segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu não sou Berenice. Fui apenas o seu primo.

Logo que eu nasci morria minha prima Berenice. Não é ficção é mesmo verdade. A morte daquela minha prima que eu não conheci - nem foto dela eu vi - sempre, para mim, foi envolta num mistério. Filha mais velha de uma das irmãs mais velhas de minha mãe - essa tia ainda é viva, tem mais de 90 anos e mora em Santos - Berenice sempre foi um nome que, vez ou outra, aparecia. Não sei por que razão, sempre, sem eu perceber, o nome dela surgia. Conheci algumas Berenices. Uma delas, nos anos 70, em Piracicaba, era uma coreógrafa e atriz. Uma mulher com uma beleza misteriosa. Um tipo pálido, frágil. Mas ela era uma coreógrafa com umas ideias bem interessantes. Pude acompanhar alguns dos seus trabalhos. Mas há anos não tenho notícias dela. Outras Berenices passaram por minha vida, mas nenhuma deixou lembranças mais fortes.

Em 2010, tive contato pela primeira vez com o conto BERENICE, de Edgar Allan Poe. Aqui, abaixo, dois links onde o conto pode ser lido. Poe, fez sua Berenice - ela e seu primo - personagens muito especiais por terem vivido algo muito assustador.

Berenice, para quem for um leitor atento, andou "assustando" muito seriamente a uma certa pessoa do meio teatral de Curitiba. E essa mesma pessoa não gosta - pelo que percebi - nem de ouvir o nome Berenice. A mim, também, essa prima que morreu criança e a quem não conheci, sempre me provocou sentimentos estranhos. Difíceis de explicar. Se é possível explicar sentimentos estranhos.

Bem... Em um episódio que encerrei esta semana, até por força de ter-me referido a alguém com mais veemência, falando de um tipo de omissão que esse alguém praticou, eu escrevi que não era a Berenice e que não podia "assustar" ou "aterrorizar" alguém. Eu não sou Berenice, sou apenas o seu primo. Não aquele do conto, mas o primo da Berenice real que, sentindo-se ferido por uma omissão imperdoável - num jogo de cena digno de um folhetim barato e mal escrito - como tal tinha que dar um ponto final numa pendência.

E, agora, com a publicação de parte desse conto, considero terminada o que estava pendente. Coloco o acontecido numa conta de "perdas", vai para o prego do "prejuízo". E, aqui, termina essa história. E cujo conto tem como início o seguinte:


BERENICE - Edgar Allan Poe

Desgraça é variada. O infortúnio da terra é multiforme. Estendendo-se pelo vasto horizonte, como o arco-íris, suas cores são como as deste, variadas, distintas e, contudo, intimamente misturadas. Estendendo-se pelo vasto horizonte, como o arco-íris! Como é que, da beleza, derivei eu um exemplo de feiúra? Da aliança da paz, um símile de tristeza? Mas é que, assim como na ética o mal é uma conseqüência do bem, igualmente, na realidade, da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que existem agora têm sua origem nos êxtases que podiam ter existido


(...)


O texto completo pode ser lido em duas versões.




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