domingo, 9 de janeiro de 2011

Na prisão dialética do desejo

Outro vestido vermelho? Você tem tantos parecidos com esse. 
Quem olha para você pensa que você tem só um vestido vermelho...
Acabei de terminar. Talvez ainda numa primeira versão, mas a versão que saiu é essa ainda sem grandes revisões ou reflexões, nem uma leitura mais crítica mais apurada. Saiu depois de umas leituras que fiz acerca do desejo. Escrevi esta nova peça de teatro que tem o título de "Na prisão dialética do desejo" e que, como o próprio título diz, apresenta, "discursa" ou tenta "discutir" a questão de estarmos presos a (nossos) desejos. Simbolicamente o desejo, no meu texto, tem um objeto básico. E está vinculado a um tipo de sujeito. E vocês o verão aparecer durante o texto.

A prisão onde o desejo está encarcerado vai ser revelada ou não podemos descobrir que prisão é essa?

Deve ter, no meu texto, algo que se aproxime de Lacan, com um viés freudiano, talvez, mas é só um texto onde me dei o direito de brincar com palavras e emoções, quem sabe influenciado diretamente por leituras que fiz, mas sem me comprometer com elas e, sim, dando minha versão, meu olhar sobre o que intertextualmente pode ter provocado. Talvez, nas vozes dos dois personagens - Martha e Solano (os nomes tem significados e esses aparecem no texto) - seja apenas uma só voz ou as vozes que estão aos poucos deixando de ser minha própria voz, e que pretende ampliar-se nas vozes de atores e de atrizes por aí. No espaço dos palcos, dos cenários possíveis. Nos tempos possíveis.

Serve, pelo menos, como ilustração do que tenho pensado sobre dramaturgia e algumas formas de realizá-la.

No texto, uma das falas de Martha.

(...)

Martha – Inquieta-me, aqui, essa sensação de não me sentir pertencente ao espaço onde habito. Revolta-me, muito mais, o sentimento de não habitar o tempo atual.

O aqui e o agora, o instante de alegria e de terror. O desejo e o gozo. A surpresa e o encantamento dissipam-se nas tênues tramas do véu original. Trafegam pelo cenário iluminado teias fortíssimas de um emaranhado de histórias, sentimentos, afetos reais, conquistados e que se perderam ao longo da colcha de retalhos que teci como Penélope e que destruí ao rolar-me com ela em calçadas frias de noites mal dormidas. Sinto-me só, embora o calor de alguém me dê uma falsa sensação de cumplicidade.

Conviver, como disse aquela sábia mulher lá do Sul, não se torna diálogo ou parceria, mas um frustrante monólogo a dois.

Estou cansada de monologar num falso diálogo comigo mesma. Você, meu querido Solano, é um vento que sopra cálido quando necessário. Mas, vez ou outra, quase sempre, vem gélido, cortante. Fazendo sons que me aterrorizam e que invadem recônditos de minha alma, mas que, ainda assim, me fazem sentir-me viva. Desejo uma convivência diferente, viva, audaz.

(...)


Quem se interessar pelo texto poderei enviá-lo por e-mail no formato PDF.


Contatos:  rogeriobviana@yahoo.com.br

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