quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um exercício de dramaturgia e construção de cena


Ontem, na sede da cia brasileira de teatro, em Curitiba, e utilizando o espaço onde está montado o cenário para a apresentação da peça "Oxigênio", Márcio Abreu, diretor e autor, iniciou a oficina de Dramaturgia e Construção de Cena, que integra o projeto do espetáculo que será apresentado até este final de semana.
A cena contemporânea, experiências, trabalhos de linhas distintas, no Brasil e no exterior. O teatro que a cbt realiza, relatos. Um pouco disso tudo e, depois de comentários, reflexões, uma pausa para o café. Após, Márcio Abreu propôs a realização de um exercício. Um exercício com as características e as premissas que se seguem.

Oficina de Dramaturgia e Construção de Cena
Com Márcio Abreu – cia brasileira de teatro – Curitiba - PR

Exercício – dia 16 de dezembro de 2010

Premissas/condições

Conversar com um companheiro e perguntar, basicamente, qual o trajeto feito a partir do ponto onde estava até chegar à sede da CBT.

Escrever um texto – em 10 minutos – observando ter:

a – um fato inventado
b – um diálogo
c – algo que seja fuga da realidade

Autor: Rogério Viana

Café catalão

(...)

Fazia um frio incomum nesta manhã de primavera. Marta queria conhecer um pouco mais desta desconhecida Curitiba e de muitos de seus enigmáticos moradores.

- Você escreveu enigmáticos?
- Sim. Ou você não vê ou percebe que os curitibanos, todos eles são enigmáticos?
- Não os vejo assim...
- Mas os curitibanos são enigmáticos, sim. Pode acreditar...

Marta não acreditou que enquanto seu marido preparava o café ela estivesse pensando numa nova história.

O cheiro do café sempre a fascinara. Fascinara, sim... E o que ela mais gosta, além do seu sabor, é seu aroma. O café brasileiro é bem mais forte que seu café espanhol. Seu café de Barcelona. Seu café catalão...

- Mas preparam aqui com muito açúcar. Não quero muito açúcar, mi amor...

- Usted...

- Por favor... Menos, Sérgio!

Sérgio atendeu ao pedido e, desta vez, não colocou as três colheres de açúcar que normalmente colocava no pequeno bule de café. Marta ficou observando a dança da fumaça saindo do bule e que perfumava toda a casa. Ela começou a dançar ao ritmo da fumaça do café quentinho. Preparado do modo brasileiro.

Beijou Sérgio.

Seguindo a orientação de seu amigo Rodolfo, foi para a avenida esperar o ônibus amarelo da Barreirinha. Todos os ônibus amarelos passavam pelo parque São Lourenço e iam direto parar na praça Tiradentes. Sim, perto da Catedral. Bem próximo, muito próximo mesmo onde fica a sede da Companhia Brasileira de Teatro para onde ela ia.

Fazia um frio incomum e nesta manhã de primavera Marta, segurando-se como podia dentro do ônibus amarelo da Barreirinha observava as pessoas que, ainda sonolentas, iam para o trabalho. Homens e mulheres com caras entristecidas estavam ao seu redor. Fazia um frio incomum e algumas gotas de chuva começavam a aparecer no vidro lateral do ônibus onde Marta apoiava sua cabeça e olhava, pensativa, para fora.

O ônibus parou num semáforo. Marta olhou para fora e viu que no carro ao lado um homem sorria. O homem sorria e ela pode ler – sem dificuldades – o que os lábios daquele homem dizia:

- Querida, a médica me disse que pode não ser câncer... que o tumor pode ser benigno. Sim, querida... pode ser benigno, sim, benigno...

O sinal ficou verde. O carro avançou rapidamente. Enquanto o ônibus movimentava-se lentamente, Marta sentiu que, ali, naquele instante, ela tinha um motivo para escrever outra de suas histórias. Uma história de esperança. De superação. De vida!

- Quem estava vivo naquela manhã?

- Ela, ou seu personagem?

Marta apenas sorriu naquela incomum e fria manhã de primavera.

- Sérgio, por favor, quero mais café...

(Exercício de Rogério Viana depois de ouvir algumas respostas dadas por Marta López Garcia, jovem professora de Letras, catalã de Barcelona, que está em Curitiba há dois meses e que mora com seu marido, o brasileiro Sérgio Ricardo, e com dois amigos, atores, no Parque São Lourenço. Marta adora café. E toma sem açúcar. Quando muito, um pouquinho só de açúcar. Depois do café, quando é permitido, ela prepara um cigarro com um fino tabaco. Ontem ela não podia fumar na sede da cbt. Em Curitiba não se permite fumar em ambientes fechados. É lei.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário