Uma máscara
O bandido que há em mim
descobri ser meu próprio bandido
atiro sem rumo e sem olhar direito
e atinjo uma estrela lá no céu
falseio uma assinatura e tento
descontar um cheque em branco
num banco qualquer de uma praça
vendo falsos medicamentos
uma água santa, um ungüento,
uma injeção para meu desânimo
suborno e pago propinas
um ser corrupto igual a mim
enriquece um texto banal
faço chantagens, seqüestro
tiro do rico o muito que ele tem
e distribuo aos pobres de espírito
assalto joalherias, bancos, galerias
subtraio obras de arte, sonetos
e minha poesia continua pobre
atropelo um velho na calçada
alcanço com o carro, avanço
e atiro ao chão o poder da rima
vendo sonhos estragados
batatinhas que não nasceram
e mastigo o vômito das estrelas
assim, aos poucos, me revelo
sou mesmo um bandido
e o bandido que há em mim
desdenha de tudo,
desenha sim
um risco todo torto e diz
para mim: segue, segue em frente
este caminho sem fim
lá na frente, na tal encruzilhada
você saberá bem pouco
um pouco nada mais de mim
Rogério Viana
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