Patricia Zangaro, autora de "Náusea" e "Variações em Blue" |
Náusea
Dois homens se isolam para consumar um ato que presumem final. Violentar um corpo para reduzi-lo a matéria estética, violentar a realidade para apreendê-la. Preencher o vazio. Por fim à náusea. Fim?
E as falas iniciais são:
Náusea
Um quarto. Dois homens jovens. Um é cego.
A – É dia?
B – Não, é noite.
A – Que horas da noite?
B – Não sei.
A – Desde quando estou dormindo?
B se inclina para vomitar.
A – Não tem barulho. Deve ser de madrugada.
B – Quem sabe se eu pudesse dormir.
A – Vomitou o quê?
B – Cerveja.
A – Quero.
B – Não tem mais.
A se cala por um momento.
A – Estou mais fraco?
B – Está barbudo.
A – Estou mais fraco que você?
B volta a inclinar-se para vomitar.
A – Está contente agora, não? Sempre quis ser o mais forte.
A escuta ansiosamente os sons de B.
(...)
Variações em Blue
Um ato violento e suas versões. É possível reconhecer uma verdade como o tema principal nas variações musicais? Ou somente ficam fragmentos, resíduos, restos que não articulam um sentido?
Começa assim:
Variações em blue
Uma luz azulada sobre um homem.
Homem I – A lua estava alta e o céu muito azul. Fumávamos na última esquina, antes do beco sem calçada. Não sei se havia sido o fumo, ou a lua alta, porém fiquei de pau duro. Acontece sempre, em qualquer lugar. O magro disse que é por excesso de gordura. Para mim ele disse por inveja. Estava quase tocando uma punheta quando a piranha dobrou a esquina. Parece, agora, que todas cortam o cabelo com a mesma tesoura. Chegam balançando a bunda e os cabelos como uma leoa que voa. Dá vontade de baixar o cacete e violentá-las no meio da rua. Assim aprendem não ser provocantes. Quando se aproximou de mim percebi que não valia porra nenhuma. Umas pernas de quero-quero. As tetas pregadas na clavícula. Pensei em deixá-la passar e ficar com o cacete na mão. Mas a mais vadia revirou os olhos e, sem mais, afundei-lhe a espada.
(...)
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