube e você ouve aqui.

Será que a música BONECA COBIÇADA cai bem como trilha sonora desta história? Comentários serão apreciados por mim. Aqui o roteiro do curta metragem.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Curso O ATOR-PERFORMER em São Paulo

Curso O ATOR-PERFORMER - com Silvana Abreu


Silvana Abreu está formando uma turma especial, a pedidos, para um mergulho nessa pesquisa da afirmação da arte no corpo, que ela chama de Dramaturgia do Desejo.


A Dramaturgia do Desejo para o Ator-Criador. Técnicas de expressão corporal e exercícios de criação personalizados, para identificar e potencializar o que cada um tem de mais expressivo e único.

O objetivo é que o artista esteja vivo e presente e a cena seja necessariamente intensa, prazerosa, autêntica e vibrante.
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Estúdio Luis Louis – São Paulo / SP – (11) 3129-8852
veja todas as informações em
www.cialuislouis.com.br


Árvores Abatidas ou..., três únicas apresentações

Itálico
Rosana Stávis em "Árvores Abatidas ou Para Luís Melo"

Após bem sucedidas temporadas em 2009 o espetáculo Árvores Abatidas ou Para Luis Melo, da Marcos Damaceno Cia. de Teatro, volta ao cartaz para três únicas apresentações, dentro da programação do Festival de Monólogos que acontece no Teatro José Maria Santos. Trata-se de nova oportunidade para os curitibanos assistirem ao espetáculo, que em seguida inicia turnê passando por 85 cidades brasileiras. Árvores Abatidas ou Para Luís Melo é narrada por uma mulher, que convidada a um “jantar artístico”, em homenagem ao famoso ator do Teatro Nacional e que faz até telenovelas, percebe que está, na verdade, em uma reunião de talentos medíocres. Arrependida de ter aceitado o convite e enquanto espera o famoso ator, que nunca chega, ela reflete sobre sua vida e as pessoas que a cercam, sob a lembrança de uma grande amiga de todos enterrada naquele mesmo dia.

Algumas das características marcantes da peça são a caricatura e o exagero como linguagem, o tom poético com repetições e variações, uma pitada de grotesco e o cuidado minucioso com a musicalidade e ritmo das frases, além das idéias implacáveis contra as misérias da sociedade e do ser humano. Trata-se de uma narrativa densa e sôfrega, por vezes angustiante, freqüentemente hilariante.

A narradora atua em um estado próximo ao devaneio, onde seus pensamentos, lembranças e imaginação fluem líricos em certos momentos, macabros e pesarosos em outros, tornam-se pouco imaginativos e medianos em certos trechos, para logo em seguida flertarem com a filosofia e o sublime, tornando-se expansivos, contraditórios e com confusões e associações próprias da consciência humana.

SINOPSE: Uma mulher que em um jantar artístico, em homenagem ao famoso ator do Teatro Nacional e que faz até telenovela, percebe que está, na verdade, numa reunião de talentos medíocres. Arrependida de ter aceitado o convite, e enquanto espera o famoso ator, que nunca chega, ela reflete sobre sua vida e o meio que a cerca, sob a lembrança de uma grande amiga de todos enterrada naquele mesmo dia.

SERVIÇO

Árvores Abatidas ou Para Luís Melo

Com Rosana Stavis

Texto e direção: Marcos Damaceno

Violinista: Roger Vaz

Iluminação e Cenografia: Waldo Leon

Composição e Direção Musical: Gilson Fukushima

Figurinos: Maureen Miranda

Duração: 1h20m

De 5 a 7 de março de 2010

Sexta e sábado às 20h – domingo às 19h

Teatro José Maria Santos

Rua 13 de maio, 655 - Curitiba - PR

Informações: 41 3322-7150

Das razões do nosso medo - jogos sobre o medo

Essa cama sintetiza nossas almas desejosas de viver.
Vai continuar sonhando? Vai continuar com sua vida medíocre?
Venha, junte-se a nós...! Vamos gozar a felicidade! Vamos...!!!

É um ensaio. Mas é um espetáculo. São jogos sobre o medo. São histórias de desencontros, de medos, de indecisões. São dois textos que são encenados. São três personagens – um homem, duas mulheres - que trocam seus papéis. Um é homem, depois é mulher, a mulher é outra mulher, depois é a consciência, é quem dirige e orienta a atuação dos outros personagens, que são atores. A consciência sempre pode aparecer em horas inadequadas. Quando chega na hora certa, faz tudo desandar, sair do ritmo, deixar o espaço confuso e o tempo incerto. Depois o homem, que foi mulher, é a consciência do personagem que foi, que será. Aos poucos, deixando aflorar medos e angústias, invejas, loucuras, ciúmes, inseguranças, certezas e o incerto pensar sobre o hoje, o presente e o que virá, os personagens ganham vida e se revelam os próprios atores e o embate diário que eles têm na luta pela sobrevivência e pela busca do papel perfeito, eles que acabam não mais sabendo quem realmente são e, quando se descobrem, através das falas, expõe toda a fragilidade de seres humanos que fazem do instrumento da representação uma vivência de mentiras e inseguranças.

Três personagens – Um homem e duas mulheres.

O texto foi escrito em 2003, em Salvador (BA) e reescrito em Curitiba em 2009. Em 2004 teve leitura dramática na Casa do Médico em Piracicaba (SP).


(...)


Mulher 1 (angustiada, temerosa) - Meu maior medo é voltar a engravidar. Já fiz um aborto e me arrependo amargamente.

Mulher 2 (estimulando) - Vamos, conte-nos sobre seu aborto... Vamos, continue...

Homem (discordando) - Não! Não fale sobre coisas que vão machucá-la. O que passou, está enterrado lá no passado. Não dá para voltar atrás, mesmo...

Mulher 1 (indignada, confessando) - Meu medo... é... Tenho medo de engravidar, sempre tive, mas, agora não posso mais ficar grávida. O filho da puta daquele médico me deixou estéril. Depois veio com aquela conversa, aquele lenga-lenga, que a cirurgia tinha se complicado. Complicado, uma merda! Ele me esterilizou mesmo! Foi intencional! E eu podia reclamar para alguém?

Homem (confessando, com medo) - Eu não queria sentir que meu nascimento não foi desejado. Queria sentir que meus pais se amaram de verdade no momento em que estavam me gerando. Quando me faziam... Queria sentir que houve amor... Mas sinto algo estranho. Parece até que fui fruto de um estupro!!!

Mulher 2 (Provocando) - Como foi que ficou grávida? Conte para nós.

Mulher 1 (Confessando, temerosa) - Todos sabem... Todos sabem... Deu até no jornal... Fui uma das vítimas daquele maníaco, estuprador, que atacou várias mulheres perto do Jardim Botânico...

Homem (assustado, como uma criança) - O pai batia na mãe todos os dias. Não com murros, tapas, safanões... Ele jogava toda sua fúria, as agressões, nas palavras. Dizia muitas coisas desagradáveis quando olhava para ela em silêncio. Ofendia quando virava o rosto, sem nada dizer. Agredia muito só com seu olhar! Tenho medo deles se separarem e me deixarem aqui, sozinho, sem ter para onde ir... em quem me apegar, pedir proteção...

Mulher 1 (indignada e temerosa) - Fui estuprada sim... E tive que me calar. Tive que engolir aquela humilhação. Aquela violência me fez ficar calada. Não poderia revelar meu segredo para ninguém. Já pensou se meu namorado descobrisse que eu tinha sido estuprada? E se meu pai e meus irmãos soubessem tudo o que me aconteceu?

Mulher 2 (provocante) - Gabriel... E você? Foi abandonado por seus pais? Como foi que conseguiu estudar, se formar numa boa universidade, ser alguém?

Homem (justificado, com vergonha) - Mas eu, hoje, não sou porra nenhuma! Sou um derrotado... Vivo aqui e ali, de favores. Não tenho casa, não tenho nada. O que tenho é muita cara de pau para conviver com gente melhor do que eu...

(...)

O texto completo de Das Razões do Nosso Medo aqui. Demais textos de Rogério Viana, veja aqui, no formato PDF.

terça-feira, 2 de março de 2010

ABAIXO A DITADURA CASTRISTA!

Fiz esta ilustração e vou mandar fazer
uma camiseta. Para protestar não apenas
contra o regime caquético dos hermanos
Castro, mas, também, para alertar
que não podemos aceitar que,
em nosso nome, o povo brasileiro,
nosso presidente aceite com conivência
o que há 50 anos acontece em Cuba.
No Brasil, Lula instituiu um "cala boca"
para a população de desvalidos na
forma do "Bolsa Família". Em Cuba,
Fidel e sua quadrilha, instituiu um
"cala te boca" distribuindo tiros,
tristeza e muitas pauladas
contra quem se manifesta contrário
aos desmandos e a violência dos
homens vestidos de verde
e que estão maduros de tão podres que são.

Yo tengo hambre de libertad.
Abaixo a ditadura castrista.

Quem acredita que é preciso fazer nosso país deixar de dar
apoio a regimes totalitários, divulgue a idéia e visite o

Jornal de Piracicaba publica matéria sobre Mindlin


O caderno de Cultura do Jornal de Piracicaba, editado pela jornalista Eleni Destro publicou em sua edição desta terça-feira (dia 02/03/2010) matéria de capa com o título "Mindlin: Apoio às culturas brasileira e piracicabana".

Fui um dos entrevistados pelo repórter Marcelo Rocha e uma foto do meu arquivo pessoal e na qual apareço ao lado do José Mindlin, em agosto de 1975, em Piracicaba, também foi publicada. A matéria - na página 17 - foi sugestão de pauta que fiz e inspirada no texto de meu post de domingo, 28 de fevereiro de 2010.

Leia a matéria clicando aqui em Jornal de Piracicaba.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A herança de José Mindlin

No Aeroporto de Piracicaba: Rogério Viana, José Mindlin (então Secretário de Cultura do Governo de São Paulo), Adilson Maluf (de costas, então prefeito de Piracicaba) e Luiz Antonio Lopes Fagundes (Fagundinho), Diretor da Coordenadoria de Turismo de Piracicaba (agosto de 1975 - Piracicaba - SP)
No II Salão de Humor - Claude Moliterni (Ed. Dargaud - França),
Zélio, Fagundinho e Rogério Viana (agosto de 1975 - Piracicaba - SP)

No II Salão de Humor - Antonio Roberto Cera, Zélio, Fagundinho
e Rogério Viana (agosto de 1975 - Piracicaba - SP)

Em 1975, quando fui convidado pelo Luiz Antonio Lopes Fagundes (Fagundinho), então diretor da Coordenadoria de Turismo da Prefeitura de Piracicaba (SP), para ajudá-lo na organização do II Salão de Humor de Piracicaba, iniciamos uma série de contatos e, um deles, fundamental, foi com o então Secretário de Cultura de São Paulo, o empresário e bibliófilo José Mindlin. Foi agendada uma audiência com ele, na secretaria da Cultura, um lindo palacete que fora sede do governo paulista localizado nos Campos Elísios. Mindlin recebeu os "caipirinhas" de Piracicaba que estavam acompanhados pelo cartunista Zélio Alves Pinto, irmão do Ziraldo. Mindlin aprovou o apoio ao II Salão de Humor de Piracicaba que, a partir daquela edição, iria se tornar um salão internacional.

O primeiro Salão de Humor de Piracicaba (1974) nasceu de uma idéia do jornalista e bancário Antonio Roberto Cera, o Cerinha e foi, digamos assim, apropriada pelo professor e funcionário da Secretaria Estadual de Educação, Alceu Marozzi Righetto. Mesmo sendo o autor intelectual da idéia, Cerinha não participou da organização efetiva do primeiro salão. Ambos eram colaboradores do falecido jornal "O Diário" (Piracicaba). Alceu, com o apoio do mesmo Fagundinho, em meados de 1974 foi com outros piracicabanos (dentre eles o Adolpho Carlos Françoso de Queiroz, o Adolfinho) para o Rio de Janeiro, onde buscaram apoio com o pessoal do jornal "O Pasquim" - Ziraldo, Jaguar, Millôr Fernandes, e outros. Meses depois, acontecia no prédio de um antigo banco, na praça central de Piracicaba, o primeiro Salão de Humor de Piracicaba e que tinha como cartaz, uma ilustração do Zélio.

O apoio de Mindlin ao II Salão de Humor de Piracicaba, através de verba da Secretaria de Cultura do governo paulista, foi importante e graças a ele, mesmo naqueles anos "bravos" onde imperava uma forte censura à imprensa - quase não existiam cartunistas, chargistas e caricaturistas na imprensa brasileira da época - Mindlin acreditou na iniciativa dos piracicabanos e o mais importante Salão de Humor da América Latina, um dos mais importantes do Mundo pode, hoje, comemorar sua 37a. edição em agosto de 2010. O inestimável apoio de Mindlin ao Salão de Humor de Piracicaba, infelizmente não foi destacado num livro (vejam só!) que registrou os 30 anos daquele salão e que foi produzido pelo Paulo Caruso e com apoio do Governo de São Paulo (Gestão do Geraldo Alkmin). Uma importante presença no II Salão de Humor de Piracicaba foi a do escritor e editor Claude Moliterni, da editora Dargoud, da França.

A morte de José Mindlin, ocorrida ontem, em São Paulo, é uma grande perda para a cultura brasileira, mas o legado que ele deixou vai muito além da maravilhosa coleção, a biblioteca inteira que ele formou e que, há pouco tempo doou para a USP. Mindlin deixa como maior herança, não os mais de 40 mil volumes que ele colecionou a partir dos seus 13 anos (foram mais de 82 anos colecionando livros), e sim o que é fundamental, o amor incondicional ao livro.

Mindlin sempre foi um homem de visão. O que ele apoiava dava certo. Foi assim com sua biblioteca, depois com sua empresa - a Metal Leve - coincidentemente uma empresa nascida de um ramo da grande indústria de pistões Mahle, na Alemanha e cujo herdeiro - Ernst Mahle - que não tinha vocação para os negócios da família Mahle, no começo dos anos 50 mudou-se para São Paulo para estudar composição e regência com H. J. Koelheutter e acabou casando-se com Cidinha Pinto Mahle, sua colega de estudos de música em São Paulo e com a qual fundou, em Piracicaba, a Escola de Música de Piracicaba, instituição que hoje está vinculada à Universidade Metodista de Piracicaba - Unimep. Os Mahle venderam a Metal Leve para Mindlin e ele a consolidou como grande empresa brasileira na produção de peças (pistões) para automóveis.