Parent(es)is - Fábula para seis ou mais vozes
Nos três últimos encontros com o Roberto Alvim ele falou nas muitas instâncias de tempo e de espaço que um texto teatral pode ter. Citou o francês Armand Gatti, ele que foi o criador do termo "teatro de possibilidades". Alvim citou e pediu que todos lessem o texto de outro francês, o Michel Vinaver (A procura de emprego), e também os textos da inglesa Sarah Kane (Ânsia) e "Quarteto", do alemão Heiner Muller.
Nos textos dos autores citados (ele também citou Richard Maxwell), há uma narrativa fragmentada, muitas vezes ela vem em fluxo contínuo e o tempo e espaço não são lineares. Alguns personagens podem contar histórias - simultâneas ou não - de mais personagens. Nos textos pode aparecer o que se chama de "transmigração de consciências" e até a "transmutação do sujeito". Ele é ela, ela é ele. Eles são elas, pode ser que sim, pode ser que não. Alvim destacou que é "preciso ter fé na linguagem" e que "só através da palavra pode-se mudar o tempo e espaço".
Acho que concordei com ele. Tivemos que fazer um exercício em casa, depois, escrevemos um exercício no encontro de 24 de novembro, lá no Teatro José Maria Santos. O que escrevi em casa, para espanto dos meus colegas, decidi não apresentar naquela tarde. Fiquei ouvindo o que os colegas escreveram. Muitas vezes a gente aprende mais quando fecha os olhos e escuta do que quando lê de olhos bem abertos, mas com o espírito voando solto por aí.
A brincadeira dos colegas no momento em que eu declarava não ter "feito" o exercício, acabou provocando em mim o desejo, a vontade mesmo, de escrever algo novo, usando um pouco do que tenho ouvido como inspiração e não como plágio ou cópia. Passei alguns dias. Na manhã de sexta-feira, ao acordar, achei que podia utilizar como título (sempre começo meus trabalhos pelo título) o que agora apresento: Parent(es)is - Fábula para seis ou mais vozes.
Minha idéia era deixar vir alguma coisa onde houvesse a presença de familiares, pais, mães, irmãos, parentes, enfim. Mas, também, para que entre esses "parentes" pudessem aparecer alguns "bastardos", uns filhos da puta que sempre surgem para nos causar problemas ou, até, para nos darem muito prazer. Também, como o título possa sugerir, entre parêntesis, que a criação pode ser cruzada, não pela minha própria consciência, mas pelo que de inconsciente os personagens pudessem sugerir durante a escrita do texto. Deixei o parêntesis sempre em aberto. Como quis, deliberadamente, deixar um parêntesis entre os personagens que fossem aparecendo, ocasionalmente ou como os agentes de uma primeira voz, não dei nome a eles e pedi para que a gramática me ajudasse: assim, antes de ter Patrícia, Eliane, Douglas, Pagu, Roberto ou Rogério, eu utilizei EU, TU, ELE, NÓS, VÓS, ELES. Sim, não personagens, mas pronomes. Os que são singulares e os que são plurais.
Vou mostrar alguns trechos do novo texto nos "posts" que farei a seguir. Se puderem aguentar e ler e, quem sabe, comentarem, eu e as vozes pronominais agradeceremos muito.
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