terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Um personagem e seus monólogos

No texto, seis monólogos tratam da estrutura do que seja um monólogo


No meu texto A Arte do Monólogo, um passeio que segue um mapa indicado por José Sanchis Sinisterra, escrevi seis monólogos que são apresentados após o prólogo, que é teórico e que delineia o que se seguirá na prática, no que os monólogos apresentarão.  O texto é apresentado pelo personagem José, um ator-diretor-professor de teatro.

É esta a sequência, com seus títulos (temas):

1 - Prólogo - De que falamos quando falamos do monólogo?
2 – O locutor se interpela a si mesmo - A carta, o testamento a um Ernesto
3 – Me dá dois real, doutor?
4 - Uma receita insólita, quiçá indigesta
5 - O locutor interpela a outro personagem - Um nome, eu, você, quem sou?
6 - Nem Romeu, nem Julieta...
7 - O locutor interpela ao público - A província dos Senza Culus

É da segunda parte, o primeiro monólogo, onde O locutor se interpela a si mesmo - A carta, o testamento a um Ernesto o personagem José apresenta seu primeiro discurso:

José – Preciso escrever uma carta. Uma mensagem. Ou seria um testamento? Estou com algumas ideias de início. Será que uma delas poderá se transformar na mensagem ideal? Bem... tenho que tentar. Sempre tive muita dificuldade de escrever para mim mesmo. Ou escrever sobre mim, principalmente. A dificuldade maior, muito maior é escrever para alguém de minha família. Alguém próximo.
Alguém que prive de minha intimidade. É sempre muito difícil eu ser eu. Para os outros eu posso ser um escritor, um poeta, um jornalista. Mas para minha família, quem eu sou? Um irresponsável, um homem que vive no mundo da lua? Um homem que nunca teve os pés no chão? Um homem abominável que cultua o estranho e improdutivo gosto pelas palavras. Serei eu mesmo o homem que sempre esteve muito mais próximo das palavras do que de sua família? Não sei... sempre tive sérias dúvidas sobre isso. Sim, sobre quem eu sou, de verdade. Mas hoje eu tenho que escrever para alguém que me é bastante caro, mas que está longe de mim. Hoje fui compelido a escrever para meu primeiro neto. Estou em dúvida sobre qual começo devo adotar no texto que tenho que enviar para ele, para que seus pais – meu filho e minha nora – possam ler para ele. Vou tentar assim...

(...)

Travessias Culturais, novo blog de Luciana Romagnolli e Annalice Del Vecchio


Blog "Travessias Culturais" ponte entre Curitiba e Belo Horizonte
A jornalista Luciana Eastwood Romagnolli, que editava a área de teatro na Gazeta do Povo e que, agora, trabalha no jornal O Tempo, em Belo Horizonte, vai continuar divulgando as atividades do teatro paranaense através de um outro blog que edita ao lado da jornalista curitibana Annalice Del Vecchio.

O blog é o TRAVESSIAS CULTURAIS - um trânsito entre Curitiba e BH - e pode ser acessado aqui:


Quem quiser contribuir, pode mandar sugestões e material para o e-mail


Os contatos com a Luciana Eastwood Romagnolli são:


Jornal O Tempo
(31) 2101-3956/ (41) 9161-1344

domingo, 9 de janeiro de 2011

Na prisão dialética do desejo

Outro vestido vermelho? Você tem tantos parecidos com esse. 
Quem olha para você pensa que você tem só um vestido vermelho...
Acabei de terminar. Talvez ainda numa primeira versão, mas a versão que saiu é essa ainda sem grandes revisões ou reflexões, nem uma leitura mais crítica mais apurada. Saiu depois de umas leituras que fiz acerca do desejo. Escrevi esta nova peça de teatro que tem o título de "Na prisão dialética do desejo" e que, como o próprio título diz, apresenta, "discursa" ou tenta "discutir" a questão de estarmos presos a (nossos) desejos. Simbolicamente o desejo, no meu texto, tem um objeto básico. E está vinculado a um tipo de sujeito. E vocês o verão aparecer durante o texto.

A prisão onde o desejo está encarcerado vai ser revelada ou não podemos descobrir que prisão é essa?

Deve ter, no meu texto, algo que se aproxime de Lacan, com um viés freudiano, talvez, mas é só um texto onde me dei o direito de brincar com palavras e emoções, quem sabe influenciado diretamente por leituras que fiz, mas sem me comprometer com elas e, sim, dando minha versão, meu olhar sobre o que intertextualmente pode ter provocado. Talvez, nas vozes dos dois personagens - Martha e Solano (os nomes tem significados e esses aparecem no texto) - seja apenas uma só voz ou as vozes que estão aos poucos deixando de ser minha própria voz, e que pretende ampliar-se nas vozes de atores e de atrizes por aí. No espaço dos palcos, dos cenários possíveis. Nos tempos possíveis.

Serve, pelo menos, como ilustração do que tenho pensado sobre dramaturgia e algumas formas de realizá-la.

No texto, uma das falas de Martha.

(...)

Martha – Inquieta-me, aqui, essa sensação de não me sentir pertencente ao espaço onde habito. Revolta-me, muito mais, o sentimento de não habitar o tempo atual.

O aqui e o agora, o instante de alegria e de terror. O desejo e o gozo. A surpresa e o encantamento dissipam-se nas tênues tramas do véu original. Trafegam pelo cenário iluminado teias fortíssimas de um emaranhado de histórias, sentimentos, afetos reais, conquistados e que se perderam ao longo da colcha de retalhos que teci como Penélope e que destruí ao rolar-me com ela em calçadas frias de noites mal dormidas. Sinto-me só, embora o calor de alguém me dê uma falsa sensação de cumplicidade.

Conviver, como disse aquela sábia mulher lá do Sul, não se torna diálogo ou parceria, mas um frustrante monólogo a dois.

Estou cansada de monologar num falso diálogo comigo mesma. Você, meu querido Solano, é um vento que sopra cálido quando necessário. Mas, vez ou outra, quase sempre, vem gélido, cortante. Fazendo sons que me aterrorizam e que invadem recônditos de minha alma, mas que, ainda assim, me fazem sentir-me viva. Desejo uma convivência diferente, viva, audaz.

(...)


Quem se interessar pelo texto poderei enviá-lo por e-mail no formato PDF.


Contatos:  rogeriobviana@yahoo.com.br