segunda-feira, 4 de julho de 2011

Frases soltas que não podem ficar presas

Já atingi 121 páginas (de 208) lidas da edição de "Catatau" (Iluminuras). É um livro difícil, muito difícil de ser lido. Quando se começa a ler parece que estamos enfrentando uma aventura num deserto. Aquela aridez, tudo seco, tudo seco, incompreensível, tudo parece ser igual, tudo parece ser diferente, nada é do nosso conhecimento. Mas, assim, sem esperar, encontramos uns oásis. Não são oásis de miragem. Eles são mesmo reais na aridez daquele texto muito difícil de ser lido, muito difícil.

Assim, decidi pegar algumas frases soltas que fui encontrando dentro do aparente deserto. Estas frases não podem ficar presas, já que saíram da imaginação de um homem inquieto e muito criativo.

Paulo Leminski escreveu o que abaixo reproduzo:

Mudei muito. Dá para ver daí? Cuidado com o que não muda. Aqui fiquemos. (página 67)


Esse polaco cadê, desapareceu da minha impressão, pareço um homem sozinho. Nunca abro a boca e quando abro é para falar com fumaça? (página 67)


Todo bicho quer viver gordo. O homem é um bicho que quer viver por perto. Daqui não dá para ver bem mas é alguém matando um outro. O qual já morreu, mas vamos ao jurisconsulto, um dia, fez o projeto do juiz perfeito chegando à conclusão que o juiz seria tanto mais perfeito quanto mais se assemelhasse ao réu, para conhecê-lo e puni-lo com justiça. Ora, ninguém mais semelhante ao réu que ele mesmo. Assim o juiz e o réu são a mesma pessoa, que se absolvem e fazem as pazes. (página 77)


Aqui se fala muito, falar é viver: dizer pode ser um céu. Céu, poder falar e ser ouvido. Quem fala? Muitas vozes falam dentro da minha cabeça mas a voz, só minha. Quem fala é oposto na frente. Só ir falando, e vencendo. Trouxe o que pedi? Está perdido mas não veio ainda. O que quer que seja. O dia, um cego sonhando com um incêndio. (página 78)


Livro, já estiveste dentro de um sonho e te fiz despertar, poque o sol é melhor que o sonho! (página 84)


Boas estão por vir. Se bem que tentasse, mal e mal pudesse, salvo se soubesse. Um sujeito desconfiado - determinado objeto de suspeita, o indolente não sente dor, sente a terrível dúvida. Não procurei evitar o inevitável: alto está para ser, imediatamente, constado. Averigue um teatro, um pouco de gestos, um reto de palavras. Prevendo um sortilégio, um augúrio está previsto. Como se pode presumir, não se pode pressupor.
(página 95)


De tanto fazer tudo fazer tanto, fez-se como tanto faz, - de que tudo ou nada seria capaz? (página 100)


Obrigado, obrigado, eu mereço muito mais, mas por ora vou aceitando essas homenagens, até o limiar de tolerância do meu saco de paciência, capitão! (página 108)


Posso querer ir aí e falar isso, penso que sei mas falando substituo minha certeza pelos azares da comunicação. Falar é coisa de quem novidades tem, saber já é repetir. Levanta uma cabeça revoltada, sabendo tudo e furiosa por uma curiosidade! (página 108)


Altura altera largura, sei mais de mim que de outros mas tem muitos outros em mim, que eu não sei. (página 109)


Acaba a utilidade, fica a verdade, acaba a verdade, fica a beleza; não minta que bem conheço o contrário dessa história. (página 109)


Partam sossegados, intercederei por vós lá no céu, e apontou para o alto, donde em pleno gesto escorre o raio que o fulmina. Pratiquei com ele, comigo conjecturando: procurei, para desdouro do meu desdém... Vou ali, me suicido e já volto. Me acusaram da minha vida, reconheci. Dou uma chegada na vida, chefe, vejo como é e estou aqui amanhã ao meio dia sem falta para dizer como é que se mata. (página 113)


Ele, a terceira parte da trindade, hoje dupla caipira. (página 115)


Mais carinho, trata-se do mundo, uma máquina cuja peça principal é minha cabeça! (página 116)


Para cada bicho de sete cabeças, tem sete sem nenhuma, assim como lamentavelmente nenhuma à procura de um bicho. (página 117)


Inspirando-me algumas palavras, depois das palavras de Leminski, saiu esta frase, com um certo sabor de desabafo, na forma de um desafio, provocação:

Prefiro errar com minhas vírgulas, que acertar com seus pontos finais.

Pois é.

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