domingo, 15 de maio de 2011

De temas, textos de teatro e de depositários fiéis de sonhos

Em 2009, quando integrava da Oficina de Dramaturgia do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná, tive a oportunidade de participar do workshop de leitura "Amostra Grátis" com o autor e diretor de teatro Márcio Abreu. Neste evento, que aconteceu no Palacete Wolf, da Fundação Cultural de Curitiba, Márcio Abreu trabalhava com a leitura de alguns textos narrativos e pedia aos participantes que criassem textos que, depois, eram lidos e comentados. Não havia textos de teatro.

Num dos últimos encontros no workshop mostrei ao Márcio que eu tinha uma lista, uma enorme lista de temas para desenvolver futuras peças de teatro.  Eram ideias gerais na forma de títulos, pois no meu modo de escrever, os títulos sempre nascem primeiro, como se fossem "story lines" para serem desenvolvidos depois. Já tinha, naquele dia, escrito minha primeira peça "Das razões do nosso medo" (de 2003), e o musical "Arco, Tarco ou Verva? Paixão e Alegria de Um Barbeiro Caipira" (2005-2007) que hoje está em fase de captação pela Lei Rouanet pelo escritório do produtor Ricardo Trento.  Também, tinha acabado de escrever o segundo texto que cheguei a mostrar ao Roberto Alvim - o primeiro foi "Manhas, Mutretas e o Escambau" e o segundo foi "Daysi", dentro da Oficina de Dramaturgia.

Naquela minha lista de temas, de ideias, tinham duas que citavam o Paulo Leminski. O Márcio Abreu disse que eles estavam trabalhando num projeto inspirado no Leminski também e que tinha o título de "Vida". O projeto do Márcio Abreu foi concluído, estreou e fez muito sucesso. Foi premiado. É um trabalho primoroso e sobre o qual já fiz comentários não apenas no meu blog, mas, principalmente, no site "Teatro Jornal", do Valmir Santos.

Bem... a lista foi crescendo, à medida em que eu trabalhava num dos temas e incluia, sempre, outros. Creio que seja uma lista interminável. Mas eu, na época, já tinha, como afirmei acima, quatro peças de teatro escritas. E, religiosamente, desde, então, tenho feito muitas pesquisas, lido muito e, sobretudo, tenho estabelecido uma pequena ponte com autoras de língua espanhola, das quais já consegui traduzir 10 textos: para relembrar foram dois textos (os primeiros) de Susana Lastreto (que é argentina mas mora em Paris), dois de Gracia Morales (que é de Granada, Espanha), um texto (cuja montagem está em cartaz em Buenos Aires), escrita em quatro mãos pela uruguaia Adriana Genta e pela argentina Patricia Zangaro. Esta última, ao receber minha tradução de "A cumplicidade da inocência", enviou-me vários textos (foram 8, no total) para que eu pudesse, na medida do possível, traduzí-los. E, intercalando minhas leituras e pesquisas, meus textos, em pouco tempo completei a tradução de cinco textos de Zangaro.

Mas minha lista de desafios continuava lá, com vários textos - uns cinco, pelo menos, iniciados - e outros que, mesmo ainda não registrados na lista de intenções, rondavam minha imaginação. E, não sei por que razão, quando terminei a tradução de "Tango", de Patricia Zangaro, voltou a me perseguir a ideia de escrever um novo musical. E, finalmente, ele nasceu. Surgiu firme e forte. Um novo desafio que vou buscar transformar em um projeto e, com certeza, numa montagem mesmo. Bem, antes, de pegar pra valer o novo texto de um musical, trabalhei em cima da ideia inspirada em Leminski. E num dos eventos na CBT entreguei ao Márcio Abreu uma cópia do meu texto. Também deixei outra cópia com o Gerson Delliano, durante o mesmo evento na CBT. São as duas únicas pessoas do mundo teatral a terem contato com meu texto, cujo título, de público, prefiro ainda não revelar. Mas se refere a um certo dia de 1989 quando morreu uma famosa cantora brasileira de nome Nara Leão.

Bem... e o musical? O novo musical? Então, nesta manhã fria de outono, quando Curitiba amanheceu com cara de Curitiba, fria e molhada - coisa compatível apenas com uma cidade, nunca com uma mulher, não é? - escrevi a parte final do musical. E, amanhã, já tenho agendado com um músico, compositor e arranjador, uma reunião para apresentar-lhe não apenas o texto que escrevi, mas a ideia toda do projeto deste novo musical. Será, de novo, um grande desafio encontrar os parceiros certos para a nova aventura de montar um projeto, de enviá-lo para a Lei Rouanet, quem sabe para outros editais, e de descobrir pessoas que tenha um sonho de mostrarem seus talentos num musical singelo, delicado, puro e sensível, como é a personagem principal da fábula a ser musicada.

Amanhã, logo após o almoço, estarei dando entrada na Biblioteca Pública do Paraná com o pedido de registro junto a Biblioteca Nacional do novo texto de teatro musicado que escrevo. E, assim que sair de lá, divulgarei alguns detalhes deste novo trabalho. Ah, o que escrevi inspirado em Leminski, ainda não vou divulgar nada oficialmente. O que já fiz está nas mãos e sob os cuidados do Márcio Abreu e o Gerson Delliano, os que, de graça e sem esperar, viraram fiéis depositários de um novo e caro sonho meu.

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