sábado, 19 de setembro de 2009

Loki - Arnaldo Baptista


Assisti, ontem, emocionado, ao filme Loki - Arnaldo Baptista. Minha emoção não foi apenas de ter podido assistir a tantos registros que, para mim, eram inéditos, como também, para poder mergulhar no universo pessoal, musical e artístico do Arnaldo Baptista, criador e filho de Os Mutantes. Fiquei impressionado com a firmeza da direção e da belíssima edição que nos revelou muito mais que um - agora mais - grande artista da nossa música. Fiquei mesmo emocionado de assistir ao mergulho que é feito em toda a vida desse Mutante que, nos idos de 1968 me inspirou a fazer um desenho que eu guardo por mais de 40 anos. Uma das passagens que mais me emocionou é ter ouvido do Arnaldo Baptista a confissão, num tipo de acusação romântica, de que fora "abandonado" por Rita Lee. Ali, naquele momento, eu vi que o menino Arnaldo não conseguiu se perdoar de ter perdido a menina Rita, sua Julieta e ele, um "Romeu" que se moveu dentro dos mistérios do LSD, conseguiu contrariar o fatal destino e sobreviveu, graças a quem de fã se transformou em sua fada madrinha, sua santa protetora, sua salvação: Lucinha Barbosa, sua mulher desde que ele saiu do longo período em coma. Loki, o filme merece ser visto por todos que estão na faixa dos 50 e 60 e poucos anos.

Visite o site do Arnaldo Dias Baptista: http://www.arnaldobaptista.com.br/


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Amostra Grátis - Márcio Abreu e participantes

Fotos do encontro com Márcio Abreu, na oficina AMOSTRA GRÁTIS, dia 17 de setembro de 2009, no Palacete Wolf, da Fundação Cultural de Curitiba.

Márcio Abreu

Márcio Abreu e os participantes

Vanderleia, Luiz, Joanita e Sandra

Osires, Karina, Maria Zenaide e Maria Lúcia

Luiz, Marilza, Dilma e Ângelo

Luiz Reikdal e Marilza Conceição

Os participantes da oficina

Vanderleia, Luiz, Joanita, Sandra e Rogério

Douglas Daronco




Carta ao Inimigo, um exercício

Exercício coletivo – Márcio Abreu – dia 17 de setembro de 2009

Foram reunidos todos os textos dos participantes com as três possibilidades (*) de começo de uma carta inspirada pelo texto do livro A RESISTÊNCIA – Ernesto Sabato – Cia. das Letras. A turma foi dividida em dois grupos com sete integrantes cada.

Cada grupo tinha acesso ao conjunto de todos os textos (conjunto original e cópias).

A partir de todos os textos escrever outra carta e usar os recursos de : evidenciar remetente e destinatário; dar resignificação (usar textos, repetir, alterar, inverter, criar, modificar, fundir etc) e suspender o final (não concluir, deixar em aberto para uma continuação e conclusão).

Só escrever o começo da narrativa (da carta). Sem limite de espaço.

(*) Escrever três possibilidades de começo de uma carta inspirada pelo texto acima referido. Endereçar a alguém. Deixar claro a quem será endereçada. Qual o legado. De 5 a 7 linhas.


Reunião do Grupo Interno e decisões tomadas – O texto tinha que ficar pronto em 15 minutos.

Cada pessoa do Grupo Interno – Douglas, Mimi, Luiz, Vanderleia, Joanita, Sandra e Rogério – escolheu – aleatoriamente – um grupo de textos. Foi sugerida a utilização do remetente UM PAI e o destinatário UM FILHO. A idéia foi descartada e após uma breve leitura, um dos participantes sugeriu um primeiro texto a ser utilizado e, então, decidiu-se utilizar O INIMIGO como destinatário. A partir desse momento, cada participante ficou atento para encaixar parte dos textos em mãos ou escrever texto original para complementar, emendar, dar sentido. Elegeu-se um responsável pelo texto que copiava – poderia sugerir modificações – as frases a serem indicadas pelos participantes. Os parágrafos separados indicam mudança de autor.

O TEXTO DO GRUPO INTERNO

Ao Inimigo,

Encontrei nas ruínas dessa cidade que tanto amei, um mapa, um norte... Agora tudo ficou mais claro, pois vejo que a sua ação destruiu tudo o que me era caro. Estou cada vez mais próximo da compreensão do valor desta vida.

Então pergunto a você: Por que o ser humano está se sentindo cada vez mais solitário rodeado de outros seres humanos? De que vale uma vida? Sinto-me triste e impotente. Onde está a humanidade?

Esses olhos que me fitam do alto e que não são irmãos dos meus. Eles ainda não viram tudo.

O que pode o homem deixar para a humanidade? O que uma formiga representa para o formigueiro?

Hoje, antes de lhe escrever, me detive a olhar as formigas. Quando criança fazia isso com frequência. Impressionado eu observava como elas caminhavam militarmente, dedicadas à construção de seu pequeno mundo.

O meu mundo, o meu quintal, a minha infância e o meu formigueiro você destruiu.

Os tiros vinham de todos os lados. Já não consigo reconhecer a saída. Encontrei uma pista mas ainda não sei o que quer dizer: quando nossos poros não estão tapados pelas implacáveis camadas, a proximidade da presença humana nos sacode.

Não vemos... (para continuar)


TEXTO DO GRUPO EXTERNO

(integrantes: Luiz Reikdal, Marilza Conceição, Dilma Martins, Ângelo, Osiris Duarte, Karina e Maria Zenaide)


Até tu Brutus !!!

Seria exigir demais vossa atenção neste momento ?
O que poderá um homem legar para a humanidade ? Para meu amante Ricardo, deixo todos os meus bens móveis e imóveis, com exceção do conteúdo secreto da gaveta do meio da cômoda do quarto de casal.

É incrível como a natureza humana encontra formas para chamar nossa atenção. Este é o legado de alguém que viveu pouco e que muito amou. Pura e cristalina ingenuidade ! Entretanto onde estará a vida ? Que tempo voraz é este que corrói o ser humano ?

Assim mesmo o deserto avança inexoravelmente. Outrossim, eu sou aquele que escreve errado por linhas tortas. Querem saber de uma coisa ? Todos (incluso nós mesmos) só queremos saber de uma coisa.

Mas que coisa !!!

Sozinhos caminharemos isolados e envoltos na parafernália tecnológica do ontem, quando a minha índole me impede que me cale, porque esgotam-se meus dias ... Escrevo este meu depoimento, e, quero que todos saibam a verdade ! Conquanto eu não tenha mais planos ou esperanças.

Seria pedir demais para vocês, quando puderem ler esta carta a considerem como meu principal legado à posteridade ? E que será um bálsamo para os vossos espíritos. Mas veja que até lá, vocês só terão exatos 181 dias, e depois mais 17 dias ...

E podem me levar agora, se quiserem ... Ou nunca mais me verão ... (para continuar)

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ATENÇÃO

Os textos serão trabalhados, agora, pelos dois grupos, mas um vai trabalhar com o texto do outro grupo.

INCLUIR na continuação dos textos:

Descrever, objetivamente, alguma coisa (a ser citada no texto);

Citar algum fato no campo da MEMÓRIA;

Promover uma CONFISSÃO do Remetente.

O Márcio Abreu indicou a necessidade de trabalhar com a Resignificação dos textos apresentados e que, agora, foram trocados entre os grupos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Oficina do Teatro da Vertigem em Curitiba

CAIXA CULTURAL CONVIDA:

OFICINA DO TEATRO DA VERTIGEM

Destinado a atores, estudantes de teatro, bailarinos e performers

25 e 26 de setembro de 2009

sexta e sábado das 10 às 14h

Local: Teatro da CAIXA – Rua Conselheiro Laurindo, 280 - centro

Serão destinadas 20 vagas para cada módulo (inscrições gratuitas)

O Teatro da Vertigem visa abordar as técnicas das pesquisas desenvolvidas pelos atores do grupo. A base dos treinamentos surgiu a partir das pesquisas realizadas para os espetáculos “O Paraíso Perdido”, “O Livro de Jó”, “Apocalipse 1,11”, “BR-3”, “História de Amor – Últimos Capítulos”- espetáculo que será apresentado no Teatro da CAIXA de 24 a 27 de setembro-, e “A Última Palavra”.

O treinamento corporal, o estudo dos movimentos, o desenvolvimento e a descoberta da palavra são o eixo de pesquisa para os trabalhos realizados pela companhia. A pesquisa na área de interpretação é calcada no depoimento pessoal, e na experimentação de material dramatúrgico através de improvisações, workshops e exploração do espaço da cena. As oficinas não terão foco principal na temática dos espetáculos e sim na dinâmica dos treinamentos que foram realizados para o desenvolvimento do trabalho dos atores.

Módulo I – A Palavra em Cena

6ª feira - das 10 às 14 horas

Objetivo: A palavra como geradora da ação

Coordenadores: Eliana Monteiro e Roberto Áudio

O módulo I desenvolverá as dinâmicas do processo do ator na pesquisa da palavra, estudos de partituras vocais e corporais, exercícios de dramaturgia, trechos de obras literárias e dramatúrgicas serão utilizados para a abertura de repertório e expansão do universo criativo. A criação de cenas a partir de textos criados em sala ou

sugeridos pelos coordenadores, as vivências, improvisações, programas e partituras individuais e coletivas em seus diferentes níveis, assim como os jogos de integração e exercícios de encenação a partir do reconhecimento do espaço, servirão como estímulos para o desenvolvimento do pesquisador/ator e para a criação das cenas, textos e desenho das personagens.

Módulo II – O Corpo em Cena

Sábado das 10h às 14h

Objetivo: A ação como geradora da palavra

Coordenadores: Luciana Schwinden e Sérgio Siviero.

O módulo II desenvolverá o processo do ator nos treinamentos corporais. Estudos de movimentos serão utilizados para a conscientização e expansão do repertório corporal. A relação com o espaço da cena, partitura de movimentos, meditações dinâmicas, noções básicas de anatomia e biomecânica, limpeza e precisão do movimento expressivo, desenvolvimento da memória corporal, propriocepção e equilíbrio, improvisações individuais e coletivas para descoberta de células de movimento corporal e exercícios para irradiação do fluxo energético. Análise e desenvolvimento da cena a partir do impulso, do gesto e de seqüências de movimento. Princípios básicos da ação física também serão pesquisados com o propósito da criação da cena e experimentos performáticos.

Inscrições: vertigem@teatrodavertigem.com.br

Visite o site: http://teatrodavertigem.com.br/site/index2.php

Avaliação de novos textos

Eliane Karas, Nana e Douglas Daronco

Lígia Oliveira e Otávio Linhares

Roberto Alvim vai orientar novos textos dia 22



O coordenador da Oficina de Dramaturgia do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná, Roberto Alvim vai avaliar e orientar novos textos dos integrantes dos dois grupos (turma da tarde e da noite) no encontro da próxima terça-feira, dia 22 de setembro de 2009. A partir das 10h00 e até as 12h00 o encontro será na casa do Damaceno. Após as 14 horas, no Teatro José Maria Santos.

Já confirmaram:

10h00 - Rogério Viana
10h40 - Lígia Oliveira
11h20 - Pagu Leal
12h00 - França

(intervalo para o almoço)

14h00 - Andrew Knoll
14h40 - Cléber Braga
15h20 - Angela Gomes
16h00 - Lucas Komechen
16h40 - Luciana


Cartas, fragmentos, idéias

No encontro de ontem, depois de um longo debate sobre o texto A RESISTÊNCIA, de Ernesto Sabato, e, em seguida, com a leitura do primeiro exercício feito pelos participantes, o Márcio Abreu propôs que cada um escolhesse um dos textos apresentados e fizesse, em casa, um outro exercício, escrevendo uma outra carta, desta vez observando quem escreve e quem recebe a carta. Seria obrigatório a citação integral e literal do texto escolhido.

O exercício é o que apresento a seguir:


Exercício para casa – Rogério Viana

1 – Cada um vai escolher uma hipótese a partir do que ela apresenta como carta.
Quem escreve / Quem recebe - Manter o tema: LEGADO – 15 a 20 linhas

11 – Fragmento - Texto original – Manuscrito de Maria Lúcia – Mimi

Hoje resolvi. Resolvi não me calar. Resolvi expressar minha necessidade, minha urgência pela tua escuta. Se for preciso, acalanto teus olhos, teus ouvidos, tua alma, ou sussurro para que não te assustes. Não, sussurrar não, porque aí sim, posso espantar teus sentidos. Olha. Para.

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O texto que produzi é este:

Meu amor,

Há tempos venho tentando dizer certas coisas. E cadê coragem para tal? Tanto tempo juntos, tanto tempo... Não sei quando, não sei onde, nem imagino como, mas num determinado momento começamos a ficar mudos um com o outro. A surdez era inevitável. A nossa. Haveria remédio para nossos males? A disfunção verbal – não saber ouvir, não saber falar – levou-nos a outros males. Tudo recorrente. A falta de diálogo caminhou para a falta de carinho, o carinho inexistente percorreu um caminho rápido para a falta de amor, faltando amor não tivemos mais sexo. Estabeleceu-se um círculo vicioso, de ausência de palavras, de toques, de atenção. Tudo começava a faltar, ostensivamente. Nas nossas caras, na nossa cama, nas nossas vidas. Temos vida? Sim, temos vida? Começo a fazer indagações. Quero avaliar tudo sem precipitar uma crise maior, uma dor insuportável. Volto a perguntar: Há remédio, um elixir mágico, uma poção, gotinhas homeopáticas ou uma injeção pequenina e tão dolorida para nos salvar? Hoje resolvi. Resolvi não me calar. Resolvi expressar minha necessidade, minha urgência pela tua escuta. Se for preciso, acalanto teus olhos, teus ouvidos, tua alma, ou sussurro para que não te assustes. Não, sussurrar não, porque aí sim, posso espantar teus sentidos. Olha. Para. Sim, para tudo. Olha, preciso que você agora olhe para mim. Sim, olhe para mim, por favor! Você vai perguntar, mas olhar como? Você vai indagar, como esta mulher quer que eu a olhe se não está aqui comigo? Como vai me ouvir se ela ficou surda? Como posso falar se perdi a capacidade de pronunciar um simples oi? Mas quero dizer com todo o carinho que tivemos nos nossos primeiros encontros, no namoro, no noivado rápido e no nosso casamento maravilhoso que é possível estabelecermos um novo pacto. Sim, um pacto. Desse pacto poderá nascer um novo encantamento. Assim, começando, sim, começando pelo que sempre nos foi essencial, poderemos nos apaixonar novamente. Hoje resolvi. Resolvi não me calar. Com coragem, entrego-te meu amor. Olhe. Estou aqui. Aqui

Ernesto Sabato, algumas possibilidades de cartas

Estou participando de uma oficina de leitura com o Márcio Abreu, diretor e autor, um dos integrantes da Cia. Brasileira de Teatro. A oficina que tem o nome de "Amostra Grátis" é uma promoção da Fundação Cultural de Curitiba e conta com a participação de 15 pessoas. São três encontros semanais - de terça a quinta-feira - e começou no dia 15 de setembro e vai até o dia 24 de setembro de 2009 no Palacete Wolf, em frente a Igreja do Rosário, no centro histórico de Curitiba.

No primeiro encontro, Márcio Abreu distribuiu um texto que integra o livro A RESISTÊNCIA, do autor argentino Ernesto Sabato e publicado pela Cia. das Letras. Foi feita uma leitura pelos participantes e cada um leu um parágrafo. Após breves comentários sobre o texto lido, Márcio Abreu propôs, como exercício a ser desenvolvido em casa pelos participantes individualmente, que se escrevesse três possibilidades de começo de uma carta inspirada no texto de Sabato. Seria necessário endereçar a alguém. Qual o legado que a carta teria que apresentar e cada possibilidade com cinco a sete linhas.

Reproduzo abaixo o exercício. E, em seguida, o que realizei atendendo o recomendado.

Exercício proposto por Márcio Abreu

(a partir do primeiro texto do livro A RESISTÊNCIA – Ernesto Sabato – Cia. das Letras)

Escrever três possibilidades de começo de uma carta inspirada pelo texto acima referido.
Endereçar a alguém. Deixar claro a quem será endereçada. Qual o legado. De 5 a 7 linhas.

Os textos que produzi:

01

Querido neto - A milhares de quilômetros daqui um homem vive seus últimos dias. Quantos dias serão? Não é possível precisar. A alguns quilômetros daqui, onde você está, agora, seus pais estão contando os dias para seu batizado. Até lá você vai ter exatos seis meses e 17 dias. Aquele homem, aos poucos, está se despedindo. Você, recém chegado, se prepara para a primeira grande cerimônia que vai participar. Um homem, um grande escritor, se despede da vida. Você, um livro em branco, como será branca sua roupa de batizado. O que liga você e aquele homem sábio? A distância entre vocês é enorme. Só física, porém. O homem que se vai e o homem em formação se ligam pela esperança. Se ligam pelo mesmo nome: Ernesto.

02

Querido neto – Hoje acordei com uma incumbência importante. Fui impelido a escrever uma carta. E a quem endereçá-la? Poderia escrever para uma ex-namorada. Minha ex-namorada é minha atual mulher. Poderia escrever para um homem que vendeu toda sorte de ilusões. Não vale a pena. Hoje ele é mais um político corrupto. Que tal aquela grande atriz? Ah... ela deixou os palcos e hoje só aparece na televisão. Escreverei, então, ao Ernesto. O que o escritor me inspirou para que eu escrevesse a você, querido neto? E o que vou escrever? Nada de muito complicado, nem difícil de ser entendido. Poucas palavras. Ocupe-se com os livros. Faça deles objetos de adoração. Deixe-se seduzir por eles. Homens dignos e bons livros ninguém esquece.

03

Querido neto – Seria exigência demais pedir sua atenção neste momento em que o tempo voa tão rápido para um certo homem, um escritor argentino, um homem quase centenário? Seria pedir demais para que você, quando puder ler esta carta a tenha como meu principal legado? No dia 27 de setembro de 2009 - dia do seu batizado. - aquele homem, um grande e lúcido escritor, estará vivendo o ocaso do seu centenário. E você, o que poderá aprender da lição que o escritor deixou, do que seu avô – eu – agora registra? Tenha em mente que é preciso viver com intensidade, ser simples, olhar as pessoas, conversar com elas. Integrar-se à natureza, ler muito, escrever muito. Cultuar as cores, a beleza, os sons. Ser Ernesto, como ele. Ele Sabato.

Rogério Viana

PS.: Na noite do primeiro encontro - dia 15 de setembro - recebi, durante a oficina, um telefonema de meu filho Rafael, que mora em Rio Claro, interior de São Paulo, informando e convidando-me para o batizado do meu neto, no próximo dia 27 de setembro de 2009. O nome do meu neto, que tem hoje 6 meses e 7 dias é Ernesto. Uma simples coincidência, claro!

Sobre Márcio Abreu visite o site da CBT - Cia. Brasileira de Teatro


Sobre AMOSTRA GRÁTIS


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Com as próprias mãos

Assista ao premiado curta "Com as próprias mãos", de Ali Muritiba, com Andrew Knoll, Ludmila Nascarela e André Luiz Fiechter. A produção é de 2008 e tem 15 minutos.



segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Dramaturgia do futuro

A criação de textos para teatro é instigada e discutida na oficina de dramaturgia do SESI Paraná. Até dezembro, uma série de novas peças serão escritas

Eles podiam estar em suas casas, meditando solitários se as peças que escrevem estão ou não no caminho certo. Também podiam colher opiniões de amigos, ou dos atores que depois vão interpretar esses textos. Seria mais confortável. Mas não. Em uma terça-feira, quase meia-noite, um bando heterogêneo de dramaturgos (de 20 a 60 anos, alguns iniciantes, outros tarimbados) ocupa o palco do teatro José Maria Santos.

Sentados em cadeiras escolares, ouvem atentos um carioca incansável chamado Roberto Alvim (na foto, em primeiro plano) que, com seus comentários, é capaz de reduzir a pó qualquer projeto de peça genial. Esse grupo faz parte de uma oficina de criação dramatúrgica que integra um projeto maior, intitulado Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná. Os encontros da oficina, iniciados em abril, acontecem a cada 15 dias, com duas turmas de 20 pessoas. A ideia é que, até dezembro, cada dramaturgo tenha escrito uma peça nova.

BASE TEÓRICA
A esta altura do ano, as reuniões da oficina estão em uma fase bem prática, mas vale frisar que tudo começou com muita teoria, ministrada pelo dramaturgo, diretor e professor de teatro, Roberto Alvim. “Vocês leram as peças do Pinter que eu passei, né?”, perguntou o carioca já no início de um encontro presenciado pela reportagem.

Harold Pinter (1930-2008), este vencedor do prêmio Nobel e um dos expoentes do teatro do absurdo, é um dos autores contemporâneos mais citados por Alvim, que fala sobre o dramaturgo inglês com a autoridade de um estudioso e de quem encenou no ano passado a peça O Quarto (The Room, 1957).

“As possibilidades da dramaturgia contemporânea se ampliaram muito depois que Pinter aboliu as relações causais em suas peças”, explica Alvim. Ele observa também a seus pupilos como Pinter dosa bastante as informações que fornece sobre seus personagens, diferente de muitos autores que já entregam tudo de bandeja, o que tira o interesse dos espectadores. “E de que maneira a tensão se estabelece nas peças de Pinter?”, interroga, diante da turma silenciosa. “Pinter trabalha com as incertezas. A gente nunca sabe realmente o que está acontecendo nas peças dele.”

Alvim então se empolga e traça esquemas na lousa, expondo as artimanhas utilizadas tanto por obscuros dramaturgos siberianos, feito os Irmãos Presniakov, como pelo roteirista de Sexta-feira 13.

Mas com tanto conteúdo transmitido, faz questão de frisar que ninguém precisa saber de todas as técnicas para escrever uma boa peça. “Se você dominar alguns fundamentos e conseguir dar significados novos a eles, é o suficiente.”

HORA DO CONFRONTO

Cenas recém escritas são lidas e debatidas

Iniciantes ou veteranos, todos os dramaturgos concordam. Não é fácil expor um texto em processo e lidar com as críticas e sugestões inusitadas que surgem na oficina.

“Fico um pouco nervosa antes de ouvir os comentários dos colegas”, conta a dramaturga Pagu Leal, 34 anos, autora de, entre outras peças, Instruções para lavar roupa suja(2007) e Difícil amor (2004). “Ainda mais que não tenho o hábito de conversar muito sobre a minha criação. Sou daquelas que já leva o texto pronto aos atores. Esse diálogo com a turma então tem sido interessante. Um pouco traumático, às vezes, mas interessante.”

Para a dramaturga Giulia Crocetti, 20 anos, a situação é parecida. Mas ela acrescenta que, com o tempo, todos os integrantes da oficina vão ficando mais confortáveis com a ideia de se criticarem mutuamente. “Quando questionaram coisas da peça que estou escrevendo [Rebotalho, a primeira obra que ela pretende concluir], eu adorei. Levei numa boa. Perguntaram, por exemplo, qual era a finalidade de um trem que aparece na minha história [a locomotiva atormenta três personagens chamados A, B e C, que vivem em um futuro apocalíptico, explica a autora]. Percebi então que havia faltado clareza, o que me levou a repensar o que eu tinha feito.”

Também iniciante na dramaturgia, Otavio Linhares, 31 anos, é outro que lida bem com as críticas. “Afinal você não faz arte pra si mesmo, senão você fica em casa”, diz. “Sinto que as pessoas, quando comentam os trabalhos dos outros aqui, fazem com a intenção de ajudar, e não para jogar uma pá de areia.”

Mas quando julgamentos mais duros surgem, e eles sempre surgem, o próprio Alvim deixa claro aos dramaturgos. “Filtrem o que eu disser. Se algo faz sentido pra você, aproveite o conselho. Do contrário, esqueça. Às vezes falo coisas terríveis sobre algum texto, mas o autor insiste na sua ideia e depois me mostra algo surpreendente.”
* LEIA AQUI UMA CENA escrita pelo dramaturgo Otavio Linhares. É a parte final de sua peça (ainda sem título).
NÚCLEO DE DRAMATURGIA SESI PARANÁ
Foto: Franco Fuchs

Roberto Alvim: estratégias de escrita vão para a lousa.

Inspirado em um projeto que acontece em São Paulo, oNúcleo de Dramaturgia SESI Paraná foi implantado no início do ano em Curitiba, para promover diversas atividades em prol da dramaturgia local.

Desde então, autores como Luís Alberto de Abreu, Marici Salomão e as inglesas Roxana Silbert e Tessa Walker(trazidas por conta da parceria entre o núcleo e o British Council) já deram palestras e workshops na cidade. Até dezembro, a previsão é que o projeto receba outros artistas importantes.

O carro-chefe do núcleo é a oficina de dramaturgia, ministrada pelo dramaturgo e diretor carioca Roberto Alvim. As melhores peças escritas na oficina serão publicadas no site do projeto, e existem planos de se fazer uma mostra desses trabalhos no próximo Festival de Curitiba.

“Nosso objetivo é renovar a dramaturgia local. Se o núcleo tiver continuidade, com certeza, daqui a uns cinco anos, já teremos uma cena teatral bem mais fortalecida em Curitiba”, diz o coordenador do núcleo, Marcos Damaceno.

Para Roberto Alvim, o projeto do SESI é válido principalmente para unir uma comunidade de artistas. “Shakespeare, Ben Johnson e outros dramaturgos do período elisabetano saíam juntos para beber. Essas interações são importantes.” Ele lembra também como quase todas as grandes cidades possuem núcleos de criação de teatro. “Isso acontece em Nova York, Berlim ou São Paulo. Não é por acaso que esses lugares são polos de dramaturgia. As coisas não surgem do nada.”

Segundo Damaceno, a procura do público pelo núcleo superou as expectativas e, para o ano que vem, existe até uma lista de pessoas que já deixaram seus nomes para participar da próxima oficina de dramaturgia.

Serviço
Oficina de dramaturgia. Voltada para dramaturgos iniciantes e profissionais. É anual, com encontros a cada 15 dias, ao custo de R$ 12 por trimestre. As inscrições este ano estão encerradas. Interessados em participar no ano que vem podem entrar em contato com o coordenador Marcos Damaceno, pelo e-mail:
contato@marcosdamacenocia.com.br
Palestras e mesas-redondas gratuitas, abertas ao público. Acompanhe a programação no site
www.sesipr.org.br/nucleodedramaturgia


*Reportagem publicada na Revista Ideias nº 93