O texto e o resumo da primeira leitura de "O dia em que morreu Leminski" na visão e na foto feita pelo diretor Léo Moita na Riopública onde mora no Ahú. |
O diretor Léo Moita pretende proporcionar aos três atores - Felipe Custódio, Naiara Bastos e Val Salles - a experiência de respirarem a atmosfera de uma biblioteca no seu dia-a-dia e, também, de poderem sentir as vibrações emanadas por milhares de livros que lá estão guardados. Léo Moita quer criar a sensação dos atores sentirem na pele o que possa ser uma metafórica "intertextualidade". A conversa que diferentes livros estabelecem entre si na criação de uma outra obra de arte, um outro texto, um novo livro. Uma nova peça de dramaturgia.
No texto de Rogério Viana, há referência a uma constante assembléia de livros que conversam entre si nas prateleiras onde estão ou estiveram e o personagem Demétrio Trindade (vivido por Felipe Custódio) ultima os preparativos para a mudança desses livros e pretende levá-los para um lugar "seco e seguro". Instigado por Marcelo Antero (vivido por Val Salles) e ainda mais provocado por Lílian Pedrozo (pela atriz Naiara Bastos), Demétrio Trindade (uma tríade em si mesmo) reconhece que antes de deixar de ser um autor para se transformar em personagem, antes de ser poeta para virar poesia, terá que se defrontar com muitas dificuldades e lembranças. Terá que justificar ou reconhecer erros, mas, sem talvez arrepender-se. Terá, também, que fazer um tipo de prestação de contas e essa se dará com a tradução que ele fez de uma canção inglesa que está no "hit parade" daquele ano de 1989 e que ele, mesmo sem querer, ouve numa rádio quase que diariamente. A mesma rádio que, naquele dia, emudece e sente a falta de uma voz feminina que parece ter desaparecido num dia frio do mês de junho de 1989.
No seu monólogo inicial, Demétrio Trindade, ainda sonolento, disperso, faz algumas reflexões sobre a definitiva mudança que terá que fazer. Ele parece não aceitar que estejam mudando de lugar os seus livros, mexendo em seu mundo todo particular, interferindo na relação dele com seus livros. E ele diz:
(...) Como detesto ter que mexer em coisas que sempre estiveram bem onde sempre estiveram. Não, deixa lá... Está bem? Deixa lá. Pra que tirar tudo e depois pegar tudo e por no mesmo lugar? Deixa como está. Não mexe, porra! Não mexe! Dá para respeitar minha bagunça organizada? Quando eu tiver um aspirador de pó, eu limpo. Já disse, eu limpo. Mas deixa tudo como está, ok? E não me venha com implicância... Você não aprendeu que detesto essas pequenas implicâncias que não tem nenhum sentido. Nem são práticos ou lógicos. Já disse. Há uma lógica nos meus livros esparramados aqui, ali... Lá diante. Deixe como estão, está bem? Não mexa em nada. Eu encontro o que quero pelo cheiro. Você não sabe como é preciso o meu olfato. Quando quero encontrar um livro, eu deixo meu olfato funcionar... E meu nariz fica como o ponteiro de uma bússola buscando o seu norte. E quando ele aponta para uma direção. É batata! O que procurava está lá. Um pouco mais acima. Um pouco mais abaixo. Mas está lá. É batata! (...)
A leitura pública
A leitura dramatizada do texto "O dia em que morreu Leminski", de Rogério Viana, vai acontecer no próximo dia 24 de agosto de 2011 (quarta feira), a partir das 17h30, no auditório Paul Garfunkel da Biblioteca Pública do Paraná. A direção da leitura será de Léo Moita, jovem diretor formado pela FAP e que nasceu dois meses antes da morte de Paulo Leminski em 1989. Os personagens são Demétrio Trindade, Marcelo Antero e Lílian Pedrozo e serão vividos por Felipe Custódio, Val Salles e Naiara Bastos, respectivamente. Os próprios nomes dos personagens podem indicar alguma coisa sobre a "tríade" que vive em Demétrio, ele mesmo uma trindade, mas também pode jogar luz no nome de Marcelo Antero, ele sempre presente, fiel amigo que ocupa instâncias distantes do universo do escritor que empreenderá uma definitiva viagem. Lílian Pedrozo, a que completa o tripé de personagens, tem referências em algumas certezas que se confirmaram depois na história de Demétrio e do personagem real - Paulo Leminski - que o inspirou. Com um sobrenome toponímico, Lílian reveste-se de uma candura que é só aparência e de uma dureza que é insinuante e que pode parecer querer fazer o bem, mas isso não consegue. Ou não, como saber?
Léo Moita acompanha a leitura de Val Salles, Felipe Custódio e Naiara Bastos |
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