quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Passo a passo para doar para o projeto de montagem da peça O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI


Muitas pessoas tem perguntado se é muito complicado e burocrático fazer doações - mesmo muito pequenas - para um projeto aprovado pela Lei Rouanet.
Estou trabalhando com dois projetos aprovados pela Lei Rouanet.
O primeiro é para a montagem da peça teatral O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI que terá 12 apresentações em Curitiba em 2012.
O segundo é para circular com essa montagem por cidades do interior do Paraná, por São Paulo e por cidades do interior paulista.
A resposta para a pergunta dos interessados é "não".  Não é complicado. É muito simples e rápido.
A pessoa interessada (pessoa física) tem apenas que ter interesse e demonstrar que esse interesse é real.
E o que deverá fazer a partir de demonstrar seu interesse?

É simples.

Vai um passo a passo:

1 - O apoiador tem interesse.
2 - Se for pessoa física pode doar até 6% do valor do seu imposto de renda, se for empresa, pode doar até 4%.
3 - Então o interessado se informa pela declaração do ano anterior do seu IR e calcula os 6% (pessoa física). Se pagou R$ 5.000,00 pode doar até R$ 300,00 (exemplo). Se pagou R$ 10.000,00, poderá doar R$ 600,00. E assim, progressivamente.
4 - Informa por e-mail, então o valor que quer e que vai doar e junto informa seus dados (nome completo, endereço completo, telefone, CPF e RG).
5 - A empresa produtora emitirá um RECIBO padrão da Lei Rouanet. Uma via fica com o doador, outra via com a produtora e a terceira via vai para o Ministério da Cultura.
6 - De posse do recibo - que o doador poderá receber por e-mail (em PDF), o doador vai até uma agência do BANCO DO BRASIL e faz o depósito na conta indicada. Pode fazer a transferência direta do seu banco para o BANCO DO BRASIL, na conta vinculada do projeto.
7 - Guarda o recibo e na próxima declaração do IR poderá abater o valor doado.
8 - E o projeto e nós do projeto vamos agradecer pelo apoio. Sempre lembrando que você, com sua doação, saberá muito bem o que seu IMPOSTO DE RENDA gerou: arte, emprego, cultura e movimentou toda a cadeia da economia criativa do Paraná.

Para saber mais detalhes sobre o projeto, basta abrir o seguinte link, clicando aqui.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Iniciada a captação do projeto de montagem da peça O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI

Capa do projeto - Plano de Patrocínio

O projeto de montagem da peça O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI - Pronac 115248 - publicado no Diário Oficial da União em 5 de dezembro de 2011, já iniciou a captação de apoiadores, com base na doação de até 6% do Imposto de Renda (pessoas físicas) e de até 4% do Imposto de Renda (pessoas jurídicas). Três pessoas físicas já doaram e efetuaram depósitos na conta vinculada ao projeto no Banco do Brasil.

O projeto com seus detalhes poderá ser baixado no link O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI. 


Sobre o projeto


O dia em que morreu Leminski é um espetáculo teatral, uma evocação poética, uma fábula inspirada na vida do controvertido e polêmico escritor e poeta paranaense Paulo Leminski, morto em 1989, aos 44 anos e que é, hoje, objeto de estudos e de pesquisas em universidades por todo o País em dissertações de mestrado e teses de doutorado, mas sua obra é pouco conhecida e lida entre a população de leitores brasileiros.

O título da peça refere-se ao dia 7 de junho de 1989, dia em que morreu Leminski e também a cantora Nara Leão, cuja lembrança também é citada na peça.

O projeto foi aprovado pela Lei Rouanet e consta de duas etapas:

Montagem - Pronac 115248 - primeira etapa -, 12 (doze) apresentações em Curitiba (PR). 

Circulação - Pronac 115264 - segunda etapa -, com mais 19 (dezenove) espetáculos, será levada para 8 (oito) cidades do interior do Paraná – Araucária, Cascavel, Loanda, Londrina (2), Maringá, Paranavaí, Ponta Grossa e Toledo; em São Paulo (3) e em 6 (seis) importantes cidades do interior de São Paulo como Campinas (2), Ribeirão Preto, Sorocaba, Piracicaba, Rio Claro e São Carlos.

Duração do projeto: 7 meses

Início: Fevereiro de 2012

Término: Agosto de 2012

Serão destinados gratuitamente 30% dos ingressos para alunos e professores de escolas públicas nos dois estados e formadores de opinião, dentre eles artistas, jornalistas.

Em cada cidade atendida pelo projeto os patrocinadores e/ou apoiadores poderão realizar ações de marketing institucional ou promocional, antes ou após cada espetáculo.

Valor do patrocínio/incentivo pela Lei Rouanet

Montagem - Primeira etapa R$ 103.400,00

Circulação - Segunda etapa R$ 164.300,00

Total das etapas R$ 267.700,00

Custo médio por apresentação: R$ 8.636,00


Conheça o texto da peça O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI, clicando aqui.

Veja aqui tudo o que já foi publicado sobre a peça O DIA EM QUE MORREU LEMINSKI.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Eternamente, um olhar sobre a solidão e o amor

Assisti ao curta ETERNAMENTE, do Beto Carminatti (premiado em 2003 e que pode ser visto neste link) e escrevi o seguinte comentário:


Eternamente


Ninguém pode estar sozinho tendo tantos desejos, tantos sonhos, tantas lembranças irrealizadas, tantas frustrações. O personagem vivido pelo expressivo ator Rodrigo Ferrarini em “Eternamente”, belíssimo curta premiado de 2003, de Beto Carminatti, em seu mundo virado pelo avesso, voltado para si próprio integra-se a esse microcosmo em que é seu abarrotado quarto onde ele vive apenas com o que está preso às paredes – fotos de mulheres belíssimas e inacessíveis – no amontoado de sentimentos não expressos e representados por um amontoado ainda maior de coisas sobre a cama e em seu entorno. Tudo isso passando por um olhar perdido, na sombra forte e que é tudo revelado num longo passeio que a lente faz sobre o universo daquele homem.
Ao fundo, um locutor de rádio, de um programa popular, onde almas perdidas oferecem a possibilidade de encontro com outras almas ainda mais perdidas, anuncia o desejo de uma mulher. Aquele homem ouve tudo com uma plácida angústia. Quase imóvel, sem mover nenhum músculo, apenas o olhar perdido, nostálgico talvez de tempos que ele, com certeza, nunca conheceu. De tempos de amor, de amor não consumado. De amor desejado de um modo tão diferente, pois é um amor desejado e que, aquele homem, se imagina abandonando as esquinas obtusas de sua vida, as personagens femininas que ele reconhece apenas nas difíceis vidas de mulheres de “vida fácil”, no baile que ele imagina e onde jamais pode dançar, enlaçando uma mulher real em seus braços. A fumaça de um sempre presente cigarro, a única coisa real que existe apenas no instante em que sai da ponta do cigarro e se perde nos ares. Como se fosse, como fumaça, os sonhos, os desejos daquele homem silente. Daquele homem que sonha. E que de ouvidos atentos espera que um milagre aconteça.
O locutor anuncia o encontro. Será numa praça. Numa praça real onde predomina um casal de pedra, um casal imenso, um casal poderoso que, há anos permanece bem próximo, mas imóvel. Preso pela arte e pela criação do escultor, mas impossibilitados de se tocaram ou de olharem-se por outros ângulos. São estas duas estátuas que formam este casal na praça que erroneamente é chamada de “Praça do Homem Nu”, que o encontro tão desejado é marcado.
A trilha sonora, nos momentos iniciais, com tristes músicas sertanejas, saudosas, vai, aos poucos ganhando os toques da tecla de um solitário piano, depois, o som de um acordeom, ainda mais triste.
Parece ser o começo de uma tarde de domingo. A praça quase vazia e povoada por gente ainda mais sem esperança – dois vagabundos, dois bêbados, talvez – que agridem e tocam uma mulher que por lá passa, sequer imaginam que, dentro de poucos instantes, uma possível história de amor vai acontecer ali.
Passa um ônibus, um bi-articulado. Um ônibus que sempre carrega diariamente tantos sonhos, dores, pesadelos, esperanças. O ônibus passa e, ao fundo, o homem parece indeciso ao atravessar a rua e caminhar para a praça do homem de pedra que está despido de qualquer vaidade. Para sua praça, onde ele, embora vestido de um jeito todo simples, sente-se despido de coragem, de uma vaidade que desconhece, de um pudor que jamais se viu defrontado.
Outro cigarro é aceso. E a fumaça assinala e faz contraponto com o olhar perdido, um olhar com um certo medo, com uma certa angústia. Será que a mulher que fez o anúncio na rádio vai aparecer? Ele vê uma mulher sentada num banco. Outra, que vê a cena de longe e não consegue dar mais nenhum passo, equilibrando-se num salto que parece não lhe ser adequado. Há um homem em pé, talvez pregando alguma nova mentira, mesmo estando com uma bíblia na mão.
O homem que sonha está entre as duas estátuas de pedra, está entre imensos blocos de granito que ganharam forma humana. Mas nenhum deles tem coração. Ele vai de um lado pelo outro levando em suas mãos o cigarro que assinala um movimento efêmero, que dá sinal de existir e desaparece no ar.
Entre um homem e uma mulher de pedra, aquele homem de verdade espera encontrar-se com uma mulher de verdade. Que ela tenha um coração pulsante e realmente desejoso como o dele. Que pulse esperança. Que pulse amor. Que exista mesmo e não tema nada deste insólito encontro.
O homem percebe que a mulher está um pouco afastada. Ela, a mulher de verdade, esconde-se atrás de um homem imenso de pedra, um homem que não tem coração, nem respira, nem move-se para apreciá-la.
O homem, assustado com aquela real presença, vai se proteger atrás de uma mulher de pedra, que está sentada e que nem percebe, também, que ele quer que tudo ali, naquele instante, seja verdadeiro e pulse numa dimensão jamais sonhada.
Com sua cabeça que quase chega a roçar, suavemente, o seio daquela imensa mulher de pedra, ele vê, ao longe, uma mulher de verdade que o olhar, agora, de verdade, com um olhar tão lindo por ser um olhar também com um certo espanto, com um certo medo. Um olhar de surpresa da possibilidade estar mesmo se tornando possível, real.
Nenhuma palavra precisa ser dita. Os olhos dizem tudo, pedem tudo, desejam tudo. Com o cigarro nas mãos, num gesto de insegurança ele avança depois de passar pelos seios da mulher de pedra. A mulher real, de verdade, dá passos lentos e posta-se quase entre as pernas daquele homem de pedra, com sua cabeça quase tocando o seu imenso e sugerido sexo.
A música da sanfona fica mais forte e o piano dita o ritmo que permanece lento, sem nenhuma dinâmica que possa indicar que os dois – o homem e a mulher – vão correr para um abraço tão desejado.
Os olhos da mulher esboçam, junto com um discreto sorriso, uma alegria. Mas o homem e a mulher, a seu modo, caminham para se encontrarem exatamente no espaço entre uma mulher e um homem de pedra. Sim, o casal que não tem coração, emoldura o encontro de outro casal que quer dar novo ritmo a seus corações. A vida ganha novos contornos quando emoldurada por seres inanimados que de coração nada entendem. Nem de amor, nem de ternura, nem de carinho, nem de vida, nem de morte, muito menos de sexo.
Ali, então, no ponto exato onde há um marco que registra a razão daquelas duas esculturas, naquele exato ponto registra outro marco e que é a razão de um homem e de uma mulher estarem se dirigindo, um para o outro, no encontro de seus destinos.
Vê-se, então, que não trocas de palavras, mas os olhares percorrem os corpos de cada um, na visão de que um tem do outro, de como enxergam o que realmente, que tipo de pessoa – um homem e uma mulher – estão se encontrando pela primeira vez. A atriz Sílvia Patzsch, expressivamente brilhante com seu olhar imenso, tenta segura a alegria de um sorriso que teima em aparecer e que, por medo, talvez, faz com que ela prenda sua vontade de gritar e dizer: eu encontrei meu grande amor. Ele, o homem também esboça um tímido sorriso. Ela, por sua vez, engole seco. Mas seus expressivos olhos, agora, brilham intensamente e levam para o olhar a alegria que a boca, discretamente, demonstra estar vivendo.
O homem estende a mão. A mulher, tímida, dá a sua. Ele olha para o outro lado. E sugere que caminhem para a outra direção. Os corpos, antes retesados, tensos. Agora os corpos estão relaxados. Ele, leva as mãos à cabeça. Faz um gesto de não estar acreditando que encontrou seu grande e definitivo amor. Caminham pela praça, tendo como moldura, uma mulher sentada e os pés de um homem, todos de pedra.
Eles caminham descontraídos até o final da praça, o limite da avenida. A avenida que os levará para um amor de fato.
Na foto impressa num prato de porcelana, entre corações almofadados, registra um amor de verdade. Um amor eterno. Um amor para sempre. Atrás da cabeceira da cama, que é real, o homem e a mulher, com roupas de noivos, estão ali, para sempre. Eternamente.  Sobre a cama, presentes saídos de uma loja popular de R$ 1,99. Mas seus corações estão felizes demais para eles terem que desvestir seus trajes do dia em que formaram o casal mais feliz de uma incerta cidade que o olhar preciso de Beto Carminatti criou com tanta poesia.

Rogério Viana
23 de dezembro de 2011
Depois de assistir, pela terceira vez ao curta “Eternamente”.





quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A resposta a uma pergunta que fiz e que não veio como resposta

No dia 15 de dezembro passado (vejam aqui na postagem O LEGADO, O DELEGADO E O NEGADO) fiz e encaminhei 14 perguntas à coordenação do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná e à Anna Zétola, da área cultural do SESI Paraná e, mesmo sem me responderem, atenderam, em parte, ao que aparece na minha segunda pergunta. Vejam:

2 – Por que o SESI Paraná, até agora, não apresentou, nem publicou, nem tornou pública e acessível em seu site – ou no site do Núcleo de Dramaturgia – TODOS os textos produzidos na oficina de dramaturgia do ano de 2009, 2010 e os de 2011?


A resposta, mesmo incompleta, saiu com a publicação, que somente vi hoje no site do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, e que traz a produção feita em 2010 e de forma digital (seriam de todos os integrantes? E os demais, serão, pelo menos, divulgados numa lista, com seus nomes e títulos de suas obras?). 
Em 2009 a produção dos participantes do Núcleo saiu na forma de livros impressos com alguns dos textos lá produzidos. Os demais textos também lá produzidos não foram nem listados (autor, título), nem nunca citados, como se os demais participantes não premiados com as tais publicações (outros lidos e um encenado), não tivessem nem participado efetivamente, nem produzido nada, texto teatral algum. 
Seria ético e transparente, pelo menos, publicar o nome de todos os participantes que se tornaram autores de textos dentro da primeira Oficina de Dramaturgia, com a citação, também, dos títulos de seus trabalhos. 
Não pode, uma entidade como o SESI Paraná, apagar de seus registros - que devem ser públicos - volto a enfatizar - o que é HISTÓRIA. Sim, História da Dramaturgia Paranaense, tenham ou não os textos e seus autores não listados, divulgados, publicados, a qualidade (discutível, sempre) que os coordenadores daquele Núcleo queriam imprimir como característica comum a todos os trabalhos lá produzidos.
Aqui, outra vez, sendo repetitivo, quero exigir meu direito de ver, entre os trabalhos dos demais colegas, meu nome e o título do texto que escrevi durante a oficina de 2009 e que se trata da peça teatral "Manhas, Mutretas e o Escambau". Vale lembrar que, além dessa, escrevi outras duas peças  - Daysi e Parent(es)is - ambas lidas durante o processo de avaliação por parte do então responsável pela oficina, o autor e dramaturgo Roberto Alvim.

E quem não escreveu nada? Nem nada produziu?

Interessante também seria - e isso acho que será complicado para o Núcleo de Dramaturgia explicar - quem foram os demais participantes (em 2009 havia dois grupos com cerca de 18 ou 19 integrantes cada um) que não escreveram nenhum texto naquele ano. Sabe-se que há pessoa(s) que foi (ram) PROMOVIDA(S) para o grupo dos AVANÇADOS - para os trabalhos em 2010 - e que não escreveram texto teatral nenhum durante o andamento da Oficina. 
Quem sabe tenha(m) escrito depois, já no grupo dos avançados no ano seguinte.
Mas quem seriam essa(s) pessoa(s)?

Se vão publicar uma lista de TODOS de 2009, como vão explicar uma lista onde há TODOS os participantes e há, entre eles, quem escreveu e quem não escreveu nada? Ou vão publicar somente uma lista de quem escreveu e foi selecionado para publicação, para leituras e para encenação.

Detalhe do contrato - o verbo é PODERÁ

O interessante é que no contrato que celebraram os autores - os integrantes da Oficina do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná - com essa entidade, na CLÁUSULA UM no parágrafo segundo aparece assim e destaco em vermelho:

Parágrafo Segundo: CESSIONÁRIO poderá disponibilizar o conteúdo do trabalho referido na cláusula primeira, caput deste instrumento, de forma total ou parcial, no site www.sesipr.org.br, aos seus próprios funcionários e também a terceiros, seja para consulta, download e/ou impressão para uso privado, sempre sem intuito de lucro, sendo vedada sua utilização para qualquer outra finalidade, como por exemplo, reprodução, distribuição, edição, comunicação ao público e comercialização.

Então, tudo o que foi produzido em 2009 ainda não foi disponibilizado para consulta no site do SESI Paraná, embora tenha saído de forma impressa alguns textos. A produção de 2010, que (ainda) não saiu de forma impressa, sai agora, com vários meses de atraso, de forma digital e acessível no site do SESI Paraná e do próprio Núcleo de Dramaturgia. Mas seriam todos os trabalhos ou apenas os escolhidos? Vejam aqui. 


O interessante do detalhe do contrato acima (que retirei da minuta do contrato que imprimi e assinei em dezembro de 2009 e que não recebi a respectiva cópia assinada pela direção do SESI Paraná) é que há nele, um verbo nem tempo condicional - o verbo PODERÁ. 

Normalmente os contratos tratam de questões mais pontuais de forma positiva, afirmativa, definitiva. Aquele verbo PODERÁ bem que DEVERIA (é uma sugestão) ser substituído por outro. Sugiro, já na frase do parágrafo segundo do referido contrato: O CESSIONÁRIO (que é o SESI Paraná) publicará o conteúdo do trabalho referido (no caso os textos produzidos pelos integrantes da Oficina de Dramaturgia)... etc e tal.

Assim, na apresentação dos trabalhos de 2010 - creio que os trabalhos de 2011 ainda não foram escolhidos - o SESI Paraná apresentou, de forma digital, para ser baixado no formato PDF, os textos produzidos no ano passado. E no seu site, aparece assim:

O Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná assume o importante papel de apoiar a formação de novos autores teatrais e de aprimorar talentos já em desenvolvimento. Além, é claro, de valorizar o público, que tem a oportunidade de conhecer e vivenciar cultura de alta qualidade.

Confira estas publicações que trazem textos dos novos autores (escritos durante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, sob orientação de Roberto Alvim,no ano de 2010) e que evidenciam o excepcional resultado dessa iniciativa:


Livro Um Presente >>

Livro Dois Presente >>

Livro Três Presente >>

Livro Quatro Presente >>

Os textos acima referidos, dos novos autores (escritos durante a Oficina Regular) são de todos os integrantes (claro, dos que escreveram) ou apenas de um grupo de escolhidos pela coordenação da Oficina e do Núcleo? 

As outras perguntas vão merecer resposta?

O SESI Paraná tem um compromisso legal de informar, com todos os detalhes, quem foram as pessoas que participaram das Oficinas de Dramaturgia desde 2009 e até 2011, sendo que em 2009 eram duas turmas (da tarde e da noite); em 2010 também duas turmas (de iniciantes e de avançados, esses remanescentes das duas turmas de 2009 que se fundiram numa só, depois do abandono ou exclusão de vários dos seus integrantes); e das duas turmas (iniciantes e avançados) de 2011.

Assim, espero que informem. Para fazer valer uma obrigação que eles tem de tornar pública e acessível as informações sobre seus eventos e realizações, que, afinal, são, em parte financiados por nossos impostos (sindicais, principalmente). Afinal, quem participou dos encontros do Núcleo, na Oficina de Dramaturgia, não deixou assinado, em cada encontro, sua presença? Quem assinou, marcou presença. E quem marcou presença, fez de sua presença, parte da história. E essa HISTÓRIA ninguém tem o direito de apagar, omitir, transformar ou subtrair.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu não sou Berenice. Fui apenas o seu primo.

Logo que eu nasci morria minha prima Berenice. Não é ficção é mesmo verdade. A morte daquela minha prima que eu não conheci - nem foto dela eu vi - sempre, para mim, foi envolta num mistério. Filha mais velha de uma das irmãs mais velhas de minha mãe - essa tia ainda é viva, tem mais de 90 anos e mora em Santos - Berenice sempre foi um nome que, vez ou outra, aparecia. Não sei por que razão, sempre, sem eu perceber, o nome dela surgia. Conheci algumas Berenices. Uma delas, nos anos 70, em Piracicaba, era uma coreógrafa e atriz. Uma mulher com uma beleza misteriosa. Um tipo pálido, frágil. Mas ela era uma coreógrafa com umas ideias bem interessantes. Pude acompanhar alguns dos seus trabalhos. Mas há anos não tenho notícias dela. Outras Berenices passaram por minha vida, mas nenhuma deixou lembranças mais fortes.

Em 2010, tive contato pela primeira vez com o conto BERENICE, de Edgar Allan Poe. Aqui, abaixo, dois links onde o conto pode ser lido. Poe, fez sua Berenice - ela e seu primo - personagens muito especiais por terem vivido algo muito assustador.

Berenice, para quem for um leitor atento, andou "assustando" muito seriamente a uma certa pessoa do meio teatral de Curitiba. E essa mesma pessoa não gosta - pelo que percebi - nem de ouvir o nome Berenice. A mim, também, essa prima que morreu criança e a quem não conheci, sempre me provocou sentimentos estranhos. Difíceis de explicar. Se é possível explicar sentimentos estranhos.

Bem... Em um episódio que encerrei esta semana, até por força de ter-me referido a alguém com mais veemência, falando de um tipo de omissão que esse alguém praticou, eu escrevi que não era a Berenice e que não podia "assustar" ou "aterrorizar" alguém. Eu não sou Berenice, sou apenas o seu primo. Não aquele do conto, mas o primo da Berenice real que, sentindo-se ferido por uma omissão imperdoável - num jogo de cena digno de um folhetim barato e mal escrito - como tal tinha que dar um ponto final numa pendência.

E, agora, com a publicação de parte desse conto, considero terminada o que estava pendente. Coloco o acontecido numa conta de "perdas", vai para o prego do "prejuízo". E, aqui, termina essa história. E cujo conto tem como início o seguinte:


BERENICE - Edgar Allan Poe

Desgraça é variada. O infortúnio da terra é multiforme. Estendendo-se pelo vasto horizonte, como o arco-íris, suas cores são como as deste, variadas, distintas e, contudo, intimamente misturadas. Estendendo-se pelo vasto horizonte, como o arco-íris! Como é que, da beleza, derivei eu um exemplo de feiúra? Da aliança da paz, um símile de tristeza? Mas é que, assim como na ética o mal é uma conseqüência do bem, igualmente, na realidade, da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que existem agora têm sua origem nos êxtases que podiam ter existido


(...)


O texto completo pode ser lido em duas versões.




domingo, 18 de dezembro de 2011

Cena Hum comemora seus 16 anos e lança livro

Livro conta sobre os 16 anos da Cena Hum

Será lançado, hoje, às 20 horas, no Espaço Cult, o livro CENA HUM DRAMATURGIA que conta a trajetória da escola de teatro em seus 16 anos de existência. O livro foi escrito por Airen Wormhoudt, Humberto Gomes e George Sada e foi publicado pela Editora InVerso.

 Inaugurada em 18 de dezembro de 1995, em Curitiba-PR, a Cena Hum – Academia de Artes Cênicas é uma empresa criada para desenvolver atividades na área das Artes Cênicas, ou seja: Teatro, Dança, Circo e Ópera. Um espaço aberto às investigações artísticas com a missão de promover e divulgar a pesquisa das artes cênicas e contribuir para uma prática ética, orientada para a transformação social através da arte e comprometida com a melhoria da qualidade de vida de nossa sociedade.

Assim, a Cena Hum revoluciona o perfil das atividades teatrais ao ser pioneira em muitos projetos:
Primeira escola particular de teatro no Paraná;
Primeira a ofertar oficinas para crianças e adolescentes;
Primeira a promover um curso visando a profissionalização do ator;
Primeira a ofertar cursos voltados para deficientes auditivos;
Produção Didática e Produção Artística

A Cena Hum vem realizando, em média, 60 espetáculos e dezenas de eventos por ano. Recebeu inúmeros prêmios e troféus em sua história, destacando-se pelaqualidade de suas montagens teatrais, como também pela especializada equipe de instrutores que desenvolve suas atividades. Desde o primeiro ano de existência a Cena Hum já realizou:
Cerca de 400 montagens teatrais (provas públicas) dos cursos de teatro;
13 espetáculos de caráter profissional da Companhia Cena Hum.
Centenas de cursos, performances, Mostras e eventos.

O lançamento do livro será no Espaço Cult, à rua Dr. Claudino dos Santos, 72, São Francisco, em Curitiba - PR

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Da "pá virada"

Há tempos eu estava querendo confirmar se o autor do livro encomendado “A Privataria Tucana” era filho de um antigo conhecido meu - nos idos de 1968-69. Hoje, finalmente, confirmei. 

Sim, é filho de um ex-professor e ex-delegado de Ensino na cidade de Loanda, interior do Paraná. Eu conheci o Júnior, em 1968, quando ele era um menino de seis anos. Em 1969, acompanhei seu pai numa viagem a Londrina para ver uma feira agropecuária. Antes, passamos por Cambé, onde morava seu avô, pai de sua mãe. Hoje, vendo as fotos do Amaury Ribeiro Junior, lembrou-me muito seu pai, Amaury Martins Ribeiro.

Na época a família morava na cidade de Santa Cruz do Monte Castelo, vizinha a Loanda, no noroeste do Estado do Paraná, muito próximo do rio Paraná e o Mato Grosso do Sul. A família Martins Ribeiro, no final dos anos 70 mudou-se para Campo Grande, onde montaram um restaurante. Não tive mais contato com o Amaury pai, mas seu filho é muito parecido com ele naqueles idos do final dos anos 1960.

Estou escrevendo isso apenas para informar sobre as origens familiares desse jornalista que, acredito, infelizmente, não deve agradar, com seu comportamento e as escolhas que tem feito, à sua família. Sim, ele é um premiado jornalista, ganhador de dois prêmio Esso. Sim, investigou crimes e até foi baleado num episódio no entorno de Brasília.

Mas pelos caminhos que ultimamente ele tem trilhado, pelas confusões em que se meteu, pela gente com a qual ele trabalha e defende e pelo modo como faz acusações, infelizmente eu não reconheceria nele, a figura do seu pai, um homem afável, um pouco agitado eu me lembro, mas como a gente diria à época, um “boa praça”.

Como jornalista e como pessoa a gente sempre faz escolhas. Mas já faz tempo em que ser isento, não tomar partido, era típico no comportamento dos jornalistas. Claro, não falo na postura dos donos de jornais, mas dos jornalistas mesmo. Aqui, lembrando o pai do autor desse livro polêmico, por ter cara de ter sido não só encomendado, mas financiado por aliados e pelo próprio PT, lamento muito que ele tenha feito escolhas que eu, como jornalista, como pai, como cidadão não teria coragem de fazer. Que me desculpe o pai dele, mas o Júnior não é um “boa praça”. Como dizíamos também naquela época, o Júnior é da “pá virada”.

Reconheço, também, que na política não há "santos". Mas os pecados cometidos pelo pessoal do PT e sua base aliada, meu Deus do Céu! Infelizmente aquele menino moreninho e meio gordinho que eu conheci, há mais de 40 anos, bandeou-se para um lado não muito "santo" de nossa política. Infelizmente.

Aqui, retorno, como jornalista, como escritor, para relatar um causo. O causo de um menino, do menino que conheci, que, hoje, aos meus olhos, é um menino da "pá virada".

Muita...


Uma roda, uma ciranda de mal entendidos.

Alguns personagens, ao seu tempo, antecipam certas falas que, em um outro momento, num tempo futuro - o futuro é hoje onde vivo - são réplicas necessárias, mesmo quando foram declaradas em um tempo já passado. Em abril de 2010, num final de semana, surgiram os personagens Anália, Matheus e Ricardo. Eles estão na peça "Da palavra não dita à palavra mal dita". Não são apenas um jogo dramatúrgico. Poderiam ser - quem sabe - a expressão de algo verdadeiro e real. Mas não era, nem foram assim. Poderia ter sido e são, hoje, nesta manhã, neste começo de um novo fim de semana, a condição que tenho para responder a personagens reais usando a boca, a expressão e a alma de personagens que esses - sim, esses mesmos inspiradores personagens reais - inspiraram de fato.

Vale aqui citar uma frase de Jorge Luis Borges e que, talvez, adaptando o termo "conto" por ele usado por "teatro" poderemos brincar com essa mistura de realidade e ficção, de verdade e mentira. Diz Borges:

"Se os personagens de um conto (teatro) podem ser leitores ou espectadores, então nós, seus leitores e espectadores, podemos ser fictícios".

Muitas vezes a voz que narra não é a voz do autor. Pode ser que a voz do autor seja, de verdade, a voz do personagem que narra. Mas até que ponto a voz do personagem atinge (e contamina, influencia) a voz do autor? Ou a voz do personagem já sai marcada por uma influência que o autor, por sua vez, não identifica em si próprio de onde e porque ela sai assim.

Em "Da palavra não dita à palavra mal dita", Anália, Matheus e Ricardo, instâncias de si mesmos em expressões de possíveis seres reais, exercitam uma troca de vozes. Uma quase suruba verbal, numa roda, ciranda de mal entendidos. De agressões, provocações, dedo na cara, repulsa e atração. Há vozes neles que aparecem contaminando (desvirtuando, comprometendo, interferindo) suas próprias vozes, ao passado que outras vozes também sofrem um desvirtuamento comprometedor. Mas, no resumo, na síntese de tudo isso, vozes que são o que não aparentam ser, são apenas vozes e nada mais. Ou seriam algo mais? Vejamos então:

Na cena A IMPROVÁVEL TROCA, está assim:

(...)


Matheus – Sua voz é sua mesmo, ou é de quem?
Anália – Acha justo falar pelos outros, ou com a voz dos outros, não evidenciando sua própria voz?
Ricardo – Aqui quem faz perguntas sou eu...
Matheus – É sua voz agora?
Anália – Está se escondendo. Ocultando sua própria voz?
Ricardo – Aqui quem pergunta sou eu... Que voz? Vocês estão ouvindo alguma outra voz que não a minha? Naquele lugar distante ele olhou para seu próprio umbigo e queixou-se: ainda aqui? Por onde você tem andado? Precisa se apressar. Já é quase de manhã...
Matheus – Dito e feito. Mudou de voz. Mudou, claro que mudou. Uso indevido de outra voz.
Anália – Não tem o mesmo timbre que a sua voz. Outro feitio, outro timbre, tom, cor. Você atravessa assim, sempre?
Matheus – Como permite isso? Como usa uma voz proibida? Aqui, no processo, é algo muito grave.
Ricardo – A voz que fala não é a voz que pensa. A que pensa é muda. A que vê é cega. A que fala, não ouve. A que comanda, está surda. Cegos, surdos e mudos. Em cada vez, em cada ação. Pensar é agir? Não! Falar é agir? Ação é palavra? E a palavra, onde fica? Respondam! Ainda bem que você me acordou. Tinha perdido completamente a noção do tempo. Foi tão bom estar aqui. Vendo seu corpo, sentindo seu perfume. A maciez de sua pele. Sua bunda...
Matheus – Mesmo assim, é uma afronta confundir isso aqui. Você não tem o direito de se por em defesa de quem não pediu sua ajuda. É uma intromissão inominável.
Anália – É um total descaramento, usar essa máscara... Ainda mais com tantas vozes diferentes.
Ricardo – Quero que vocês respondam. Ninguém aqui, agora, aqui, no presente instante, pode furtar-se a não ser o que é, nem a falar o que não deve, e não deve, em hipótese nenhuma, confundir-se com o que está bastante claro. Minha querida, minha querida. Seu cheiro está em meus dedos... Que gostoso é seu gosto.
Matheus – No primeiro depoimento você escreveu que era um rei de si mesmo, seu próprio lacaio e que se julgava Deus. Pode explicar?
Anália – Você ouve vozes? Dá ouvido a elas? Dá vez a elas? Vez e voz?
Ricardo – Cala a sua boca! Você não sabe o que diz. Como posso esquecer o que você fez a noite toda? Nem senti o tempo passar.
Matheus – Que porra de audácia é essa? Manda calar a boca assim, numa boa? Ponha-se no seu lugar, seu filho da puta bastardo!

(...)

Então tá! Fica assim, o dito pelo não dito. Mas a palavra final, não a minha, mas a que empresto do personagem Matheus é o que eu assumo e tenho dito!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O dedo de Deus

Serve o dedo de Deus?

No meu texto "Da palavra não dita à palavra mal dita", na sua parte final, os três personagens Anália, Matheus e Ricardo travam um diálogo que tem um interesse bem particular, hoje, para mim. Eles foram inspirados em personagens reais - muito reais, com certeza - e refletem um pouco de uma certa controvérsia acerca da palavra. De palavras que não foram ditas, pronunciadas e de palavras, malditas, que foram proferidas a despeito de serem ou não agradáveis ao senso comum.

(...)


Anália – O quê? Vida e morte, como assim?

Matheus – Sim, minha vida. Sua morte. Meu ganha pão, seu ocaso. Meu prazer, a sua dor...

Anália – Não... Não... Agora eu tinha que estar gozando... Aproveitando essa turbulência toda e gritar, gritar, gemer de prazer... Cade o seu dedo me tocando? Onde está o seu dedo?

Matheus – Você acha que eu me prestaria a tocá-la com meu dedo? Acreditou mesmo que seria possível eu tocá-la?

Ricardo – Será que podemos arriscar e trocarmos de lugar?

Anália – Trocar como? Tocar, é isso que você está dizendo?

Matheus – Eu não vou tocá-la mesmo que isso signifique a minha salvação...

Anália – Mas o que você está dizendo? Quer me tocar ou quer trocar de lugar comigo?

Ricardo – Eu não tenho muita habilidade com essa mão. Preciso estar no seu lugar para poder tocá-la com o dedo da mão certa.

Anália – Que dedo? Que dedo?

Matheus – Não há nenhum dedo...

Ricardo – Troque de lugar, vamos...

Anália – É preciso tudo isso para gozar?

Matheus – Gozar? Você acha que vai gozar?

Anália – Que confusão... Antes eram apenas as vozes, agora, tudo ganhou corpo, voz e corpo. É chegada a hora? É a minha vez de gozar?

Matheus – Não. Você não tem mais vez nessa brincadeira.

Anália – Vamos, quero que me toquem.. Estou mandando.

Ricardo – Com que dedo?

Matheus – Com que dedo?

Anália – Um dedo qualquer...

Ricardo – Então ouça essa derradeira voz. Serve o dedo de Deus?

Anália – Que Deus? Que dedo?

Matheus – O meu...

O legado, o delegado e o negado


“Não tenho medo de lutar, mas temo as regras que não conheço.”
Fala do personagem O C L I E NTE em
“Na Solidão dos Campos de Algodão”, de Bernard-Marie Koltès


Iniciado em março de 2009, o Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná foi lançado – com pompa e circunstância – com alguns objetivos e, dentre eles, pode-se destacar o que aparece em primeiro lugar: “Criar um núcleo de desenvolvimento e aperfeiçoamento de dramaturgos, que se torne referência na área teatral brasileira”. O núcleo paranaense nasceu dois anos depois do núcleo paulista, surgido em outubro de 2007, também do SESI, e contando com o mesmo apoio do British Council.
Com objetivos similares ao do núcleo paulista, o lançado no Paraná, no entanto, excluiu um dos objetivos originais propostos por São Paulo. E, talvez, ali, nesta omissão, esteja a origem de um problema que, ao longo dos últimos três anos – de março de 2009 a dezembro de 2011 – o Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná tenha projetado e, por consequência, consolidado.
O que dizem os cinco objetivos do núcleo paulista?

Objetivos principais  (São Paulo)
·         criação de um núcleo de descoberta e desenvolvimento de novos textos para as artes cênicas que seja referência nacional para novos autores;
·         oferecer um processo de excelência de longo prazo focado no aprimoramento da escrita de novos talentos em dramaturgia e outros textos criativos para artes cênicas;
·         incentivar a criação de dramaturgias que expressem novas visões de mundo, linguagens e experimentações estéticas;
·         promover oportunidade para que se desenvolvam e tornem-se conhecidos textos oriundos de talentos de comunidades que têm pouca expressão midiática;
·         estabelecer um intercâmbio dos autores brasileiros com dramaturgos internacionais.

Quais seriam os objetivos similares (o do Paraná se inspirou no de São Paulo, claro) do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná?
São estes:

Objetivos principais (Paraná)
·         Criar um núcleo de desenvolvimento e aperfeiçoamento de dramaturgos, que se torne referência na área teatral brasileira;
·         Oferecer um processo de excelência de longo prazo focado no aprimoramento de talentos em dramaturgia e outros textos criativos para artes cênicas;
·         Incentivar a criação de dramaturgias que expressem novas visões de mundo, linguagens e experimentações estéticas;
·         Estabelecer um intercâmbio dos autores locais com dramaturgos de destaque no cenário nacional e internacional.
Está lá, no quarto item dos objetivos estabelecidos pelos paulistas aparece:
“Promover oportunidade para que se desenvolvam e tornem-se conhecidos textos oriundos de talentos de comunidades que têm pouca expressão midiática”.
Claro está que, para os idealizadores do núcleo de São Paulo, a promoção de oportunidades para que se desenvolvam e tornem-se conhecidos textos oriundos de talentos “de comunidades que têm pouca expressão midiática”, a generalização com o uso do termo “comunidades” poderá ser entendida por “grupos, coletivos, aglomerados” de teatro e similares, mas, também, por alguma entidade solitária ou individual que, não estando nem em um grupo, nem num coletivo teatral, tenha muitas dificuldades de poder mostrar, expor ou tornar acessível o seu trabalho dramatúrgico, no caso, um texto teatral mesmo, visto que possui “pouca expressão midiática”, ou seja, que não tem facilidades nem está acessível ou disponível junto aos vários veículos de comunicação.
De março a dezembro de 2009, o primeiro grupo de participantes “iniciantes” do Núcleo de Dramaturgia do Paraná – eram cerca de 38 inscritos – e que foram distribuídos em duas turmas – da tarde e da noite, participaram de encontros quinzenais (foram de 16 reuniões) sob a orientação do autor e diretor Roberto Alvim, que foi contratado para comandar as atividades dos interessados em desenvolverem seus dotes dramatúrgicos.
Há que se destacar, também, que uma comparação entre os dois conjuntos de objetivos dos dois núcleos (de SP e do PR), logo no primeiro, observa-se um pequeno desvio no do seu similar paranaense. Se no núcleo paulista, privilegiava-se a “descoberta e desenvolvimento de novos textos para as artes cênicas” as quais passariam a ser uma “referência nacional para novos autores”, o do Paraná, talvez mais ousado – e o foi mesmo, em várias oportunidades – não se daria atenção para a “descoberta e desenvolvimento”, mas para o “desenvolvimento e aperfeiçoamento”, aquele de São Paulo voltado para “texto”, o do Paraná, para dramaturgos. Vai além. O núcleo paulista propunha tornar-se “referência nacional para novos autores”. O similar paranaense queria mais e propunha atingir posições mais arrojadas, ou seja, que se tornasse “referência na área teatral brasileira”.
Enquanto os paulistas tratavam especificamente de “textos” dramatúrgicos, os paranaense  desejam ir além, já que se propunham a trabalhar não com meros textos, mas com personificações, com seres, com gente, com pessoas, com “dramaturgos”. Em São Paulo, descobrir e desenvolver textos para as artes cênicas. No Paraná, para desenvolver e aperfeiçoar escritores de textos dramatúrgicos. Uma diferença fundamental de objetivos. Um, o de São Paulo, com foco no texto – o produto autoral, as peças teatrais, as experimentações; o outro, o do Paraná, com foco claramente personalista, no autor, no escritor, no dramaturgo, não no seu texto, não na sua pesquisa, não nos seus estudos, mas no autor com foco em si mesmo.
Há de se notar, também, que nos segundos objetivos – não menos importantes nesta análise e que corroboram e comprovam as sutis diferenças entre os dois núcleos de dramaturgia focalizados, onde um queria chegar e onde o outro também queria e, por estar mais perto da minha visão e crítica, chegou efetivamente.
Está lá, então, o que aparece no segundo objetivo. Diz o de São Paulo: “Oferecer um processo de excelência de longo prazo focado no aprimoramento da escrita de novos talentos em dramaturgia e outros textos criativos para artes cênicas”. Focado, como enfatiza o texto, no “aprimoramento da escrita de novos talentos”. E o que diz e onde se acentua, talvez não tão sutilmente, mas claramente, o segundo objetivo do Núcleo paranaense?
Vejamos. Aparece assim: “Oferecer um processo de excelência de longo prazo focado no aprimoramento de talentos em dramaturgia e outros textos criativos para artes cênicas”.
Bem, os demais objetivos comparativamente entre os de São Paulo e os do Paraná, são iguais. E prestam-se a dar aquela aura de sonho aos dois projetos em seus respectivos objetivos.
Ao longo do processo de trabalho desenvolvido por Roberto Alvim nos encontros quinzenais que ele comandava junto a suas duas turmas – a da tarde e a da noite – foi-se estabelecendo uma divisão, a princípio sutil, mas, com o passar do tempo, acentuou-se a ponto de serem duas turmas distintas, muito distintas mesmo. Na preferência, como se verificou no final do ano de trabalho, de uma em detrimento a outra, tanto por parte do Roberto Alvim, como pelo então coordenador do Núcleo, o também autor e diretor Marcos Damaceno, o que fazia a ponte, o intercâmbio entre o que de prático acontecia nas atividades da Oficina, do Núcleo, portanto, com a direção, com a política estabelecida – via objetivos do Núcleo, claro – pela Anna Zétola, a responsável pelo projeto junto ao SESI PR.
Não vale a pena repetir o que ficou claro, quando, no final do ano de 2009, foram escolhidos os textos dos dramaturgos participantes a serem publicados e os que passariam por uma pequena prova de palco, com suas leituras dramatizadas e com um, apenas um, a ser encenado. Houve uma inequívoca preferência pelos textos dos autores da “turma da noite”. Quem se der ao trabalho, vai poder conferir e comprovar em termos numéricos, quais foram os autores publicados e quantos desses eram da “turma da noite” e quantos eram da “turma da tarde”. O que poderíamos chamar de “filé mignon” ficou para a “turma da noite”. Para a “turma da tarde”, depois de algumas sutis cobranças que andei fazendo à época, as respostas foram minimamente ampliadas.
Ative-me, no entanto, a comentar apenas e mais detalhadamente sobre os primórdios do Núcleo de Dramaturgia, da efetiva participação que tive nos encontros da Oficina de Dramaturgia com Roberto Alvim, no ano de 2009, com alguns eventos transitados nos primeiros meses de 2010, quando, por força de minha exclusão – fui defenestrado mesmo – do grupo de participantes do Núcleo de Dramaturgia por vontade e decisão conjunta do Marcos Damaceno, da sua chefe Anna Zétola e, por tabela, pelo que considero gesto de omissão, típico papel de Pôncio Pilatos, que o Alvim teria praticado. Isso ainda não está claro para mim, completamente. Mas, minimamente, Alvim absteve-se de manifestar-se, no começo de 2010, quando uma lista de inscritos para o segundo ano de atividades da Oficina de Dramaturgia foi construída e onde, nela, aparecia, pelo menos, um nome que não viria a participar e que foi, este nome, a desculpa para que minha participação não pudesse ter continuidade no trabalho de estudo e de dedicação à escrita dramatúrgica dentro do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná.
Quero aqui destacar e aproveito para também cobrar algumas explicações que a diretoria do SESI Paraná – a antiga não poderá, é claro se manifestar – mas a atual, a que sucedeu a anterior e vinculada ao ex-presidente da FIEP, Rocha Loures, poderá, caso julgue necessário esclarecer algumas coisas e faço com base no que estava e está escrito numa minuta, depois transformada em contrato de cessão de direitos sobre textos dramatúrgicos escritos durante a Oficina de Dramaturgia do SESI Paraná em 2009.
Para tanto, vou colar abaixo parte do texto do CONTRATO que o SESI Paraná estabeleceu com os autores que integraram o Núcleo e a Oficina de Dramaturgia por ele patrocinado.
Entenda-se como CEDENTE, os autores. Como CESSIONÁRIO, o SESI Paraná.

Vai, aqui:

CLÁUSULA PRIMEIRA – Do objeto
O presente contrato tem por objeto a cessão dos direitos patrimoniais de autor, pelo Cedente ao Cessionário, referentes à obra acima citada.
Parágrafo Primeiro: O CEDENTE declara expressamente que a cessão dos direitos patrimoniais de autor prevista no caput desta cláusula é efetuada sem caráter de exclusividade e por prazo determinado, não sendo imposta ao CESSIONÁRIO qualquer restrição de uso, podendo este utilizar o material objeto do presente instrumento em sua integridade, isolada ou em conjunto com outros cujos direitos patrimoniais de autor sejam de propriedade do CESSIONÁRIO, incluindo os direitos de edição, tradução, publicação, reprodução por qualquer processo ou técnica, distribuição, utilização direta ou indireta da obra por meio de representação, recitação ou declamação, radiodifusão sonora ou televisiva, exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado, e inclusão em base de dados, armazenamento em computador, microfilmagem e demais formas de arquivamento do gênero.
Parágrafo Segundo: O CESSIONÁRIO poderá disponibilizar o conteúdo do trabalho referido na cláusula primeira, caput deste instrumento, de forma total ou parcial, no site www.sesipr.org.br, aos seus próprios funcionários e também a terceiros, seja para consulta, download e/ou impressão para uso privado, sempre sem intuito de lucro, sendo vedada sua utilização para qualquer outra finalidade, como por exemplo, reprodução, distribuição, edição, comunicação ao público e comercialização.
Parágrafo Terceiro: O CEDENTE se compromete a não divulgar, de forma total ou parcial, a obra objeto deste contrato antes do seu lançamento oficial pelo Núcleo de Dramaturgia do SESI/PR, previsto para ocorrer no Festival de Teatro de Curitiba, edição 2010, e, também se compromete a utilizar a seguinte frase de crédito ao Núcleo de Dramaturgia do SESI/PR, pela produção da obra, no material de divulgação, toda vez que for publicada, lida ou encenada: “Peça escrita durante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, sob orientação de Roberto Alvim, no ano de 2009”.
Parágrafo Quarto: A presente cessão abrange os territórios nacional e internacional.
Vale agora perguntar, se é que alguém vai se dispor a responder minhas indagações.

Vamos às perguntas:
1 – O que o SESI Paraná fez e o que fará com os textos produzidos pelos integrantes da Oficina de Dramaturgia que não foram nem publicados, nem encenados, nem participaram de leituras dramáticas?
2 – Por que o SESI Paraná, até agora, não apresentou, nem publicou, nem tornou pública e acessível em seu site – ou no site do Núcleo de Dramaturgia – TODOS os textos produzidos na oficina de dramaturgia do ano de 2009, 2010 e os de 2011?
3 – Porque o SESI Paraná, em 2009 e começo de 2010, omitiu a totalidade de textos produzidos na referida Oficina de Dramaturgia, não citando nem autores, nem os títulos das peças (textos dramatúrgicos) que eles produziram?
4 – Quais foram os critérios adotados, à época, para que mais textos da turma da noite fossem publicados, lidos e encenado, e não, de forma justa e equilibrada, para atender, também aos textos produzidos pela turma da tarde da referida Oficina de Dramaturgia?
5 – A quem coube a palavra final para a escolha dos textos a serem publicados à época? O Roberto Alvim indicou os textos, o Marcos Damaceno aprovou e a Anna Zétola deu a autorização final? Ou a ordem, na cadeia de aprovação, foi outra?
6 – Por que motivos que até agora não se publicaram – de forma impressa, em livros – os demais textos produzidos durante a oficina de 2010?
7 – O SESI Paraná poderá divulgar a lista completa de todos os participantes e quais foram as contribuições efetivas que cada um dos integrantes das oficinas e suas turmas – da tarde, da noite, de iniciantes e de avançados, em 2009 e 2010, e agora os de 2011 – tiveram. Quem foram os participantes e quais os trabalhos efetivamente realizados por cada um?
8 – O SESI Paraná, por ser uma entidade que recebe verba oriunda de receitas de sindicatos e, estes, por tabela, recebem dinheiro público de contribuintes, assalariados, deve ou não deve tornar pública e transparente as informações sobre as atividades do seu Núcleo de Dramaturgia, com relatórios precisos e completos sobre o que efetivamente aconteceu em seus encontros a partir de março de 2009 e até este dia 13 de dezembro, quando se encerrou  o terceiro ano de suas atividades?
9 – A Anna Zétola poderá explicar quais foram os reais motivos que fizeram com que Marcos Damaceno, até então coordenador do Núcleo e da Oficina de Dramaturgia patrocinada pelo SESI Paraná, anunciasse sua saída?
10 – Quais serão os caminhos, quais serão os objetivos específicos, não apenas gerais, do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná para os próximos anos? Quais serão as ações a serem empreendidas a partir de janeiro de 2012?
11 – Quem vai responder pela coordenação do Núcleo de Dramaturgia e quem será o coordenador da Oficina de Dramaturgia em 2012?
12 – O SESI Paraná consultou, pesquisou ou entrevistou os seus integrantes para avaliar, com cada um, de forma individual e numa análise coletiva, quais os resultados que foram verificados e percebidos ao longo dos três anos de atividades em que o Núcleo de Dramaturgia e sua oficina de dramaturgia tiveram sob o comando do Roberto Alvim e do Marcos Damaceno?
13 – O Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná vai continuar atuando de forma a privilegiar pessoas (dramaturgos) ou vai privilegiar o efetivo trabalho destes, ou seja, seus textos, suas peças teatrais, seus textos e contribuições para as artes cênicas?
14 – O contrato que eu assinei com o SESI Paraná, com relação ao trabalho que fiz em 2009 na Oficina de Dramaturgia poderá me ser entregue e assinado para que eu guarde entre minhas memórias – legais e afetivas – de minha participação no Núcleo de Dramaturgia?

Assim, com o exposto acima, espero que os interessados e a opinião pública possam conhecer um pouco da minha inquietação sobre “O legado, o delegado e o negado” dentro das atividades do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná e sua Oficina de Dramaturgia.

Rogério Viana

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Damaceno deixa coordenação do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná

Marcos Damaceno deixa o Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná

O diretor e autor Marcos Damaceno que coordenou o Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná desde 2009 anunciou na tarde de terça feira, no último encontro deste ano da Oficina de Dramaturgia, no Teatro José Maria Santos, que não vai mais coordenar as atividades do núcleo em 2012.

Outro anúncio é sobre o desligamento do responsável pela Oficina, o diretor e autor Roberto Alvim que vai se dedicar a suas atividades em São Paulo.

Sabe-se, também, que os encontros quinzenais do Núcleo de Dramaturgia não mais acontecerão no Teatro José Maria Santos, pois o novo responsável pela Oficina de Dramaturgia - o nome não foi divulgado ainda - somente poderá vir a Curitiba às segundas feiras, dia da semana que o Teatro encontra-se fechado.

As informações foram dadas por pessoas ligadas ao mundo do teatro curitibano em evento na noite de ontem no Teatro José Maria Santos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O dia em que morreu John Lennon


Eu dormia naquela manhã de 8 de dezembro de 1980. Meu filho Rafael, então com quatro anos, havia acordado mais cedo e ligado a TV, na hora do "Bom Dia, Brasil", da TV Globo. Pouco depois ele correu ao meu quarto, acordou-me dizendo: Pai, pai, o João Lenos morreu! Pai, o João Lenos morreu!
Sem entender direito, pedi que ele repetisse, pois não estava associando o nome de nenhum João Lenos.
- Pai, pai, é o João Lenos... que o senhor tanto gosta!
- João Lenos, Rafa? João Lenos?
- É pai, o João Lenos morreu!
Fui até a sala e ouvi, estarrecido, uma entrevista com o Erasmo Carlos, chorando e comentando sobre a morte do John Lennon.
Quem poderia imaginar que alguém pudesse matar John Lennon? Quem?
Somente um louco poderia.
Sim, John Lennon estava morto. Um dos meus ídolos de juventude. Um dos músicos que mais me atraíram depois que os quatro rapazes de Liverpool se separaram.
Eu me lembro que senti um vazio muito grande naquela manhã. Claro que era alguém importante para toda uma geração, mas não era alguém próximo. Eu também já não era um menino apaixonado pelas músicas dos Beatles. Já tinha três filhos - Séfora, Juliana e Rafael. Mas a morte - trágica em toda a sua dimensão - daquele homem mexeu muito comigo. Um tipo de sentimento que eu não experimentara antes. Já havia perdido amigos de infância, amigos de juventude, amigos de épocas mais recentes. Todas as perdas trouxeram sentimentos diferentes, intensos. Mas perder um ídolo era diferente por se tratar de um Beatle. Um Beatle devia ser eterno. Um Beatle é eterno. Mas naquela manhã, no calor de dezembro da cidade de Piracicaba, fui acordado, não por ter tido um pesadelo, mas porque, distante, alguém optou por dar fim a um sonho, a uma lenda, levando ao pé da letra a frase "o sonho acabou".
Não sou de cultivar saudosismo, mas, com o passar dos últimos anos, quando eu já havia entrado na casa dos 60 anos, a figura de John Lennon sempre, de alguma maneira, se aproxima de mim. Há quatro anos pintei uma série de pequenos quadros, bem pequenos mesmos, e num deles coloquei a imagem do John Lennon (extraído de uma famosa foto dele com uma camiseta de New York). Há dois anos, de novo, brincando em cima de outra foto de Lennon, fiz a ilustração acima.
Hoje faz 31 anos que John Lennon morreu. E estou com uma imensa saudade de tudo de bom - e de ruim - que aquele dia 8 de dezembro de 1980 deixou para trás.
Ao fundo, um quadrinho com a imagem do meu Beatle preferido.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O contemporâneo, olhar o tempo, as luzes e perceber o escuro


“Contemporâneo é aquele que mantém fixo 
o olhar no seu tempo, para nele perceber não as 
luzes, mas o escuro”. (Giorgio Agamben)

Na minha insana curiosidade, vez ou outra, pego um termo qualquer e vou pesquisar sobre ele. Sempre, é claro, surpreendo-me com o que encontro. Surpresas boas, outras nem tanto. Mas é assim que vou estabelecendo contatos com temas que me interessam. Algumas vezes busco saber mais sobre certos assuntos aqui mesmo no mundo virtual. Outras vezes, querendo entender melhor certos temas, não aprofundar, pois ninguém aprofunda-se em tema nenhum, pois nunca terá tempo o bastante, nem fôlego, nem espaço para ir o que nunca se apresenta aparente, compro e leio livros. Ou, antes, leio resenhas, apenas. Críticas. Depois, sim, se não fiquei satisfeito com a procura, tento, quase sempre, ir à fonte original.


E nada melhor do que encontrar um livro que lhe tenha despertado a atenção.


Recentemente busquei conhecer um pouco sobre "teoria teatral". Assim, deparei-me com Peter Szondi, de quem encontrei e comprei e li seu importante olhar sobre a "Teoria do drama burguês". Não dá, é claro, para comprar todos os livros que nos interessam, até porque livro é muito caro e se torna, em muitos casos, além de inacessível, objeto de luxo. Mas é por essas e outras razões que frequento, sempre, aquelas bancas de "livros esquecidos" que algumas livrarias da cidade nos apresentam e que, muitas vezes, trazem as tais surpresas agradáveis que estávamos procurando e que nos chegam assim e, acreditem, por meros R$ 9,90, muitas vezes.


Como tenho dialogado com a autora argentina Patricia Zangaro, com trocas de e-mails e duas vezes em conversas pelo Skype, interessou-me conhecer um pouco mais sobre Buenos Aires e, é claro, pelo tango. Aliás, traduzi, da Patricia, seu texto teatral "Tango, bem antes que ele fosse encenado na Argentina, o que aconteceu há poucos dias. Assim, nessas visitas que faço às livrarias encontrei por R$ 9,90 (cada), dois livros que têm Buenos Aires como pano de fundo e o tango como tema. Os livros são: O Cantor de Tango, de Tomás Eloy Martínez (jornalista recentemente falecido) e Céu de Tango, de Elsa Osorio (escritora argentina que mora na Espanha). Li em uma semana os dois livros e fiquei encantado com a história do tango, com a história argentina e com personagens emblemáticos (nos dois livros) que se misturam com a ficção dos dois autores que escreveram sobre o que acontece à margem direita do rio da Prata.


O que é contemporâneo?



Hoje assolou-me uma dúvida sobre o que é ser "contemporâneo", logo depois de haver visitado o blog do Lucas Mayor (leia mais aqui) e ter lido lá um trecho do livro de ensaios do autor italiano Giorgio Agamben.


O trecho que chamou minha atenção é o que se segue e que foi traduzido por Vinícius Nicastro Honesko e que está no livro "O que é contemporâneo - e outros ensaios", publicado pela Argos, editora da cidade catarinense de Chapecó.


(...)


Pertence verdadeiramente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo, aquele que não coincide perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões e é, portanto, nesse sentido, inatual; mas, exatamente por isso, exatamente através desse deslocamento e desse anacronismo, ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e apreender o seu tempo. (…) A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias; mais precisamente, essa é a relação com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo. Aqueles que coincidem muito plenamente com a época, que em todos os aspectos a esta aderem perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso, não conseguem vê-la, não podem manter fixo o olhar sobre ela. (…) Assim, o mundo antigo no seu fim se volta, para se reencontrar, aos primórdios; a vanguarda, que se extraviou no tempo, segue o primitivo e o arcaico. É nesse sentido que se pode dizer que a via de acesso ao presente tem necessariamente a forma de uma arqueologia que não regride, no entanto, a um passado remoto, mas a tudo aquilo que no presente não podemos em nenhum caso viver e, restando não vivido, é incessantemente relançado para a origem, sem jamais poder alcançá-la. Já que o presente não é outra coisa senão a parte de não-vivido em todo vivido, e aquilo que impede o acesso ao presente é precisamente a massa daquilo que, por alguma razão (o seu caráter traumático, a sua extrema proximidade), neste não conseguimos viver. A atenção dirigida a esse não-vivido é a vida do contemporâneo. E ser contemporâneo significa, nesse sentido, voltar a um presente em que jamais estivemos. 


(...)


Então, levando um pouco ao pé da letra - pela visão de Agamben - o que poderia ser contemporâneo, é que refaço o caminho por que tenho trilhado ao longo dos meus 63 anos para tentar entender o que me levou a interessar-me pelo teatro, pela dramaturgia. 


O autor italiano, resumidamente diz o que coloquei logo na epígrafe deste post: Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro".


Mas que escuro é esse?


Poderia arriscar e dizer que alguma coisa sobre a qual nos debruçamos e que é real, iluminada, ali em nossa frente revela muito mais coisas que não estão aparentes e que são, como diz Agamben, o grande desafio de "nele perceber não as luzes, mas o escuro".


Não acredito, num quetionamento ligeiro que aqui faço agora, que para descobrir o que há no escuro, no não visível no nosso tempo, temos que fazer um teatro de escuridão, de penumbra, de sombras? Iluminar um pouco mais, quem sabe possa ajudar? Ou não?