quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Bicho Corre Hoje

A sorte que escorre e que ninguém percebe

O sonho de ganhar na loteria, na Mega Sena, na Federal, no jogo do bicho. A falta de diálogo, o isolamento, aquele cotidiano que escorre como uma forte chuva e que se infiltra pelas paredes, que invade o espaço do vizinho como um vazamento inoportuno e indesejado, a falta de fé, a fé exagerada (seria ilusão?), o desamor, o humor que se veste com um pouco de insanidade mental são os ingredientes da peça BICHO CORRE HOJE que voltou ontem no Teatro José Maria Santos, em Curitiba. A peça foi produzida e premiada em 2004, com o mesmo elenco.

Produzida pela Cia Senhas de Teatro, com texto e direção de Sueli Araújo e interpretação sólida de Patrícia Saravy e Greice Barros, a montagem marca os 10 anos do grupo teatral e foi selecionada para participar do Circuito Cultural SESI / Teatro Guaira, devendo ficar em cartaz no Teatro José Maria Santos até 27 de setembro, de quarta a domingo.

Duas mulheres comuns que de comum não tem nada. Também não é nada banal o que elas narram e vivem em cena. Se há humor naquelas vidas, há o prenúncio constante de uma tragédia. Se elas não se falam, se detestam, o que elas falam apontam para o inevitável e o trágico desencontro. A sorte que uma tanto quer ter, os números que tanta reza exige da funcionária pública aposentada, especializada em carimbos e desilusão, chega para a vizinha de parede, a empregada doméstica, também mal amada e esquecida pelo amor e pela sorte, que, totalmente por acaso, adquire um bilhete, um jogo de loteria e é premiada.

Usando o recurso da "terceira máscara", personagem narra e vive o seu papel. Narra a história que se divide por uma frágil parede de "dry wall". Cada uma em seu lado, com desilusões similares, dores similares, flores idênticas, sorte que vira azar, azar que vira sorte, humor que vira tragédia. E os números que foram acertados pela personagem do outro lado daquela parede de ilusões, com certeza nunca seriam os números sonhados e perseguidos pela outra personagem do lado oposto.

As duas atrizes - Patrícia Saravy e Greice Barros - executam seus papéis de forma sólida. Consistente. E são papéis contrastantes. Uma é alegre, extrovertida, que acentua momentos de alegria e desalento, vai do literal mergulho que faz no seu cotidiano que escorre ao ponto mais alto de uma insanidade que nela se instala, quando decide esconder o bilhete premiado num lugar tão inapropriado quanto simbólico. Afinal, tem gente que não nasceu mesmo para ser feliz e só descobre uma pretensa felicidade - e alegria - quando deixa se invadir por uma fortuna mal colocada e que jamais poderia ser encontrada ou resgatada. Patrícia é a empregada doméstica.

A outra, a que tanto reza, a que tantos santos cultua, que tantos sonhos tem e que tenta elucidar transformando-os em meros números, meras dezenas, combinações, sequências, não percebe que a quantidade de carimbos que deu ao longo de sua burocrática e infeliz vida, não pode e não terá como resgatá-la de sua inevitável infelicidade. No máximo, o que consegue, mesmo sem saber, é ter os números premiados, da sorte grande, passando ao seu lado, escorrendo por baixo de sua porta, infiltrando-se naquela parede e impedido-a, para sempre, de se considerar vitoriosa, amada e feliz. Greice é a funcionária pública de uma feliz cidade.

Ambas as atrizes fazem com grande competência suas personagens mostradas num cenário simples e que reflete, muito bem, o que de tragicômico existe entre pessoas como nós mesmos. O texto de Sueli Araújo é bem construído e tem muitos outros significados que o público poderá perceber se olhar com os ouvidos e se ouvir com os olhos, deixando que as emoções e os sentimentos não sejam comandados nem pelo cérebro e nem pelo coração, apenas.

Antes da peça ter início, as duas atrizes interpelam as pessoas da platéia e pedem que elas digam seus números prediletos, as datas de seus aniversários, os números com as quais convivem e que, com certeza, também sonham. Ontem, antes da peça começar, num trabalho que pretende conhecer melhor as platéias dos espetáculos que está promovendo, o SESI Paraná, através do seu Núcleo de Cultura, solicita que as pessoas preencham um questionário-cadastro. No final do espetáculo seriam sorteados dois números, sendo entregues dois DVDs com o tema formação de platéia.

Os números sorteados foram, pela ordem 250 e 252. O meu número era 251. A sorte me cercou pelos dois lados. E uma das premiadas com o tal DVD estava literalmente sentada do meu lado esquerdo. A outra estava à minha frente. Que sorte eu tenho, não é?

Ontem joguei alguns números na Mega Sena, nada mais que 10 reais. O prêmio anunciado era de cerca de 22 milhões de reais. O prêmio sorteado ontem, dia 2 de setembro de 2009, saiu para o Paraná, para a pequena cidade de Terra Roxa, que é vizinha a Guaira, naquele pedaço do nosso estado onde o Rio Paraná divide o extremo sul do estado do Mato Grosso do Sul e o sudeste do Paraguai. O prêmio total pago pelo concurso 1105 da Mega Sena, para o sortudo de Terra Roxa é de exatos R$ 21.878.202,24, quase mesmo os 22 milhões anunciados e os números que foram sorteados são: 01, 15, 28, 43, 50 e 57.

Rogério Viana

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Resultado da MEGA SENA de 2 de setembro de 2009 - Concurso 1105


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SERVIÇO
Bicho Corre Hoje.. De 02 a 27/09. Quar. a sáb. às 20 e dom. às 19h. R$10 e R$50 (quar e quin. leve uma pessoa e ganhe seu ingresso). Teatro José Maria Santos ( Treze de Maio, 655). Informações: 3322-7150 .

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