sexta-feira, 7 de maio de 2010

Kafka de Edson Bueno no Teatro José Maria Santos

No Teatro José Maria Santos, Kafka de Edson Bueno

A peça Kafka, escrever é um sono mais profundo que morte a mais premiada da Edição de 2009 do Troféu Gralha Azul, volta aos palcos do Teatro José Maria Santos a partir de quinta-feira, dia 6 de maio de 2010.

“Antes de ser adjetivo, Franz Kafka (1883-1924) era um judeu de Praga, nascido na inescapável tradição de fantasiosos contadores de histórias, habitantes do gueto e refugiados eternos. Praga, na época do nascimento de Kafka, em 1883, ainda fazia parte do império dos Habsburgos na Boêmia, onde coexistiam, para o bem ou para o mal, várias nacionalidades, linguagens e orientações políticas e sociais. Para Kafka, nascido checo e falando alemão, mas na verdade nem checo nem alemão, não era fácil formar uma identidade cultural clara. Não é preciso dizer que, para um judeu nesse meio, a vida era um delicado equilíbrio. Você se identificava primeiramente com a cultura alemã, mas vivia entre os checos. Falava alemão porque era parecido com o ídiche e era a língua oficial do império.

O nacionalismo checo crescia contra a predominância alemã, e os alemães geralmente tratavam os checos com desdém. E, é claro, Todos odiavam os judeus”. Este fragmento, extraído do livro “Kafka de Crumb”, faz um panorama simples e veloz do começo da vida daquele que é um dos maiores e mais originais escritores do século XX: Franz Kafka! Autor de verdadeiras obras-primas conhecidíssimas como “O Processo”, “A Metamorfose”, “O Castelo”, “Na Colônia Penal” e “Carta ao Pai”, Kafka teve uma vida confusa, dolorosa e intensa, intelectualmente falando. Seus escritos relataram de forma expressionista, mas de precisão cruelmente cirúrgica, a condição humana diante da autoridade superior inatingível, fosse ela representada pelo governo, pela burocracia, pelo patrão, pelo policial, pela figura paterna ou até mesmo pelos fantasmas habitantes da vida interior. Seus personagens, acompanhando seu próprio sentimento diante da vida, reduziam-se, transformavam-se, decaíam e pereciam diante da doença que, segundo ele, era a própria condição humana. Jean-Paul Sartre chamou-o de existencialista, Albert Camus definiu-o como um teórico do Absurdo. Era uma figura ímpar. Nunca se sentiu pertencente a uma classe ou a uma pátria ou mesmo, à sua própria língua. Nem mesmo se sentiu pertencente à sua família. Seu pai, comerciante severíssimo e imponente, sempre mandou na casa com uma autoridade nada sutil. Em seu livro “Carta ao Pai”, Kafka faz um testemunho pungente de sua relação com ele. Seu pai passou à história como mais um dos personagens do escritor, como uma espécie de personificação macabra de tudo o que, já na juventude, assombrava Franz Kafka : o poder, o castigo e a morte. A vida, segundo a literatura de Kafka, é uma eterna incompreensão e o mundo, uma insensatez. Como teria sido a infância de Franz Kafka? Como poderia ter sido? Ou melhor, como poderia ter sido uma infância de um Franz Kafka? É desta brincadeira macabra que nasce o espetáculo de Edson Bueno. “Transformamos o mais famoso escritor do século XX num personagem dele mesmo e jogamos com suas palavras, seu tempo, suas ideias e obsessões.

O objetivo? Um sentimento artístico muito puro, mas bem pouco inocente. Um desejo de manipulação subjetiva, quando queremos transformá-lo num personagem dele mesmo e, percorrendo verdades históricas como racismo, preconceito, fascismo, acrescidos de lendas e abismos psicológicos familiares, sugerimos (irresponsavelmente!) que sua imaginação peculiar estava pronta para fazer dele o escritor que foi.

Serviço
KAFKA – Escrever É Um Sono Mais Profundo Do Que A Morte
De 06 a 30 de Maio de 2010
Teatro José Maria Santos. (R. Treze de Maio, 655)
De quinta a sábado 20h00 e domingo 19h00 - Ingressos à R$20,00 e R$10,00 (meia entrada)
Essa temporada faz parte da premiação dos melhores do ano do Troféu Gralha Azul.

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