domingo, 2 de outubro de 2011

Novo texto traduzido: "Caramelo de nova york", do venezuelano Juan Martins

Juan Martins em seu escritório em Maracay, Venezuela
Há uns dias fui contatado pelo professor de literatura, editor, crítico, autor e diretor de teatro da Venezuela, Juan Martins, através do grupo do Celcit, no Facebook. O premiado autor venezuelano se mostrou interessado pela minha provocação de que "o teatro e a dramaturgia brasileira não deveriam ficar de costas para o que acontece com montagens e a escritura de textos teatrais nos países da América Latina". Eu defendi a necessidade de estabelecermos um maior e mais contínuo intercâmbio com quem também faz teatro nos países de língua espanhola e que estão tão próximos de nós, no continente sul americano.

Juan Martins, que é professor de Literatura Latinoamericana na UPEL - Universidad Pedagógica Experimental Libertador, é filho de imigrantes portugueses (de São Miguel, Açores) e abriu para mim a possibilidade de trocarmos informações sobre o que ele escreve para e sobre teatro em Maracay, onde mora. Visitei três blogs que ele publica (informarei todos logo abaixo) e vi que poderíamos iniciar uma troca de informações e de olhares sobre teatro e dramaturgia.

Assim, pedi que ele me enviasse dois de seus textos para que eu pudesse traduzi-los para o português. Filho de portugueses que é, Juan conhece nossa língua e gostou da ideia de ver um dos seus textos traduzidos para o português brasileiro. Ele, então, enviou-me dois textos e em uma semana fiz a tradução de seu texto "Caramelo de nova york" (assim mesmo, escrito em letras minúsculas).

"Caramelo de nova york" recebeu, na Venezuela, em 2007, o prêmio "Bienal de Literatura Miguel Ramón Utrera". Vejam informações sobre o texto e o prêmio que ele recebeu no site "Resonancias Literarias" da Venezuela.

O texto de Juan Martins em síntese é o encontro de duas mulheres - Betty e Elisa - que vivem um melodramático desenlace em um vagão de metrô de Nova York. São seres alienados que agoniados pelas convenções sociais optam por confrontarem suas existências de uma maneira nada convencional.

Aqui, um pequeno trecho de "Caramelo de nova york":

(...)

Betty – Vou falar sobre a mulher. Preciso de silêncio.
Elisa – Ah...
Betty – As mulheres...
Elisa – Você e eu somos mulheres.
Betty – Não somos uma minoria.
Elisa – Eu sei. Olhe ao seu redor.
Betty – Representamos cinquenta e cinco por cento da humanidade.
Elisa – Sei...
Betty – Não somos uma minoria. Representamos a maioria. Temos nossos direitos...
Elisa – Sei...
Betty - ... A dar nossas opiniões. A sentir e realizar nossos sonhos. Não deixemos que façam por nós...
Elisa – Claro que não...
Betty – Nós fazemos a diferença... Não eles, os homens, o sistema.
Elisa – Sistema?
Betty – Existe uma pequena linha entre realizar e sentir o valor que nós mulheres temos para não deixar as coisas passarem. Não devemos ter vergonha de sermos mulheres.
Elisa – Explique, porque utiliza palavras que ninguém entende...
Betty – Falo muito sério.
Elisa – Eu também falo. Nenhuma mulher vai entender que está falando de um potente pênis, saboroso, elegante e quente que vai fazê-la sentir-se feliz.
Betty – Não é assim que quero falar de sexo nem de mulher...
Elisa – Ah... não! Veja Betty, nós mulheres queremos ser felizes. Por um instante. Com tanta falta de homens...
Betty – Está me interpretando mal...
Elisa – Não acredito, eu faço por bem. E digo bem do sexo.
(...)

Os blogs de Juan Martins:




3 comentários:

  1. O cenário é um vagão de trem? Duas mulheres? Toma cuidado com o quadro do zorra total: metrô/duas mulheres...ai bandida!
    Já viu a analogia da cultura senso comum. Papo sério agora,eu olho com ressalva diálogos femininos escritos por homens, porém me pareceu realista o que essas mulheres compartilham, tem uma pitada de humor é o que precisamos: rir um pouco das mazelas da vida.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Bel, a peça foi escrita e premiada na Venezuela em 2007, portanto há quatro anos. Não daria para ter sido inspirada num quadro do Zorra Total. Além do mais, as personagens do Zorra são puro deboche. Mas a arte é isso mesmo. Os temas explodem aqui, ali e parecem ter uma mesma fonte. Seria um tipo de inconsciente coletivo como ensinou Jung. Não é? Valeu.

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