segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O bandido que há em mim

Uma máscara

O bandido que há em mim

descobri ser meu próprio bandido
atiro sem rumo e sem olhar direito
e atinjo uma estrela lá no céu

falseio uma assinatura e tento
descontar um cheque em branco
num banco qualquer de uma praça

vendo falsos medicamentos
uma água santa, um ungüento,
uma injeção para meu desânimo

suborno e pago propinas
um ser corrupto igual a mim
enriquece um texto banal

faço chantagens, seqüestro
tiro do rico o muito que ele tem
e distribuo aos pobres de espírito

assalto joalherias, bancos, galerias
subtraio obras de arte, sonetos
e minha poesia continua pobre

atropelo um velho na calçada
alcanço com o carro, avanço
e atiro ao chão o poder da rima

vendo sonhos estragados
batatinhas que não nasceram
e mastigo o vômito das estrelas

assim, aos poucos, me revelo
sou mesmo um bandido
e o bandido que há em mim
desdenha de tudo,
desenha sim
um risco todo torto e diz
para mim: segue, segue em frente
este caminho sem fim
lá na frente, na tal encruzilhada
você saberá bem pouco
um pouco nada mais de mim


Rogério Viana

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