quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Se você diz: Esta peça, nem me pagando...! Cuidado você pode, sem querer, ganhar R$ 4,00 ou R$ 2,00.

Tem coisas que acontecem na vida da gente que chegamos a dizer: Isto eu não faço, nem morta! Outras vezes, como se fosse rejeitar de uma vez por todas uma possibilidade de assistir a um show de um artista que não gosta, afirma solenemente: Eu não vou assistir, nem de graça!
Pois é, tem, também, uma frase bem repetida, muitas vezes com desdém, mas que retrata, quase sempre, um jeito que as pessoas tem - eu inclusive - para fazer gozação sobre gostos ou preferências de outras pessoas.

Então se diz:
- Esta peça eu não assisto nem que me paguem!

Então... chegou sua oportunidade de ser pago para assistir a uma peça em Curitiba, no Teatro Novelas Curitibanas, a partir de hoje. Se você nunca foi ao teatro, é uma oportunidade. Se já assistiu e acha que já havia visto de tudo - de entrada de graça e teatro vazio, de filas enormes em peças badaladas e caras, de peças com gente pelada, entrada de graça e fila quase virando a esquina - prepara-se para esta promoção inusitada. Pelo que me consta, não há grupos de teatro em Curitiba que estejam "rasgando dinheiro" e que tenham muita grana para brincar de promoção inteligente.

Quer for assistir a peça vai receber R$ 4,00 pela inteira ou R$ 2,00 pela meia entrada. As peças apresentadas no Teatro Novelas Curitibanas normalmente são de graça. Não se paga nada. Mas esta montagem de "Para o vampiro - variações no. 1", vai romper com a regra e pegar pelo rabo - ou belo bolso - quem um dia disse com desprezo: Peça desse autor, nem que ele me pagasse.

Se você acha que isso é gozação - e não é mesmo - vá ao Teatro Novelas Curitibanas (veja a matéria publicada pela Prefeitura de Curitiba, ao qual o teatro é vinculado). E saia de lá com dois ou quatro reais. Aplaudindo ou xingando, ainda mais, o autor e diretor que você possa detestar.

Mas para fazer uma conta rápida do volume de dinheiro que o produtor da peça "Para o vampiro - variações no. 1", vai desperdiçar, vai uma continha rápida.

Número de lugares no Teatro Novelas Curitibanas - em média 40 lugares.

São 20 lugares para estudantes e mais 20 lugares para público normal.

Para 20 estudantes x R$ 2,00 = R$ 40,00 + 20 espectadores x R$ 4,00 = R$ 80,00, o que totaliza R$ 120,00 por apresentação. Sendo quatro apresentações por semana, são R$ 480,00 por semana. Serão cinco semanas = 5 x R$ 480,00 = R$ 2.400,00.

O dinheiro vai sair de onde? Do cachê do produtor? Ou do cachê do autor-diretor? Ou o valor será repartido entre as duas atrizes e o ator mais o diretor?

Bem, da forma como for, o dinheiro oferecido vai sair da verba que o projeto do Teatro Novelas Curitibanas, pois é de lá que todos vão receber seus cachês e vão poder cobrir as verbas gastas com cenário, figurino, trilha sonora, divulgação (cartazes, folhetos, flyers etc).

Quem não quiser o dinheiro que será "doado" aos presentes, poderá, então, fazer uma doação para alguma instituição de caridade que precisa demais de dinheiro. Ou será que a contrapartida social que o projeto apresentou previa este tipo de atividade? Se não for, devemos dizer que "brincadeira tem hora, não é?".

Mas não se engane. Você está pagando muito mais que isso. Com seus impostos, as taxas, o IPTU, a tarifa de ônibus que você vai pagar mais nos próximos dias.

Público é pago para assistir a peça de teatro



O público que for assistir à peça de abertura da temporada 2012 do Teatro Novelas Curitibanas, nesta quinta-feira (16), terá uma surpresa logo na entrada. Além de não pagar o ingresso, ainda vai receber em espécie para conferir “Para o Vampiro – Variações nº 1.”

Em todas as apresentações, a Marcos Damaceno Companhia de Teatro pagará R$ 2 para os estudantes. Quem não tiver carteirinha ganhará R$ 4. “Colocaremos pessoas para distribuir o programa, entregar o bilhete de entrada e fazer o pagamento do dinheiro, integralmente desembolsado por nós”, comenta o diretor e dramaturgo Marcos Damaceno, que teve a peça aprovada por edital para receber recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura (PAIC) da Fundação Cultural de Curitiba.

Para a diretora de Incentivo à Cultura da Fundação Cultural, Ana Maria Hladczuk, a atitude é inovadora. “É uma quebra de paradigma. E a companhia está despendendo recursos próprios, já que os destinados ao projeto aprovado pelo Fundo Municipal de Cultura são para o custeio da produção do espetáculo, para pagar, por exemplo, cenografia, trilha sonora, figurino, alimentação e outras atividades.”

A peça é pontuada por questionamentos sobre o mercado teatral e o pagamento da obra artística. O ator Samir El Halab faz o papel de um dramaturgo que tem dificuldade em desenvolver uma obra para ser ensaiada em sete semanas.

Ele considera pouco tempo, mas se vê obrigado a aceitar por questões financeiras. A concessão ao seu método de trabalho prejudica o processo. “É como se o escritor fosse um vampiro que se alimenta do texto de outros atores e não consegue avançar na criação de uma peça original”, descreve Damaceno.

Poesia - Algumas das características marcantes da peça são pautadas no tom poético, com repetições e variações, além do cuidado minucioso com a musicalidade e ritmo das frases.

O personagem, um escritor recluso e famoso na cidade de Curitiba, atua em um estado próximo ao delírio ou devaneio, quando seus pensamentos, lembranças e imaginação fluem de forma lírica em certos momentos e, em outros, apresentam-se macabros e pesarosos.

Em alguns trechos, tais pensamentos são imaginativos e medianos, para logo em seguida flertarem com a filosofia e o sublime, tornando-se expansivos, contraditórios e com confusões e associações próprias da consciência de qualquer pessoa.
Cada apresentação no Novelas Curitibanas será diferente e  servirá para aprimorar o trabalho. É o que se chama no meio teatral de working in progress.  Participam da peça as atrizes Rosana Stavis e Maia Piva.

“Gosto de sacudir, provocar. Essa inversão de valores com o pagamento na entrada deve provocar vários questionamentos. É uma liberdade para o artista não estar amarrado à necessidade de fazer a bilheteria”, reflete Damaceno, que aponta o espaço Novelas Curitibanas como perfeito para esse tipo de experimentação, para desenvolver pesquisas.
Serviço:Espetáculo teatral “Para o Vampiro – Variações nº 1”Data e horário: temporada de apresentações de 16 de fevereiro a 18 de março de 2012, às 20h (de quinta a domingo)
Local: Teatro Novelas Curitibanas (Rua Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco)
Ingresso: a Marcos Damaceno Companhia de Teatro pagará R$ 2 para os estudantes. Quem não tiver carteirinha receberá R$4.




As dramáticas do deus polissêmico

Com rubor na face, face a face com sua estupefata plateia, ele subiu numa das cadeiras. Depois, num pulo, ficou em pé sobre a mesa. Balançava os braços freneticamente. Apontava com o dedo o que estava escrito em um amontoado de papéis. Batia, depois, com a palma da mão sobre os escritos. O que acabara de ler. Parecia estar em transe. Um transe enfurecido. Louco. Tomado por sentimentos jamais expressos diante deles.
- Discípulos, estou falando com vocês. Se não se orientarem com meus ensinamentos e não resolverem me honrar com sua cega obediência, então eu farei cair sobre vocês uma maldição – hão de maldizer, hão de dizer com má dicção, hão de sofrer todos os infortúnios de uma língua que não será nem entendida, nem aceita, nem reconhecível. E amaldiçoarei tudo o que vocês recebem pelo esforço que fazem. Aliás, já os amaldiçoei porque vocês não acataram minhas ordens nem meus preceitos. Castigarei os seus escritos, os seus textos, as suas ideias e esfregarei na cara de vocês toda essa merda de vocês que foram oferecidas como sacrifício, como resultado do trabalho de conclusão de nosso curso. E, além disso, vocês serão levados para o único lugar onde essa merda toda deve ser jogada: a latrina da história da dramaturgia mundial.
Não se ouvia nada. Apenas o resfolegar do peito arfante dele.
- Eu sou um tipo de Malaquias. Não! Não sou Malaquias falando como se de deus fosse representante. Eu sou o próprio deus! Calem-se as vozes contrárias. Não ousem enfrentar-me! Esfregarei em suas caras toda essa merda de vocês que foram oferecidas como sacrifício!
Numa posição menos propícia a ser vista, ela, timidamente levantou seu dedo.
Ninguém percebera o sutil movimento do dedo daquela menina com aparência frágil, escondida.
Ouviu-se, então, um trovão:
- O que você imagina querer? Não se atreva a me interromper! Você é, como todos aqui, insignificante merda! Merda da merda da merda da merda!
O dedo encolheu.
Mas ledo engano se imaginar que se recolhera por medo. 
Diante do insucesso que a desiludira, machucara, aniquilara, nada mais fazia medo. O que poderia vir não seria inesperado. Ela vencera o medo. E sua ação ela faria com altivez. Não oferecendo o outro lado da face para uma nova porrada. Sabia que face a face, diante da estupefata plateia de cordeirinhos silentes diante do altar do sacrifício, ela poderia, finalmente, dizer o que pensava. Sem temores servis. Com a coragem que pudesse, naquele instante, resgatar. Resgatando não se sabe de onde. Mas dizendo com sua voz de soprano, afinadíssima:
- Não gosto do modo como algumas pessoas gostam de tirar a gente do eixo impondo suas formas diferentes de agir e de pensar!
A voz de trovão ecoou mais forte ainda:
- Não ouse desafiar-me desafinada menina!
Ela, subindo em sua cadeira, ousou por os pés na cadeira do seu assustado colega, e continuou:
- ... todos têm direito a reagir a estímulos positivos e negativos da forma mais conveniente. Quem me conhece sabe que tenho estopim curto. Que não deixo barato. Que não levo desaforo para casa. Nem dou o outro lado da face para bater. Bateu levou. Porrada respondo com porrada! Sempre falo o que sinto, que não abandono uma discussão se meus argumentos são sustentáveis. Agora quem argumenta sou eu. E você, infeliz e pretenso deus polissêmico, feche a sua latrina e ouça. Ouça por todos os orifícios do seu corpo, desse seu corpo informe, desse seu corpo sem órgãos. O que me tira a paz é quando sinto cerceadas as minhas ações, reações. Ouça com atenção. A você eu não dou o direito de apontar, em mim, o que seja direito ou o que não seja direito. Não lhe dou esse direito, pois direito você não tem. Não gosto, não quero, não deixo. Não gosto do que disse. Não quero aceitar o que disse. E não deixo o que disse ser transformado em minha verdade! Pois nem verdade ela é.
O dedo que fora recolhido começou a surgir, lentamente, entre os demais. Um dedo médio. Um dedo agora constituído de uma arrogância. Um dedo delicado, mas firme. Um dedo exibido, fálico. Um dedo potente.
Ela disse:
- Chupe!
Saltou da cadeira. Cuspiu no espaço entre as cadeiras e o altar daquele afrontado e pretenso deus. 
Ao sair, apagou a luz da sala.
Silêncio.
Em seguida, esparsos aplausos.
Depois, alguém exclamou: Bravo! Bravíssimo.


(o texto foi construído, a título de exercício, com um capítulo da Biblia - Malaquias 2: 1-3, e com um comentário feitos pela cantora e professora Cris Lemos em seu mural no Facebook. O texto, no entanto, foi inspirado em um professor de dramaturgia e numa aluna que reluta em seguir suas orientações teóricas, mas teima em assistir suas aulas. Ela não tem coragem de chutar o balde e abandonar as aulas que detesta, mas que, ao mesmo tempo, provocam nela tantos sentimentos contraditórios)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SESI Paraná vai divulgar em seu site todos os textos de integrantes do seu Núcleo de Dramaturgia de 2009, 2010 e 2011


A pedido da Anna Zétola, da Gerência de Cultura do SESI Paraná, estou publicando, aqui, a lista de nomes de integrantes da Oficina do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, que participaram nas turmas da tarde e da noite no ano de 2009. Não é uma lista completa, mas é a lista das pessoas com as quais tive contato e que sei que participaram das atividades da Oficina naquele ano.

O pedido da Anna Zétola tem uma razão. Segundo ela informou, o SESI Paraná "vai colocar no site um espaço com textos produzidos por todos os alunos do núcleo para divulgar as obras".  

O SESI Paraná também vai elaborar um contrato de cessão de direitos autorais para que possa divulgar em seu site os textos produzidos pelos integrantes de sua Oficina de Dramaturgia nos anos de 2009, 2010 e 2011. 

Em e-mail que enviei para a Anna Zétola, ontem, informei a ela que em 2009 todos os integrantes da Oficina de Dramaturgia que escreveram textos - alguns não escreveram textos e alguns que escreveram foram selecionados e publicados em livros em 2010 - assinaram um contrato de cessão de direitos autorais que foram entregues, à época, para Marcos Damaceno, então coordenador da Oficina de Dramaturgia. 

A Anna Zétola também quer que eu forneça a lista de integrantes das turmas seguintes - de 2010 e 2011 - mas, infelizmente não tenho os nomes dessas pessoas, embora saiba nomes de algumas pessoas que participaram ou se inscreveram nas tais turmas - iniciantes ou avançados - no ano de 2010 ou 2011.

São esses os nomes que pude resgatar no meu cadastro - turmas de 2009.

Forneci para a Anna Zétola nomes e e-mails.

Alessandra Flores
Cláudia Brito
Cléber Braga
Cynthia Becker
Douglas Daronco
Eliane Karas
Humberto Gomes
J.D. Baggio
Ligia Oliveira
Lucas Komechen
Marcelo Bourscheid
Nana Rodrigues
Otávio Linhares
Pagu Leal
Sabrina Lopes
Sueli Araújo

Outros nomes, que não tenho registrado e-mails, são estes:

Alexandre França
Patrícia Kamis
Preto
Bárbara Lia