quinta-feira, 26 de maio de 2011

A essência da música caipira no Paiol

Zé Mulato e Cassiano


Bom humor, ingenuidade e romantismo são alguns dos ingredientes da obra da dupla caipira Zé Mulato e Cassiano que se apresentam nos dias 3 e 4 de junho, sexta e sábado, às 21 horas no Teatro Paiol (Praça Guido Viaro, s/nº). Na ocasião o Trio do Trem – formado pelos músicos Oswaldo Rios, Nélio Spréa e Junior Bier – serão os anfitriões da mais autêntica dupla caipira do Brasil e prometem uma noite com muitos causos e, melhor de tudo, com muita música raiz como toadas, modas-de-viola, batuques, valseados, cururus, xotes e pagodes-de-viola.

Zé Mulato e Cassiano completaram trinta anos de carreira. São herdeiros de uma tradição que sintetiza o humor de duplas famosas das décadas de 20, 30 e 40, como Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho, entre outras. O Trio do Trem é formado por três violeiros-cantadores que tem na bagagem uma história de dedicação à música caipira.

A dupla participa ainda de um bate papo no Conservatório de Música Popular Brasileira, localizado na Rua Mateus Leme, 66 - Largo da Ordem, fone 3321-3208.

As apresentações fazem parte do Edital Música no Teatro Paiol. Projeto apoiado pelo Fundo Municipal de Cultura de Curitiba – Programa de Apoio e Incentivo à Cultura.
Trio do Trem


Serviço: 
Trio do Trem convida Zé Mulato e Cassiano.
Show de música caipira. 
Sexta e sábado, dias 3 e 4 de junho, às 21 horas no Teatro Paiol (Praça Guido Viaro, s/nº). 
Ingressos R$15 e R$7,50 (meia-entrada). 
Informações: (41) 3213-1340. 
Classificação: Livre.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A tradução de "O Leitor por Horas", de Sinisterra

Concluí a tradução de "O Leitor por Horas", do escritor espanhol José Sanchis Sinisterra. O texto, cuja tradução não sei por quem foi feita, talvez pela própria diretora, já foi montado e dirigido em 2006 por Christiane Jatahy (leia referência sobre a montagem aqui), no Rio de Janeiro com Ana Beatriz Noguei, Luciano Chirolli e Sebastião Vasconcelos. Jatahy ganhou o prêmio de melhor cenário com "O leitor por horas" (leia matéria aqui).

A relação entre um pai violento, rico e super protetor (Celso), um professor desempregado (Ismael,o que faz as leituras) e a filha cega (Lorena) para quem são lidos vários romances, é trabalhada por Sinisterra que inclui no seu texto algumas citações de grandes autores, como Laurence Durrell, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Joseph Conrad, Juan Rulfo, Arthur Schnitzler e o próprio Sinisterra que cita seu trabalho numa das leituras que o personagem Ismael faz para a arrogante Lorena.

Abaixo uma das cenas, na parte final da peça - são 17 cenas.

(...)


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Celso – (lendo) “...já que os três somos outras tantas ilusões que ele engendrou; e suas ilusões formam parte de você, o mesmo que a carne, os ossos, as recordações... Estaremos reunidos no tormento, já não será necessário recordar-se do amor e a impureza, e pode ser que no tormento já não se lembre do porque que ali está. E se não recordamos tudo isto, o suplício não há de ser tão terrível.” (pausa) É um plágio. Um plágio descarado.

Ismael – Há coincidências, sim...

Celso – Um plágio vulgar... que, além do mais, ofende ao original.

Ismael – Eu não diria tanto.

Celso – E não é que eu goste especialmente de Faulkner, pelo contrário. Mais de um livro dele caiu em minhas mãos. Porém...

Ismael – Haveria que distinguir o plágio, como você o chama, de outras... de outras formas de influência... A pegada que todo grande autor... As marcas... inevitáveis, claro, dos mestres sobre... E não somente dos mestres. Às vezes, autores medíocres, obras de segunda ou terceira categoria... exercem uma... Pense, por exemplo, em Dujardin... Quem se lembra dele, hoje... à parte, os críticos, claro?... Sim: Édouard Dujardin, um autor dos mais medíocres. Ninguém o lê hoje... E este romance, Les lauriers sont coupé, o quê? Nada? Um romancezinho sim... Mas aí está... Inventou, por casualidade, o monólogo interior e... Sim, pelo menos foi Joyce quem o leu... Há outras formas de... Isto tem um nome... Quero dizer: estas marcas, esta... penetração de uns textos em outros, entende? Tem um nome: intertextualidade. É mesmo a vida da literatura... Em toda obra há... outras obras. Os textos circulam... há fluxos, entende?... Intertextualidade, sim... É mais que uma influência concreta... Ou menos... Penetrações... involuntárias, inconscientes, se quiser... Mas, plágios? Eu não diria tanto. (pausa) As grandes obras, os mestres, deixam como... como rastros a cada passo... É inevitável que... Nem tudo é inspiração, nem talento... É inevitável que as leituras deixem... um resíduo, um fermento. Às vezes são... texturas concretas... Quero dizer... paisagens, ritmos, configurações que... A originalidade não... Ou seja: absoluta. A originalidade absoluta é uma ilusão, ninguém a... Sempre há leituras, texturas concretas que vem de... É inconsciente, claro... A inspiração muitas vezes necessita... Todo escritor sabe o que isto... Estes momentos... Anos, às vezes anos inteiros em que... (pausa) Como o encontrou?

Celso – Um dos meus assessores, livreiro de velhos...

Ismael – Todo escritor conhece estes momentos, estes períodos de... Inclusive os grandes, não é? Inclusive os gênios. Períodos em que parece que já a inspiração... ou como queira chamá-la... Buscas, buscas dentro de si... ou fora... E somente há medo... A gente acredita que escrever é... Eu não entendo estes jovens romancistas... Bom, você diz que não os lê. Mas é incrível: produzem um romance por ano... E todos são magníficos, segundo a crítica... Um romance por ano, você imagina isto? Como podem...? Claro: o tempo os vai varrer, como se fossem... Mas as lê e... não estão mal escritas, não: há perspicácia, imaginação, desenvoltura... Nada mais, claro. Não passarão para a história. O tempo os varrerá... Mas são editas, vendem, sim, e se fala deles... Claro: arranhando um pouco e descobre-se que leram tudo, que aprenderam a lição, que estão em dia... Mas ninguém fala de plágio. É curioso, não é? (pausa) Não é o famoso medo da página em branco. Ou, então, tudo é uma página em branco... A sinistra brancura de Melville...

Celso – (depois de uma pausa) Falei de você... E me veio a lembrança do seu nome. Parece que o editor mandou recolher todos os livros, quando se levantou o assunto. (pausa) Há parágrafos inteiros quase copiados.

Ismael – Eu não diria...

Celso – E sabe por que me lembrei do seu nome? (ri) Porque seus outros dois romances, os primeiros, se ofereciam por quilos... É verdade isso?

Ismael – Tive problemas... com a distribuição.

Celso – Desculpe-me, vai pensar que brinco com você, mas...

Ismael – Não me compreende... Este medo o volta a um... É como um pânico que dura e dura... Os anos passam e... Sim: escreve, não para de escrever, mas percebe que aquilo não... não interessa a ninguém. Não interessa nem a você mesmo. Nasce como cinzas. E vai o envolvendo... não sei: permeável? Lê como um louco, buscando não sabe o que, e deixa que tudo aquilo o... o penetre... Essa escrita vigorosa, conquistada... Já que o seu não vale, já que você não é ninguém, deixa impregnar-se por...

(...)

O melhor da música caipira, da música de raiz

Pelo menos é o que percebo pela ilustre presença dos irmãos Zé Mulato e Cassiano com os outros músicos daqui de Curitiba, nos dias 3 e 4 de junho, às 21 horas, no Teatro Paiol. Vou pegar mais informações sobre o programa das duas apresentações e do encontro dos músicos lá no Conservatório de Música Popular Brasileira.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A estreia de "África ... um continente", em Buenos Aires

Stella Matute e Alejo Ortiz
Recebi de Patricia Zangaro, o seguinte comentário sobre a estreia de "África ... um continente" ontem a noite, no Teatro del Pueblo, em Buenos Aires. Patricia é a autora do texto que, no mês passado, fiz a tradução para o português. Para ver as fotos da estreia, acesse aqui pelo Facebook.

Umas poucas palavras sobre a estreia

Domingo chuvoso em Buenos Aires. É o crepúsculo, a hora da melancolia. Um punhado de espectadores toma a sala pequena do Teatro del Pueblo. Quatro atores se prepararam durante vários meses sob o olhar atento de Alejandro Ullúa e sua equipe de colaboradores para dar vida a um mundo que até então somente existia nas evocações da letra. A luz acende sobre "África ...um continente". Um território que alguma vez foi meu e que agora, graças a este pacto sagrado entre atores e público, conquistou sua autonomia. Seus, a tensão e o silêncio. Suas, a perturbação e algumas lágrimas. E, a partir de agora, o aplauso, comovido, do final.

   
Patricia Zangaro    

Stella Matute, Verónica Hassan, Matias De Padova e Alejo Ortiz

Ficha artística e técnica de "África ...um continente"

Autora: Patricia Zangaro
Elenco: Alejo Ortiz, Stella Matute, Verónica Hassan, Matías De Padova
Assistência de Direção: Florencia Ravera
Assistência de produção: Sofía Kiguel
Assistência de Cenografía e Figurino: Laura Muñoz e Camilo Caycedo
Fotos: Fuentes2Fernandez Fotografías
Música e trilha sonora: Sergio Vainikoff
Desenho de Iluminação: Matías Iaccarino
Desenho de Cenografia e Figurino: Valentina Bari
Produção Executiva: Andrea Montaldo
Assessoria de Imprensa: Simkin & Franco
Direção: Alejandro Ullúa
Sofia Kiguel, Valentina Bari, Matias de Saavedra,
Patricia Zangaro, Alejandro Ullúa, Flor Ravera e Andrea Montaldo
Fotos cedidas por: Fuentes2Fernandes Fotografias - Buenos Aires

domingo, 22 de maio de 2011

El lector por horas, uma nova tradução a caminho

Há dias fui procurado por Lorita Rivera, atriz que trabalha na Secretaria de Cultura do Paraná e que desenvolve um trabalho no qual aparece como um dos focos de sua atenção o professor, diretor e autor espanhol José Sanchis Sinisterra. Lorita soube que eu havia traduzido alguns textos teóricos de Sinisterra e pediu que eu lhe enviasse.

Numa visita que fiz à Secretaria de Cultura, quando fui conversar com meu conterrâneo Rodrigo Fornos, que por sinal também torce para nosso querido Santos Futebol Clube (ele e eu nascemos em Santos), acabei conhecendo pessoalmente a Lorita Rivera. E ela comentou que tinha um livro, uma edição espanhola de uma das emblemáticas peças teatrais de Sinisterra, EL LECTOR POR HORAS. Demonstrei interesse em ler a peça, no livro. 

Na semana passada, Lorita informou-me que ia entregar-me o livro para eu ler. Foi o que fiz. Passei e peguei o livro com Lorita. E o li de uma só vez.

Hoje, agorinha mesmo, enviei um e-mail anunciando para Lorita que tinha iniciado a tradução daquela peça de Sinisterra, que não conheço que tenha alguma tradução feita para o português.

O teor do e-mail diz assim:

Fiquei muito interessado não só na leitura de EL LECTOR POR HORAS, como também para entender melhor o texto do qual já havia lido algumas referências. Andei pesquisando um pouco mais e cheguei a dois trabalhos onde EL LECTOR POR HORAS é estudado mais a fundo. Num deles de Saúl Garnelo Merayo e que tem o título de "A estética da recepção segundo Sanchis Sinisterra: El lector por horas", o autor elabora uma série de comentários e analisa profundamente as escolhas dos pequenos trechos de conhecidos romances que Sinisterra utiliza para contar a fábula de Celso (o pai), de Ismael (o leitor) e de Lorena (a filha, cega). Há muita intertextualidade no que escreve Sinisterra. Como dizia Umberto Eco, "os livros falam entre si". E nesta conversa de livros e de leitores, chega-se à figura do que é definido como "leitor implícito, ideal ou modelo", aquele que tem o poder - por ler muito, se informar muito - de descobrir certas citações que faz um autor sobre outro quando escreve alguma coisa.

E na tentativa de aprender um pouco mais sobre dramaturgia e os caminhos que são percorridos para se chegar a textos mais trabalhados, mais complexos, até, é que não resisti e iniciei a tradução da peça.

Ela é maravilhosa. Sinisterra é mesmo um "maestro". Tece os diálogos com uma precisão e o faz sempre deixando "buracos" para que nós, leitores como Ismael, descubramos alguns fios soltos cujas pontas, com certeza, nos levarão a certos entendimentos que formularemos no final, ou logo depois, de termos nos deparado com o texto total de O LEITOR POR HORAS. É o que estou fazendo. Li de uma só vez. E agora, na tradução, estou tentando não só traduzir de um modo mais preciso, como também, tento, como leitor, não como tradutor, juntar as certas (ou seriam incertas) pontas de um fio (ou de vários fios) que Sinisterra deixa soltas para nos mostrar não só sua maestria dramatúrgica, como também, sua atenta forma de brincar com pretensos "leitores modelos, ideais, implícitos" como eu, como você, também. 

De brincar, provocando as pessoas que se interessam por um texto que traz a marca do gênio e da criatividade daquele espanhol de Valência que mora em Barcelona, onde desenvolve seu importante trabalho no teatro espanhol.

Quando o texto estiver todo traduzido vou enviar a quem por ele se interessar.