segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Casais - de Susana Lastreto

Susana Lastreto

Trecho da peça CASAIS (Parejas, em espanhol), da autora, atriz, diretora e professora de teatro Susana Lastreto, argentina que reside em Paris. A tradução para o português é de Rogério Viana. A peça foi originalmente escrita em francês e, depois, traduzida para o espanhol pela própria Susana Lastreto. O texto estreiou em Paris em janeiro de 1995.

(a peça é divida em noites)

(...)

QUARTA NOITE

Acende uma luz. O homem e a mulher estão em
seu quarto. A adolescente em seu, porém ouve
a conversa. Não se deve ver completamente ao
casal. Somente uma área do quarto. Mostrar
uma visão fragmentada da cena.

Mulher – Vamos fazer um jogo? Eu sou
Justine e você... faça-me o que quiser... Eu
jogo a que não se mova nenhum pelo...
porém deixo que faça qualquer coisa...

Homem – Bem... porém hoje eu gostaria
de jogar alguma coisa, mas...

Mulher - … proibido? Vai ver... sou a irmã
Feliciana e você é o padre da paróquia.
Padre, venho confessar... Ele me
interrompe enojadíssimo: Irmã, você
cometeu um pecado venial! Saia e reze
três Ave Maria... Ai, não, equivoquei-me.
Você cometeu um pecado mortal! Tire sua
roupa! Ahhh. Porém não tem nada por
baixo da roupa... Que vergonha! Vou lhe
dar umas boas palmadas nesse seu
traseiro!

Homem – Bom, chega! Se você faz todos
os papéis, eu o que faço?

Mulher – Tens razão, vamos trocar... Eu
sou Maria, a empregada. Você acaba de
acordar. Grita: Maria! Já preparou meu
desjejum? Venha, traga-me aqui na cama,
por favor. Ai, porém... tem uma média mal
feita... Que descuidada... Vou dar-lhe...

Homem - … uma linda palmada, já. Vai
gostar que lhe dê uma... (ouve-se uma
palmada, a mulher ri). Continue fazendo
todos os papéis.

Mulher – Sim estes não te inspiram, se me
ocorrer outros...Olhe: sou um anjo nu... Eu
abro e fecho minhas asas... assim, assim...
basta fazer-me gozar... E agora sou um
homem, muito jovem, quase um
adolescente... e o recebo nesse buraco
soberbo, suave, redondo, acolhedor que
tenho no meu cu... Sou uma puta e você é
meu assassino: mata-me a punhaladas! E
eu te estrangulo até que goze e sobre teu
sêmen cresça a mandrágora... Sou uma
cadela quente, uma porca banhada em
lodo... Sou uma loba, uma leoa, um dragão
surgido desde do fundo dos tempos... Sou
um vampiro sedento!

(o homem deixa escapar um gemido)

Sou uma virgem, uma virgem imaculada...

Nunca ninguém me fez carícias. Tenho
medo, muito medo... Ai, senhor, cuidado...
está me machucando... Sou toda negra e
minha pele brilha e desliza entre suas
mãos... Sou um sexo desconhecido que se
revela na escuridão... Sou uma estranha
que bate à sua porta no meio da noite:
venha abrir. Boa noite, senhor, venho de
muito longe... Porém eu não o conheço,
nunca o vi antes... Bem, venha, entre, não,
minha mulher não está... Sou casado, sim,
faz muitos anos... Tire sua roupa, faz muito
calor aqui... E então eu digo: eu sou a
morte e venho para buscá-lo. Estás
perdido. Por que abriu a porta? É perigoso
abrir a porta para desconhecidos. Veja:
sou sua mulher, sua mulher morta. A
mulher que você assassinou.

(...)

A íntegra da peça pode ser vista neste link:


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