sábado, 29 de março de 2014

“Devastidão” retorna no Festival de Teatro de Curitiba


    O espetáculo “Devastidão”, texto de Andrew Knoll, direção de David Mafra e supervisão de Roberto Alvim, retorna em cartaz neste Festival de Teatro de Curitiba, após bem-sucedida estreia na Mostra SESI/Teatro Guaíra 2013.
    “Devastidão” é resultado do processo de trabalho realizado no ano passado no Núcleo de Dramaturgia e Encenação do SESI Curitiba e que contou com estudos e oficinas ministrados por Alvim (encenação) e Juliana Galdino (interpretação), ambos da Cia. Club Noir de São Paulo. A estreia do espetáculo aconteceu em dezembro na Mostra SESI/Teatro Guaíra, marca a primeira montagem teatral do texto inédito de Knoll, produzido em 2010 na Oficina de Dramaturgia do SESI e que até então só havia recebido uma leitura dramática na edição do Festival de Teatro de Curitiba de 2011.
     A peça foi destaque na Mostra 2013. Luciana Romagnolli, que ministrou uma oficina de crítica dentro da mostra, disse à Gazeta do Povo que “Devastidão, consegue criar uma cena própria, usando elementos do sistema cênico do Alvim sem se prender a eles. O resultado visual é forte”. Já a crítica feita por Soraya Belusi ressalta “Um desenho meticuloso de luz e sombra que ambiciona fazer ver o invísivel, instaurar tempos e espaços que não se conformam ao presente, criar presenças e mundos cohabitados pelo humano e seus vultos e estados d'alma”.
     O espetáculo busca tirar o espectador do lugar comum, proporcionando/provocando as sensações mais puras de sua essência subjetiva, desconstrói a narrativa aristotélica trazendo densidade e lirismo à plateia. Com delicadeza e sensibilidade já marcadas em outros trabalhos do diretor, a encenação explora a profundidade do texto com muita emoção, utilizando-se também da música que tem execução ao vivo pelo músico/violonista Sergio Penna Laskowski, além das atuações das atrizes Joseane Martinez e Marcilene Moraes. O jogo de vozes, canto, movimentação, elementos cenográficos - que aqui criam mais uma ambiência, juntamente com a iluminação parca, compõem esse espaço/tempo ao qual se pretende transportar o espectador objetivando que este seja capaz de experienciar a potência da alteridade.
     ”Devastidão” é o primeiro projeto da recém-fundada Crisálida Cia de Arte, que já nasce com o intuito de produzir trabalhos de qualidade artística, pesquisando linguagens contemporâneas, agregando artistas e pensando o hibridismo das artes, e tem à sua frente a atriz e produtora Marcilene Moraes.
    As apresentações do espetáculo no Fringe são uma excelente oportunidade para quem quer conferir o trabalho e para aqueles tantos que perderam a apresentação única durante a Mostra do SESI no ano passado.

Serviço:
Espetáculo: Devastidão, de Andrew Know, direção de David Mafra e supervisão de Roberto Alvim. Mostra Fringe de Teatro – Festival de Teatro de Curitiba. Apresentações: dia 04/04, sexta, às 22h; dia 05/04, sábado, às 16h e dia 06/04, domingo, às 20h. Local: Teatro SESI Portão. Ingressos: 20 reais. Elenco: Joseane Martinez e Marcilene Moraes. Participação do Violonista Sergio Penna Laskowski.
 Sinopse:
Em  “Devastidão” vemos a vida de uma personagem se estilhaçar por conta de acontecimentos na infância e seus reflexos na vida adulta. Esta situação a persegue, levando-a as últimas consequências de uma existência atormentada. Drama revelado de maneira subjetiva, fragmentada e crua, é colocado com toda intensidade na encenação, trazendo densidade e lirismo à plateia. Destaque na Mostra SESI-Teatro Guaíra 2013 é a primeira montagem do texto inédito do autor Andrew Knoll. 
Equipe técnica:
Texto: Andrew Knoll
Direção: David Mafra
Elenco: Joseane Martinez, Marcilene Moraes e Sergio Penna Laskowski.
Trilha Sonora Original: Sergio Penna Laskowski
Cenário: Eloir Alberti Jr.
Escultura cenográfica: Manu Daher
Figurino: Karla Lara
Maquiagem: Lilian Alcantara
Iluminação: David Mafra
Arte gráfica: Sergio Penna Laskowski
Direção de Produção: Marcilene Moraes
Apoio: THZ Studio (Estúdio THZ Curitiba) , SESI Cultural, Teatro SESI Portão.
Realização: Crisálida Cia. de Teatro


TANGO, de Patricia Zangaro, estreia em Caxias do Sul. A tradução é de Rogério Viana

TANGO

Com Roberto Ribeiro e Tina Andrighetti

Um homem, uma mulher, um tango, uma relação.  Somos o que dançamos e somos também o detrás do que dançamos.


Dramaturgia - texto de Patricia Zangaro (Argentina) – Direção Ana Woolf  (Argentina)

A paixão do homem que manda, ordena, marca, e ela, o paninho a seus pés.

Música de Gutto Basso

As dinâmicas e clássicas figuras da dança tango para tornar visível e ironizar uma relação permeada pelo machismo.  Violência de gênero?  Um tema com capacidade de problematização e desdobramentos. 

Texto Patrícia Zangaro – Tradução Rogério Viana

Apresentações: em abril  - nos dias 20 e 21 às 20h   -  dia 26 às 18h e 20:30h - e dia 27 às 20h.
Local:  Sala de Teatro Professor Valentim Lazzarotto, do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho.

Tango, um duelo sexual.

Idade indicativa:16 anos.

Tango foi contemplado com o Prêmio Anual de Incentivo à Montagem Teatral da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul

Ingressos a preços populares: inteiro R$20,00 – meia R$10,00 (estudantes, idosos e classe artística)

Venda antecipada de ingressos na Óptica Martinato, fone  54-3221-2390, Av. Julio de Castilhos,  1867 , Centro, Caxias do Sul, RS.

Realização: Grupo Teatro Mecânico e Teatro do Encontro

Informações: (54) 9995-2107 – (54) 8402-2435 - teatrodoencontro@gmail.com – visite o blog www.tangoteatro.blogspot.com.br
 

MENSAGEM SOBRE O DIA MUNDIAL DO TEATRO, POR PATRICIA ZANGARO

Traduzi o texto 27 de março - Dia Mundial do Teatro, escrito pela autora e professora argentina, Patricia Zangaro e publicada no site do CELCIT, de Buenos Aires.

O texto é o seguinte:


27 de março – Dia Mundial do Teatro
Mensagem Nacional, por Patricia Zangaro, autora e professora de teatro na Argentina.
(Publicado no site CELCIT – Buenos Aires)

Tradução de Rogério Viana

Gostaria de compartilhar com vocês duas imagens que obsessivamente impuseram sua presença apenas ao começar o esboço de umas palavras sobre essa celebração e cujo sentido somente fui descobrindo com o correr dos dias.

Um teatro romano. O ator Vernacchio apura seus recursos para expulsar o tédio de uma pequena plateia que permanece distante ao convite do palco. Convencido de que a irrupção do real poderá alcançar o que a mimeses não alcança, pega um machado e decepa o braço de um escravo. Porém, o publico permanece impávido frente àquele pedaço sanguinolento e Vernacchio, num último gesto de desespero, se ajoelha diante de quem não lhe devolveu nada mais que desdém e indiferença.
Um banquete na casa do rico Trimalchione. Um grupo de atores declama em meio de uma orgia de comidas, vinhos e excessos, suprimindo toda distância ritual entre a cena e os espectadores. Os restos do teatro são compreendidos na frase lapidar de um dos comensais: Como eu gosto de comer escutando aos gregos!

O cinema, como a literatura, tem tentado capturar a natureza efêmera do teatro. Somente podemos imaginar o esplendor da tragédia grega através do legado escrito de seus dramaturgos.

Não é por acaso que em sua versão de Satyricon, à qual pertencem as cenas de Vernacchio e Trimalchione, Fellini tenha recorrido ao absurdo de querer fixar em imagens o instante irrepetível do teatro para mostrar através de sua dissolução, a decadência de um império. Toda vez que os gregos fundavam uma cidade, construíam um teatro, sabedores de que esse espaço, onde a polis celebrava os mistério da condição humana, constituía a forma mais eficaz de levar sua cultura aos povos conquistados. Desde então o Ocidente tem edificado e destruído teatros. E nós, da classe teatral, temos persistido em sua reconstrução, às vezes, inclusive, revolvendo seus próprios fundamentos.

Temos insistido, sem chegar aos extremos de Vernacchio, cutucar a sonolência da plateia burguesa apre-sentando em lugar de repre-sentando. Procuramos, também, ainda com finalidades diversas do funesto efeito retratado por Fellini no banquete, colocar o público no centro do espaço ritual, suprimindo toda distância entre a cena e os espectadores. E o teatro, apenas dos embates do poder e do tempo e fortalecido com as múltiplas inovações de seus criadores, tem resistido o passar dos séculos. Porque nada, salvo a voluntariedade de suas partes, pode romper o pacto sobre o que ele se fundou. O teatro pode prescindir de tudo, menos do acordo entre o ator e o espectador, a partir do qual o espaço e o tempo se fundem num círculo mágico, onde tudo é possível.

Por isto, neste Dia Mundial do Teatro, quero celebrar com as centenas de pessoas de teatro em todo o País (Argentina) que mantiveram viva a chama através das expressões mais diversas e que incansavelmente questionam ao poder propondo novas formas de configuração da experiência humana.

Mas desejo celebrar muito especialmente com a imensa quantidade de espectadores que sustentam com a cena aquele pacto fundante. Que constituem, com a contradição de sua ativa presença, a mesma condição do teatro. Porque, como assinala Rancière, ao observar, selecionar, comparar e interpretar o que ocorre no palco, também atuam e realizam um gesto emancipador ao imaginar novos horizontes possíveis de concepção do mundo. Pela classe teatral, então, e pelo público que propicia, com sua participação, o instante fugaz e irrepetível do teatro, cada vez que acorre à festa.