sábado, 7 de janeiro de 2012

Falsos cognatos, um jogo de (in)verdades e de não mentiras

Desde novembro estava trabalhando com a ideia de escrever outro texto para teatro. Daí ter parado com as traduções que estava fazendo. Uma delas, iniciadas, é a peça "Chapeuzinho Vermelho ri à meia-noite", do venezuelano Juan Martins e que vou concluir nos próximos dias.



Depois de ter traduzido 13 peças teatrais de autores de língua espanhola, deparei-me, várias vezes, com palavras que tinham sentidos bem diferentes do que aparentavam ter. Daí eu era obrigado a pesquisar vários dicionários, de outras línguas, para encontrar um sentido mais exato do que a palavra em espanhol queria dizer e significava mesmo. Parti, então, do título FALSOS COGNATOS.


O que são FALSOS COGNATOS?

FALSOS COGNATOS, FALSOS CONHECIDOS
Falsos conhecidos, também chamados de falsos amigos ou falsos cognatos, são palavras normalmente derivadas do latim que aparecem em diferentes idiomas com ortografia semelhante, e que têm, portanto, a mesma origem, mas que ao longo dos tempos acabaram adquirindo significados diferentes.

E seu significado, no meu texto, tem um pouco de relação com a noção de falsidade nas amizades, nos conhecimentos falsos que temos de pessoas, conhecidas, não amigas e mesmo nas amigas que, muitas vezes, aparecem tão desconhecidas algumas ou na maior parte das vezes; mas também na confusão de palavras parecidas dos vários idiomas - no meu caso, na exploração e no estudo da língua espanhola -, na traição que é traduzir um texto de uma língua para outra, mas, sobretudo, no que causa de confusão ao traduzir um sentimento em outro. Em desentendimentos, muitas vezes, estéticos que resvalam na questão ética quase sempre.

Assim, o que estava quase acabado, nesta manhã de sábado - aqui hoje faz calor e tem um sol bem forte que invadiu minha janela logo cedo - foi concluído.

Talvez eu faça, ainda, algumas correções, pois não gosto de escrever e ir corrigindo. Prefiro que o texto descanse um pouco para depois, sim, eu dar uma olhada mais crítica nele. Não faço mudanças substanciais, pois o que saiu saiu. O que faço e sempre faço mesmo é corrigir palavras que foram escritas com erros de digitação. Não vou além disso. Talvez devesse ir além, mas respeito o ritmo dos textos quando são escritos, sem me ater a se o que está saindo tem ou não sentido ou força dramática.

Bem, está pronto.

O texto foi inspirado - em parte - na minha experiência de ter traduzido textos da autora argentina Patricia Zangaro - seus tangos, seus personagens insólitos, suas forças, seus estranhamentos. Também em personagens de Juan Martins, venezuelano, autor, diretor e professor. Em personagens da também argentina (há anos morando em Paris) Susana Lastreto. Em personagens dos espanhóis Gracia Morales e José Sanchis Sinisterra, de quem também traduzi peças e textos teóricos de dramaturgia.

Mas o que tem mais no meu novo texto é nas intenções, na brincadeira e no jogo com as palavras - algumas, no tal falso cognato literal mesmo. Brinco com literal e com lateral. E outras palavras. Outros sentimentos, outros olhares. Falsas impressões. Impressões imprecisas. Precisas impressões pressionadas por palavras, parágrafos que espremem as entrelinhas, como diz Clarice Lispector.

Um dos personagens é Juan e é uma citação direta ao venezuelano Juan Martins. Talvez eu seja um pouco do Pedro, outro personagem, mas serei também um pouco de Débora e de Letícia,as outras personagens. Eles estão lendo e ensaiando uma peça de teatro, mas ao mesmo tempo o texto é construído e traduzido por antecipação. Um jogo de metalinguagem teatral. Uma tradução que é feita antes mesmo do texto original ter sido escrito ou criado por antecipação na cabeça do tradutor. Isso, assim, antecipando o que já virou passado no presente que é futuro, hoje sendo o amanhã que não existiu.

Eu diria que FALSOS COGNATOS, minha nova peça teatral é um jogo de (in) verdades e de não mentiras. Mas, por ser teatro, é fábula. É mentira, ilusão. Ilusão e esperança. Esperança que enterrei para vencer com muita coragem o medo de escrever.


Um comentário:

  1. Feliz 2012 Rogério, estou curiosíssimo para conhecer seu novo texto.Forte abraço.Thadeu Peronne

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