segunda-feira, 21 de março de 2011

Um pouco sobre Gracia Morales e a peça "Quinze Degraus"

Gracia Morales, a autora de "Quinze Degraus" 

A atriz, autora e professora espanhola Gracia Morales foi duplamente premiada, em 2000, com o Prêmio Marqués de Bradomin e com o Primer Accésit IV - Premio Romero Esteo, na Espanha, pelo seu texto "Quinze Degraus" (Quince Peldaños). No ano seguinte, no Teatro Alhambra, em Granada, onde nasceu e é professora, Gracia Morales viu seu texto ser encenado pelo Centro Andaluz de Teatro (dia 3 de outubro de 2001). 
O prêmio Marqués de Bradomin é um dos principais prêmios dados na Espanha a autores de teatro e, em 1985, premiou o autor e diretor catalão Sergi Belbel, com a peça "Caleidoscópio". Belbel é autor do polêmico texto "Carícias", que virou filme na Espanha e aqui, em Curitiba, em 2009, foi matéria de estudo na oficina de dramaturgia do SESI Paraná, por Roberto Alvim e está sendo ensaiado para ser encenado por um grupo teatral vinculado a uma universidade paranaense ainda este ano.

Quinze Degraus

Em fevereiro divulguei neste blog um curso a distância de dramaturgia que Gracia Morales está orientando a partir de Granada, na Espanha, junto ao CELCIT de Buenos Ayres. Foi através de um primeiro contato com ela que fui conhecer todos os seus trabalhos, sugeri divulgá-los aqui em Curitiba e, se fosse possível, queria traduzi-los. Gracia Morales prontamente enviou-me três dos seus premiados textos e há 10 dias concluí a tradução de "Quinze Degraus".

São estes os personagens de "Quinze Degraus":

ANDRÉS – número 38 A
Quarenta e três anos, casado, administrador de imóveis
Pontuação obtida: 8,75
Destino: Tárheos
Viaja com sua mulher

JÚLIA – número 38 B
Vinte e oito anos, casada, sem profissão
Pontuação obtida: 5,5
Destino: Tárheos
Viaja com seu marido

ELIAS – número 15
Dezenove anos, solteiro, estudante
Pontuação obtida: 7
Destino: Kadmán
Viaja desacompanhado


O cenário

Encontramo-nos em um espaço indeterminado, sem sinais precisos de identidade: nem pretende resultar amável, nem tampouco ameaçador. Há algumas cadeiras metálicas dispostas ao acaso. O mais indubitável é o relógio que desce do teto, assinalando eficazmente cada um dos segundos transcorridos.
Neste lugar se encontram ANDRÉS e JÚLIA. ANDRÉS (quarenta e tantos anos, elegante sem pretender, bem apessoado, roupa confortável com um ligeiro toque de distinção) está sentado em uma das cadeiras, de frente a uma pequena mesa sobre a qual há um tabuleiro de xadrez. JÙLIA (vinte e nove ou trinta anos, com uma leve maquiagem, óculos de sol, sandálias, talvez um vestido leve, com certa sofisticação), está sentada na parte mais alta de uma escada de quinze degraus com a naturalidade própria de quem está há muito tempo ali e sente que esse objeto é uma prolongação de seu próprio corpo. Sustenta um binóculo, o qual pende em seu colo por uma correia; sobre suas pernas vemos um bloco de notas e uma caneta esferográfica. Permanecem quietos, até que o relógio assinale dez horas, em ponto. Então tudo começa. 

(Abaixo alguns diálogos de "Quinze Degraus")

(...)



JÚLIA - (voz em off) – Algumas noites chegam até doze ou treze embarcações. Trazem pessoas descalças, escuras como formigas, arrastando mantas e pequenas trouxas de roupa suja. Os dias de temporal a polícia tem que fazer sua ronda muito cedo, para levar os corpos que o mar trouxe até a beira da praia, antes que os meninos comecem a brincar na areia.

(Júlia abaixa o binóculo)

JÚLIA – Gostaria que fosse escorregadiça.

ANDRÉS – O quê?

JÚLIA – A cidade...

ANDRÉS – Ah... Porém nunca se sabe...

JÚLIA – Talvez tenha muitas torres. (Fecha os olhos) Há pouca luz aqui, não é?

ANDRÉS – Por causa do binóculo.

JÚLIA – Como?

ANDRÉS – Parece que não ficam bem ...

JÚLIA – Não, não... São perfeitos... Daqui tudo é pequeno e distante.

ANDRÉS – Pequeno e distante?

JÚLIA – Sim...

ANDRÉS(Com indiferença) – Inclusive eu...

JÚLIA(olha para ele pela primeira vez. Ele, no entanto, não olha para ela) – Não, Você é diferente.

ANDRÉS – Trouxemos os livros de arqueologia, não é? Em Tárheos talvez valha a pena consultá-los.

JÚLIA – Sempre tem sido diferente... (com certa ansiedade) E eu? Como me vê aí de baixo?

ANDRÉS – Permanece igual.

JÚLIA – Igual desde quando?

ANDRÉS – Como antes.

JÚLIA – Não... Estou mais velha. Você olhou bem para minhas mãos? (olha para elas). Estão ficando enrugadas. E estão repletas de teias de aranha. (pausa) Temos água?

(...)

Quem se interessar pelo texto de "Quinze Degraus" pode solicitá-lo que enviarei no formato PDF através do meu e-mail: rogeriobviana@yahoo.com.br


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