sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Personagens e situação dramática

No encontro de ontem com os participantes do Workshop de Dramaturgia, o autor e diretor Samir Yazbek se concentrou, inicialmente, no tema "Personagem" e destacou vários aspectos da construção do personagem a partir da visão do dramaturgo (visão de mundo e idéia central do autor). Com uma rápida passagem sobre os personagens clássicos (gregos, dentro da tradição aristotélica, rígida), Yazbek focalizou que o autor (como um deus) pode criar e dar vida a cada criatura (personagem) com um caráter, uma natureza e uma essência próprias. E dentro de sua integridade, o personagem pensa, fala e age. Pode pensar uma coisa, falar a mesma coisa mas agir de forma completamente diferente. Essa combinação leva a dar características bem diferentes a cada personagem que deve cumprir dentro da obra a função que o autor desejar (dentro de sua visão de mundo e da idéia central ou tema de sua peça). Ao estabelecer a função dramática, o que cada personagem vem fazer, o que faz,como faz, como pensa, como age etc. são criadas as situações dramáticas.

Yazbek citou e sugeriu que se fizessem leituras sobre a obra de Etienne Souriau - As 200 mil situações dramáticas. Ver citações e comentários sobre a obra de Souriau em:

Situação dramática - São vários textos sobre teatro, publicados no site do Grupo Teatral Artebagaço, dentre eles um estudo sobre Situação dramática a partir da obra de Souriau -


Por que Souriau ? (de Daisi Malhadas, da Unesp de Araraquara - SP) . A proposta deste artigo é mostrar o interesse de se estudar As duzentas mil situações dramáticas, de Etienne Souriau. Primeiramente, porque a obra não propõe apenas um modelo actancial formal de situações dramáticas, mas lhes examina as funções dramatúrgicas segundo critérios estéticos. Trata-se, além disso, de uma teoria endereçada a dramaturgos, mas que é também útil à análise crítica e à encenação de peças.


Yazbek discutiu com os participantes questões ligadas ao personagem como conflito e ação, observando que em todos os textos sempre se preserva a questão do tempo e do espaço. Para ele, em Beckett "os personagens procuram matar o tempo".

Se na questão de "causa e efeito", uma coisa acontece por causa de outra, em Brechet, "uma coisa acontece depois da outra".

Yazbek disse que não se pode fazer dramaturgia se não houver um conhecimento das ferramentas utilizadas no passado. Só assim, "pode-se ir para o futuro".



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dramaturgia: Diálogo com a tradição e diálogo com as rupturas


Samir Yazbek no encontro de ontem

A busca pelo "espectador ideal"

O autor e diretor Samir Yazbek, no primeiro encontro ontem, no Teatro José Maria Santos, com 15 participantes do Workshop de Dramaturgia promovido pelo Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, iniciou seu trabalho com um bate papo entre os presentes para conhecer a trajetória de cada um e seus planos dentro do universo da dramaturgia.

Yazbek afirmou que "o workshop vai promover um diálogo com a tradição e a ruptura dentro da dramaturgia" e que "nenhum autor escreve para que seu texto fique guardado e sim para que seja montado", daí a necessidade de se descobrir "sua voz própria" - a voz autoral - e através dela buscar atingir "o espectador ideal". Para ele, a descoberta da "voz própria" nasce da necessidade que o autor tem de se expressar dramaturgicamente. "Quando o autor fala de si, fala de todos. Quando ele fala de si, o que disse deve reverberar nos outros", disse. A busca pelo "espectador ideal" deve ser incessante para que, finalmente se chegue até o "espectador real", aquele que vai até o teatro conhecer uma história, seus personagens e com eles estabelecer um diálogo, um entendimento do que foi encenado.

No encontro, Yazbek falou sobre noções de tempo e espaço, citou a tradição dos clássicos gregos, como o tempo e o espaço eram tratados e também como se deu, aos poucos, a ruptura do modelo aristotélico com a chegada de autores como Shakespeare, Tchecov, Beckett, Brechet e outros. Ao traçar um modelo de dramaturgia com: espaço, tempo, personagens, conflito, ação, diálogo, enredo e ideia central (do autor), ele falou sobre o "Personagem", dizendo que o este "tem que trazer a ideia central e a visão de mundo do autor". Em seguida, e antes de encerrar o primeiro encontro, Yazbek mostrou um diagrama para ilustrar aspectos do "Personagem". Hoje e amanhã o workshop terá prosseguimento.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Iceberg não vai para a Argentina. Preferiu a Austrália

As coisas da natureza vão acontecendo e lá em Copenhague, decisão séria mesmo que é bom, nada. E falando em nada, em nadar, vejam só a notícia que saiu hoje:


Está na foto do satélite:


Um iceberg gigante no oceano e a caminho da Austrália. Até parece coisa que minha personagem diz na peça "Eu Avec Você" e que publiquei num post ontem, aqui.


O imenso bloco de gelo não foi para o leste da Argentina, como sugeriu meu texto, mas foi mesmo para a Austrália, a oeste. Mas que tem iceberg andando por aí sem avisar, tem. Tem mesmo.

Workshop com Samir Yazbek

Marcos Damaceno e Samir Yazbek na palestra sobre dramaturgia


Ontem, no Teatro José Maria Santos, Samir Yazbek proferiu a palestra “A Importância da Dramaturgia Hoje”, onde focalizou aspectos de sua carreira e falou sobre a importância da dramaturgia num mundo em que os meios de comunicação de massa se expandem a cada dia. A palestra,como um bate papo, transcorreu num clima bem informal e Yazbek respondeu várias perguntas dos presentes e do moderador Marcos Damaceno, que é o coordenador do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná.

Hoje tem início, a partir das 19 horas, também no Teatro José Maria Santos, o workshop “Dramaturgia em Movimento” restrito aos integrantes da Oficina Permanente do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná onde Samir Yazbek vai coordenar as atividades e apresentar o estudo de conceitos sobre as mais variadas correntes estéticas e ideológicas que culminam nas possibilidades de uma dramaturgia contemporânea.

Fábio Kinas reencontra amigos em Curitiba

Fábio Kinas e Andrew Knoll


De passagem ontem por Curitiba, onde estudou teatro na FAP, o diretor e autor Fábio Kinas, que há 8 anos mora e estuda em Paris. Ele fez seu mestrado em Teatro e, agora, está em fase de conclusão de seu doutorado na Universidade Paris-8. Fábio se encontrou com seu amigo Andrew Knoll e com outros ex-colegas dos tempos da FAP e do teatro em Curitiba.

Sobre o Fábio Kinas, em Paris, acessem:



terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ursos polares abatidos na praia de Mar Del Plata

Está lá, no noticiário: O tom de otimismo dominou a abertura da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), em Copenhague, e não houve grandes atritos entre os países no primeiro dia da conferência.

Está lá, claro, mas o que realmente não está claro, ainda, é se os líderes mundiais vão mesmo olhar com mais atenção para as catástrofes que estão ocorrendo (hoje choveu demais em São Paulo e inundou tudo de novo) e se podemos acreditar que eles tomem decisões que não venham a virar o equilíbrio da natureza de ponta cabeça.

A propósito dos desastres naturais, no meu texto "Eu Avec Você", a personagem Susana conta um sonho que teve:

Susana – Esta noite sonhei que tinha aparecido
um iceberg na minha praia. Não um pedaço de
gelo de alguns metros, mas uma montanha de
gelo. Azul. De sua imensa parede frontal
desprendiam imensos blocos. Alguns já
chegavam até a areia da praia. Dois ou três
ursos polares tiveram que ser abatidos pela
polícia. Quem ia conseguir segurar aqueles
animais enfurecidos pelo calor e pela falta de
comida? Será que saiu na televisão? Nem
sempre notícias reais são mostradas pelas TVs.
Talvez eles não queiram alarmar a população.
Alguém com juízo deveria se posicionar. Falar a
verdade, não é Catharina?
(...)
Os sonhos, quase sempre, são uma projeção da verdade que
vai ou está acontecendo sem que a gente
perceba. Quando menos se espera. É só ler a
manchete: Ursos polares abatidos em Mar Del
Plata. Você sonhou mesmo ou está inventando?

Yazbek faz palestra hoje. Amanhã começa workshop de dramaturgia

Cena final da peça "O Fingidor" de Samir Yazbek

O autor e diretor de teatro Samir Yazbek participa, de hoje a sexta-feira, em Curitiba, de palestra e workshop sobre dramaturgia, em eventos promovidos pelo Núcleo de Dramaturgia patrocinado pelo SESI Paraná.

Hoje, a partir das 20 horas, no Teatro José Maria Santos, Yazbek vai proferir a palestra “A Importância da Dramaturgia Hoje”, e deve focalizar a importância da dramaturgia num mundo em que os meios de comunicação de massa se expandem a cada dia. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas diretamente no site do Núcleo de Dramaturgia.

“Dramaturgia em Movimento” é o tema do workshop exclusivo aos integrantes da Oficina Permanente do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná que Yazbek vai coordenar a partir de amanhã e onde vai apresentar o estudo de conceitos e as mais variadas correntes estéticas e ideológicas que culminam nas possibilidades de uma dramaturgia contemporânea. O workshop será apresentado no Teatro José Maria Santos, das 19 às 23 horas, de amanhã a sexta-feira.

Conheça alguns diálogos em peças do Samir Yazbek

O FINGIDOR (Prêmio Shell de 1999)

Cena 2

(...)

Henriqueta (irmã de Fernando Pessoa) lê o jornal (onde saiu um anúncio de emprego) e fica indignada. Pessoa tenta disfarçar o incômodo. (Ele se candidatou para a vaga de datilógrafo de um crítico literário)

Henriqueta – Datilógrafo de um crítico literário?! Você precisa disso, Fernando?

Pessoa – Do dinheiro, preciso.

Henriqueta – Juro que não estou te entendendo.(um silêncio) Fernando, você é um poeta. Seus poemas foram publicados em inúmeras revistas. Será que você não arrumaria emprego em nenhuma delas?

Pessoa – Ainda não procurei.

Henriqueta – Orgulho?

Pessoa – Se você pensa assim.

Henriqueta – Você traduziu Shakespeare. Será que não existe mais nenhuma peça dele para você traduzir?

Itálico
Pessoa – Ainda não pensei nisso.

Henriqueta – E o prêmio que você ganhou com o seu livro? É pouca coisa, por acaso?

Pessoa – Um reles segundo lugar.

Henriqueta – Aliás, o dinheiro do prêmio não é o suficiente para você passar o ano?

Pessoa – Já acabou.

Henriqueta – (saindo) Muito bem.

Pessoa – Espere. Se quer me ajudar, fique.

(...)


A TERRA PROMETIDA (Em 2002 foi selecionado com um dos dez melhores espetáculos teatrais pelo Jornal O GLOBO)

(Moisés conversa com seu sobrinho Itamar, filho de Aarão, seu irmão)

Ato único

(…)

Itamar – Meu pai sabia que não foi aquele bezerro que nos tirou do Egito.

Moisés – Então por que permitiu que desafiassem assim a palavra de Deus?

Itamar – Não desafiaram a palavra de Deus, mas a do senhor. Perante o povo, o bezerro substituía o senhor, não Deus!

Moisés – Blasfêmia!

Itamar – E quando o senhor sumiu por tanto tempo, nós pensamos que não voltaria mais.

Moisés – Aarão sabia da verdade. Desde quando Deus nos chamou para comunicar a missão de libertar o povo de Israel do cativeiro egípcio. Aquele encontro foi importante demais para ser esquecido.

Itamar – Quer dizer que meu pai foi o culpado de sua própria morte?

Moisés – Não acredita?

Itamar – Não creio que Deus se importe com esse tipo de coisa.

Moisés – Desde quando você o conhece?

Itamar – Castigo? É isso que seu Deus sabe fazer?

Moisés – Nosso Deus!

Itamar – Quem sabe?

Moisés – O que quer dizer?

Itamar – A partir de hoje talvez ele não seja mais meu.

(…)

Os trechos dos diálogos foram retirados aleatoriamente do livro Aplauso Teatro Brasil (com as peças O FINGIDOR, A TERRA PROMETIDA e A ENTREVISTA) publicado pela Imprensa Oficial de São Paulo em 2006.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Yazbek participa de palestra na terça-feira, dia 8

A vida imita a arte.Precisava tanto?

Mário Bortolotto e seu blog "Atire no Dramaturgo": a vida imitando a arte.

O dramaturgo paranaense nascido em Londrina, Mário Bortolotto, permanece internado em estado grave na UTI do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo para onde foi levado na madrugada de sábado (ontem, 5-12-2009), depois de ter atingido por quatro tiros durante um assalto no bar dos Parlapatões, na praça Roosevelt, centro de São Paulo.

Bortolotto passou por uma delicada cirurgia e seu estado tem inspirado atenção especial conforme nota divulgada pela assessoria do hospital.

Mário Bortolotto nasceu em Londrina em 1962. É diretor e ator e vive na capital paulista desde os anos 90. Escreveu e dirigiu várias peças de teatro e é fundador do Grupo Cemitério de Automóveis. Em 2001 foi vencedor do prêmio Shell de melhor autor de peça teatral com "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet".

A vida imita a arte

Bortolotto, ao sofrer tamanha violência dentro de um espaço vinculado a um teatro, não poderia imaginar que seus textos pudessem ter sido levados ao pé da letra. Além de participar da Banda Saco de Ratos que já gravou um disco ele publicou um livro com o título "Atire no Dramaturgo", com textos que publica no seu blog de mesmo nome. A vida imitou mesmo a arte, mas não precisava tanto. A violência ganha tamanha banalização que a gente até fica anestesiado e sem saber como reagir, pois ela tem caminhado por onde a gente menos espera. No seu último post, uma estranha premonição. Ou todos poderão dizer que foi mera coincidência?

Atentem para o último parágrafo do post:

"...E eu voltei pro bar. Quando ninguém mais acreditava que eu pudesse voltar. Eu tinha tudo pra não voltar, né? Mas eu sempre volto. Hoje recebo mensagens de outros amigos. Mas não quero levantar. Já ouviram "This love of mine" do Van Morrison?".

Veja o link:


O post mais recente do Mário Bortolotto, no seu blog foi esse, na véspera do trágico acontecimento (dia 4 de dezembro de 2009):

A DIFICULDADE DE IR ATÉ A ESQUINA E ESSE GOSTO DE PASSPORT PRO INFERNO

Entendam que é difícil pra mim. O telefone toca, mas eu não quero levantar. Deixei "Stranded" doVan Morrison no repeat. Tem uma igreja medieval em cima da minha barriga e algumas orações que aprendi com meus avós na minha cabeça, mas parece que elas não me valem nada. Ainda sinto o gosto do Passport pro inferno. Preciso parar de ir pro Estrela da Roosevelt (o último refúgio que nem sempre nos recebe muito bem). Vou jantar com o Lobo e com a Mariana. Bons presságios. Acho que vou ganhar um Jameson hoje. Um Green Label na minha casa e eu bebendo Passport pro inferno. Eu voltei pro bar hoje. Eu sempre volto pro bar. Os amigos não acreditam quando me vêem entrando pela porta, de novo. Noite boa a de ontem. Grande show. Divertido pra caralho. Emocionante quando tinha que ser e divertido na hora certa. Os amigos se divertindo na platéia. E eu voltei pro bar. Quando ninguém mais acreditava que eu pudesse voltar. Eu tinha tudo pra não voltar, né? Mas eu sempre volto. Hoje recebo mensagens de outros amigos. Mas não quero levantar. Já ouviram "This love of mine" do Van Morrison?

Sobre a banda "Saco de Ratos", veja o MySpace dela: