Cena final da peça "O Fingidor" de Samir Yazbek
O autor e diretor de teatro Samir Yazbek participa, de hoje a sexta-feira, em Curitiba, de palestra e workshop sobre dramaturgia, em eventos promovidos pelo Núcleo de Dramaturgia patrocinado pelo SESI Paraná.
Hoje, a partir das 20 horas, no Teatro José Maria Santos, Yazbek vai proferir a palestra “A Importância da Dramaturgia Hoje”, e deve focalizar a importância da dramaturgia num mundo em que os meios de comunicação de massa se expandem a cada dia. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas diretamente no site do Núcleo de Dramaturgia.
“Dramaturgia em Movimento” é o tema do workshop exclusivo aos integrantes da Oficina Permanente do Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná que Yazbek vai coordenar a partir de amanhã e onde vai apresentar o estudo de conceitos e as mais variadas correntes estéticas e ideológicas que culminam nas possibilidades de uma dramaturgia contemporânea. O workshop será apresentado no Teatro José Maria Santos, das 19 às 23 horas, de amanhã a sexta-feira.
Conheça alguns diálogos em peças do Samir Yazbek
O FINGIDOR (Prêmio Shell de 1999)
Cena 2
(...)
Henriqueta (irmã de Fernando Pessoa) lê o jornal (onde saiu um anúncio de emprego) e fica indignada. Pessoa tenta disfarçar o incômodo. (Ele se candidatou para a vaga de datilógrafo de um crítico literário)
Henriqueta – Datilógrafo de um crítico literário?! Você precisa disso, Fernando?
Pessoa – Do dinheiro, preciso.
Henriqueta – Juro que não estou te entendendo.(um silêncio) Fernando, você é um poeta. Seus poemas foram publicados em inúmeras revistas. Será que você não arrumaria emprego em nenhuma delas?
Pessoa – Ainda não procurei.
Henriqueta – Orgulho?
Pessoa – Se você pensa assim.
Henriqueta – Você traduziu Shakespeare. Será que não existe mais nenhuma peça dele para você traduzir?
Pessoa – Ainda não pensei nisso.
Henriqueta – E o prêmio que você ganhou com o seu livro? É pouca coisa, por acaso?
Pessoa – Um reles segundo lugar.
Henriqueta – Aliás, o dinheiro do prêmio não é o suficiente para você passar o ano?
Pessoa – Já acabou.
Henriqueta – (saindo) Muito bem.
Pessoa – Espere. Se quer me ajudar, fique.
(...)
A TERRA PROMETIDA (Em 2002 foi selecionado com um dos dez melhores espetáculos teatrais pelo Jornal O GLOBO)
(Moisés conversa com seu sobrinho Itamar, filho de Aarão, seu irmão)
Ato único
(…)
Itamar – Meu pai sabia que não foi aquele bezerro que nos tirou do Egito.
Moisés – Então por que permitiu que desafiassem assim a palavra de Deus?
Itamar – Não desafiaram a palavra de Deus, mas a do senhor. Perante o povo, o bezerro substituía o senhor, não Deus!
Moisés – Blasfêmia!
Itamar – E quando o senhor sumiu por tanto tempo, nós pensamos que não voltaria mais.
Moisés – Aarão sabia da verdade. Desde quando Deus nos chamou para comunicar a missão de libertar o povo de Israel do cativeiro egípcio. Aquele encontro foi importante demais para ser esquecido.
Itamar – Quer dizer que meu pai foi o culpado de sua própria morte?
Moisés – Não acredita?
Itamar – Não creio que Deus se importe com esse tipo de coisa.
Moisés – Desde quando você o conhece?
Itamar – Castigo? É isso que seu Deus sabe fazer?
Moisés – Nosso Deus!
Itamar – Quem sabe?
Moisés – O que quer dizer?
Itamar – A partir de hoje talvez ele não seja mais meu.
(…)
Os trechos dos diálogos foram retirados aleatoriamente do livro Aplauso Teatro Brasil (com as peças O FINGIDOR, A TERRA PROMETIDA e A ENTREVISTA) publicado pela Imprensa Oficial de São Paulo em 2006.
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