Recapitulando a história
recente: Lula, homem do povo, se tornou "nobre" pelo voto do povo.
Mas em seu discurso sempre enfatiza que ele seja povo, do povo e pelo povo, embora
viva como um "burguês", sem muita fidalguia, claro! Ou não? Sendo
homem do povo, Lula, o "operário-burguês" elevado à nobreza, agora não
pode mais ser levado a um hospital popular. Seus gostos e gastos mudaram de
patamar. Embora o hospital escolhido também atenda pelo SUS, lá ele não será
tratado pelo SUS, mas, acredito, pelo plano de saúde vitalício que tenha
adquirido por ter sido Presidente do Brasil. Ou está sendo atendido por algum
plano de saúde particular e estrelado? Qual plano de saúde, então, está
financiando o tratamento "cinco estrelas" de Lula? Não me refiro às
estrelas - ou à estrela - petista. Mas às que apareciam na frente de hotéis
suntuosos mundo afora e com alguns - bem poucos - neste Brasil de meu deus.
Pois bem, voltando a Molière. O autor francês criticava, na época (século
XVII), o surgimento de uma "burguesia" que queria ser considerada
"nobre". E como? Pelo dinheiro. Não pelo refinamento. Nem pelo
conhecimento adquirido ao longo da história de suas famílias. Só pelo dinheiro.
E pela vontade que o personagem sempre teve de ser "nobre" - e se
manter "nobre" - a todo custo. A crítica de Molière era sutil - para
sua época - mas pegava pesado, principalmente em certos detalhes. E como ele
podia, então, criticar, pegar pesado? Fazia com que "assuntos sérios"
fossem tratados como comédia, como brincadeira, ou indo para nossa expressão
popular atual - pela gozação, sim por pura gozação.
Em "O Burguês
Fidalgo" - uma de suas mais emblemáticas comédias - Molière faz uma
gozação com o que acontecia na vida francesa e o surgimento de uma burguesia
ridícula em tudo e que de tudo fazia para ser considerada e tratada como
integrante daquela nobreza falida, mas refinada, e próxima do rei (e os
reinados) que todos nós sabemos que fim levou. Então, por pura gozação, Molière
coloca a personagem Lucile conversando com seu pai - Jourdain (o burguês
fidaldo).
Lucile - Como, meu pai? Como fazeis isso? É uma comédia que jogais?
Jourdain - Não, não! Não é uma comédia! É um assunto muito sério!
Lucile - Como, meu pai? Como fazeis isso? É uma comédia que jogais?
Jourdain - Não, não! Não é uma comédia! É um assunto muito sério!
Meus caros, minhas caras... Lula escreve pelas mãos de
comediógrafos atuais pagos pelo dinheiro público sua trágica comédia. Não se
trata de uma simples comédia, ou de uma tragicomédia, longe disso, é um assunto
muito sério o que se tornou a discussão da doença do ex-presidente popular,
esse que sempre mandou ver contra "azelite". Se ele sempre foi contra
"azelite" não pode, agora, sendo da "zelite" criticado pelo
tratamento diferenciado e especial que está recebendo? Não pode? Ué... Mas eu,
como "filho" do Lula (na verdade nunca fui, que fique bem claro),
como brasileiro (já que ele é o pai dos pobres e eu sou pobre) não posso
perguntar ao senhor Jourdain/Lula:
"Como, meu pai? Como fazeis isso? É uma
comédia que jogais?"
Os críticos pagos que se manifestam contrários a quem
sugere para o Lula/Jourdain se tratar num bom hospital credenciado pelo SUS,
vão responder o quê?
Vão ter a coragem de responder, "Não, não. Não é uma
comédia. É um assunto muito sério!"
Assim, deixem que nós, do povo, que
fomos atendidos em hospitais do SUS (e eu fui) sugerirmos ao Lula que percorra
os mesmos prazos, protocolos, filas, horários e aqueles corredores e portarias
que mais parecem o "inferno" descrito por Dante, que o jogo crítico
apresentado por Molière.
A doença de Lula não é uma comédia. É um assunto muito
sério. E por ser sério, e grave, e vital para todos nós brasileiros, pode e
deve, sim, ser tratado de forma crítica, com humor, como comédia que já é. Ao
estilo de Molière, se preciso for. Ou ao estilo do Reinaldo Azevedo (da revista VEJA), o que não
brinca em serviço. Que fique bem claro!
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