quinta-feira, 21 de julho de 2011

Leitura do texto "O dia em que morreu Leminski"

Três personagens: a alma feminina, um outro, ele e seus dilemas.
Naiara Bastos, Val Salles e Felipe Custódio, os atores.
Com direção de Léo Moita e a participação dos atores Felipe Custódio, Val Salles e Naiara Bastos (que faz aniversário hoje), será realizada leitura dramática do texto "O dia em que morreu Leminski", de minha autoria, no dia 24 de agosto de 2011, a partir das 18h30, no Auditório Paul Garfunkel, na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba.


A data marca a passagem dos 67 anos de nascimento do polêmico poeta paranaense Paulo Leminski. No mesmo dia será aberta na BPP uma exposição de fotos e com textos de Leminski, produção do MIS - Museu da Imagem e do Som de Curitiba.


Sinopse

Um escritor, numa tarde, acorda assustado em seu apartamento no meio de livros que estão sendo encaixotados para uma mudança. Ele quer transportar seus livros e levá-los para um lugar “seguro e seco”. Ao acordar, recebe a visita de um de seus personagens, ou um dos seus heterônimos, que veio ajudá-lo a embalar os livros para essa mudança. Depois que o personagem sai, entra uma personagem, outro heterônimo de alma feminina, que o provoca com lembranças de épocas em que o escritor se embebedava e assistia a freqüentes assembléias de livros em suas estantes. Os três personagens, um personagem e dois heterônimos, relembram fatos da vida do escritor que sabe que esta será sua última mudança e que, em breve, ele deixará de ser poeta para virar poesia, que deixará de ser autor para ser personagem, que vai deixar de ser escritor para transformar-se num livro.

Personagens

Demétrio Trindade - o escritor que está de mudança. Será interpretado pelo ator Felipe Custódio.

Marcelo Antero - heterônimo do escritor, outro personagem, um amigo. Val Salles fará o personagem.

Lílian Pedrozo - uma alma feminina, outro heterônimo, uma amiga e presença constante na vida do escritor. Naiara Bastos fará a personagem.


Uma fala do personagem Demétrio Trindade


(...)
Um livro de poucas páginas quando fica ao lado ou sobre um livro de muitas páginas parece que fica enciumado e começa a inchar, a inchar... Fica inflado de vontades. Quer ser um livro da pesada. Percebe? Quer ser um livro da pesada! E, quando pego ele com outros, seu peso é insuportável. Esse livrinho é insuportavelmente pesado. Parece que ganhou peso na companhia de outros com melhor conteúdo. Livros mais graves. Esses livros, que arrasto feito corrente de fantasmas ingleses, ainda vão me matar. Sei. Ainda vão me matar. Não que sejam venenos. Ou que sejam explosivos. Ou uma mortífera arma. Ou que estejam como uma imensa torre ou uma ponte prestes a desabarem. Prontos a soterrar alguém, não. Esses livros ainda vão me matar, pois são misteriosos demais para meu entendimento. Estão ainda fora do meu alcance. São desafiadores demais. Impenetráveis demais. Demais misteriosos. Ali, na prateleira – agora esparramados pelo chão – ficam me espreitando e esperando que eu os descubra, que os leia, ou releia... Que retome a leitura parada em esquecidas páginas... Esses livros ainda vão me matar, tenho certeza. Vão me matar de sede. Vão me matar de fome. Talvez me matem de tristeza. Não tenho certeza, nem tento entender se será eles mesmo eles a causa de minha morte. Esses livros vão me matar. Que isso fique bem claro. Pois com eles estabeleci um tipo de dependência, sabe... Eles são indispensáveis para mim e eu sou um possível leitor para eles. Mesmo não sendo leitor, sou um fiel depositário de tantos escritos.
(...)

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