sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O que Molière tem com a doença do Lula?

Esta batalha de opiniões sobre a doença de Lula me faz lembrar - e citar aqui - o que aconteceu na França na época de Molière. Sim, aquele comediógrafo. Para os petistas que vão ler este comentário, busquem no Google quem foi Molière e o que é comediógrafo, ok?

Recapitulando a história recente: Lula, homem do povo, se tornou "nobre" pelo voto do povo. Mas em seu discurso sempre enfatiza que ele seja povo, do povo e pelo povo, embora viva como um "burguês", sem muita fidalguia, claro! Ou não? Sendo homem do povo, Lula, o "operário-burguês" elevado à nobreza, agora não pode mais ser levado a um hospital popular. Seus gostos e gastos mudaram de patamar. Embora o hospital escolhido também atenda pelo SUS, lá ele não será tratado pelo SUS, mas, acredito, pelo plano de saúde vitalício que tenha adquirido por ter sido Presidente do Brasil. Ou está sendo atendido por algum plano de saúde particular e estrelado? Qual plano de saúde, então, está financiando o tratamento "cinco estrelas" de Lula? Não me refiro às estrelas - ou à estrela - petista. Mas às que apareciam na frente de hotéis suntuosos mundo afora e com alguns - bem poucos - neste Brasil de meu deus. 

Pois bem, voltando a Molière. O autor francês criticava, na época (século XVII), o surgimento de uma "burguesia" que queria ser considerada "nobre". E como? Pelo dinheiro. Não pelo refinamento. Nem pelo conhecimento adquirido ao longo da história de suas famílias. Só pelo dinheiro. E pela vontade que o personagem sempre teve de ser "nobre" - e se manter "nobre" - a todo custo. A crítica de Molière era sutil - para sua época - mas pegava pesado, principalmente em certos detalhes. E como ele podia, então, criticar, pegar pesado? Fazia com que "assuntos sérios" fossem tratados como comédia, como brincadeira, ou indo para nossa expressão popular atual - pela gozação, sim por pura gozação. 

Em "O Burguês Fidalgo" - uma de suas mais emblemáticas comédias - Molière faz uma gozação com o que acontecia na vida francesa e o surgimento de uma burguesia ridícula em tudo e que de tudo fazia para ser considerada e tratada como integrante daquela nobreza falida, mas refinada, e próxima do rei (e os reinados) que todos nós sabemos que fim levou. Então, por pura gozação, Molière coloca a personagem Lucile conversando com seu pai - Jourdain (o burguês fidaldo).

Lucile - Como, meu pai? Como fazeis isso? É uma comédia que jogais?

Jourdain - Não, não! Não é uma comédia! É um assunto muito sério!

Meus caros, minhas caras... Lula escreve pelas mãos de comediógrafos atuais pagos pelo dinheiro público sua trágica comédia. Não se trata de uma simples comédia, ou de uma tragicomédia, longe disso, é um assunto muito sério o que se tornou a discussão da doença do ex-presidente popular, esse que sempre mandou ver contra "azelite". Se ele sempre foi contra "azelite" não pode, agora, sendo da "zelite" criticado pelo tratamento diferenciado e especial que está recebendo? Não pode? Ué... Mas eu, como "filho" do Lula (na verdade nunca fui, que fique bem claro), como brasileiro (já que ele é o pai dos pobres e eu sou pobre) não posso perguntar ao senhor Jourdain/Lula: 

"Como, meu pai? Como fazeis isso? É uma comédia que jogais?" 

Os críticos pagos que se manifestam contrários a quem sugere para o Lula/Jourdain se tratar num bom hospital credenciado pelo SUS, vão responder o quê? 

Vão ter a coragem de responder, "Não, não. Não é uma comédia. É um assunto muito sério!" 

Assim, deixem que nós, do povo, que fomos atendidos em hospitais do SUS (e eu fui) sugerirmos ao Lula que percorra os mesmos prazos, protocolos, filas, horários e aqueles corredores e portarias que mais parecem o "inferno" descrito por Dante, que o jogo crítico apresentado por Molière. 

A doença de Lula não é uma comédia. É um assunto muito sério. E por ser sério, e grave, e vital para todos nós brasileiros, pode e deve, sim, ser tratado de forma crítica, com humor, como comédia que já é. Ao estilo de Molière, se preciso for. Ou ao estilo do Reinaldo Azevedo (da revista VEJA), o que não brinca em serviço. Que fique bem claro!

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