segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pequeno trecho de "Parent(es)is - Fábula para seis ou mais vozes"

Vai um pequeno trecho de "Parent(es)is - Fábula para seis ou mais vozes".

Vós – Nunca, isso nunca. Nunca eu sentei no
colo de ninguém para ganhar doce. Ou para
ganhar qualquer coisa difícil de se conseguir. O
que veio, veio por outro tipo de esforço.
Esforço-me muito para aprender. Dou a cara
para bater. Se caio, levanto. Caio de novo.
Sempre caio. Mas é tão bom quando a gente dá
a outra face. Mas eu imediatamente uso de força
desmedida e revido. Dou uma porrada! Que
coisa mais besta é essa de dar a cara para bater
dos dois lados! Bateu, levou! É meu lema. Se o
senhor der mais desconto eu levo quatro. Pode
embrulhar.

Eu – Naquela casa de praia. Não sei, mas foi
num destes feriados prolongados onde toda a
cidade vai para a praia. Todos foram. Começou
a aparecer gente, gente. Ele tocou a campainha.
Jamais eu imaginei que ele fosse aparecer, tanto
tempo depois. Mas apareceu. Tocou a
campainha. Trazia uma caixa. Claro, tinha mais
cerveja que roupa. Tinha mais vodca, que
comida. Mas tinha, também, mais cara de pau,
que vergonha. Ele não se envergonhava de
nenhuma das aprontadas que tinha feito comigo.
Mas, fazer o quê? Eu adorava o filho da puta!

Ele – Ah, não me venha com essa conversa
mole. Esta lenga-lenga! Eu sei doutora, eu sei
que a senhora está acostumada a tratar de
crianças remelentas. Mas não fale assim
comigo. Não sou criança e estou pagando o
valor da consulta integral. Não tem desconto?
Se não tem desconto, quero tratamento integral
de gente grande. Diga logo o que tenho e não
fique com frescuras, eufemismos. Mentiras.

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