Há dias fui procurado por Lorita Rivera, atriz que trabalha na Secretaria de Cultura do Paraná e que desenvolve um trabalho no qual aparece como um dos focos de sua atenção o professor, diretor e autor espanhol José Sanchis Sinisterra. Lorita soube que eu havia traduzido alguns textos teóricos de Sinisterra e pediu que eu lhe enviasse.
Numa visita que fiz à Secretaria de Cultura, quando fui conversar com meu conterrâneo Rodrigo Fornos, que por sinal também torce para nosso querido Santos Futebol Clube (ele e eu nascemos em Santos), acabei conhecendo pessoalmente a Lorita Rivera. E ela comentou que tinha um livro, uma edição espanhola de uma das emblemáticas peças teatrais de Sinisterra, EL LECTOR POR HORAS. Demonstrei interesse em ler a peça, no livro.
Na semana passada, Lorita informou-me que ia entregar-me o livro para eu ler. Foi o que fiz. Passei e peguei o livro com Lorita. E o li de uma só vez.
Hoje, agorinha mesmo, enviei um e-mail anunciando para Lorita que tinha iniciado a tradução daquela peça de Sinisterra, que não conheço que tenha alguma tradução feita para o português.
O teor do e-mail diz assim:
Fiquei muito interessado não só na leitura de EL LECTOR POR HORAS, como também para entender melhor o texto do qual já havia lido algumas referências. Andei pesquisando um pouco mais e cheguei a dois trabalhos onde EL LECTOR POR HORAS é estudado mais a fundo. Num deles de Saúl Garnelo Merayo e que tem o título de "A estética da recepção segundo Sanchis Sinisterra: El lector por horas", o autor elabora uma série de comentários e analisa profundamente as escolhas dos pequenos trechos de conhecidos romances que Sinisterra utiliza para contar a fábula de Celso (o pai), de Ismael (o leitor) e de Lorena (a filha, cega). Há muita intertextualidade no que escreve Sinisterra. Como dizia Umberto Eco, "os livros falam entre si". E nesta conversa de livros e de leitores, chega-se à figura do que é definido como "leitor implícito, ideal ou modelo", aquele que tem o poder - por ler muito, se informar muito - de descobrir certas citações que faz um autor sobre outro quando escreve alguma coisa.
E na tentativa de aprender um pouco mais sobre dramaturgia e os caminhos que são percorridos para se chegar a textos mais trabalhados, mais complexos, até, é que não resisti e iniciei a tradução da peça.
Ela é maravilhosa. Sinisterra é mesmo um "maestro". Tece os diálogos com uma precisão e o faz sempre deixando "buracos" para que nós, leitores como Ismael, descubramos alguns fios soltos cujas pontas, com certeza, nos levarão a certos entendimentos que formularemos no final, ou logo depois, de termos nos deparado com o texto total de O LEITOR POR HORAS. É o que estou fazendo. Li de uma só vez. E agora, na tradução, estou tentando não só traduzir de um modo mais preciso, como também, tento, como leitor, não como tradutor, juntar as certas (ou seriam incertas) pontas de um fio (ou de vários fios) que Sinisterra deixa soltas para nos mostrar não só sua maestria dramatúrgica, como também, sua atenta forma de brincar com pretensos "leitores modelos, ideais, implícitos" como eu, como você, também.
De brincar, provocando as pessoas que se interessam por um texto que traz a marca do gênio e da criatividade daquele espanhol de Valência que mora em Barcelona, onde desenvolve seu importante trabalho no teatro espanhol.
Quando o texto estiver todo traduzido vou enviar a quem por ele se interessar.
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