quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Uma Cena - Max Reinert

Exercício coletivo de fragmentação / coesão

Participante : Max Reinert

Texto escrito para o Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná como exercício que tinha a seguinte indicação: "Triálogo. Três personagens descrevem e julgam a um quarto personagem (ausente). Concordâncias e discrepâncias.

Uma Cena

A (entrando): ...um idiota, isso sim é o que ele é!
B (acordando): Hein?
A: Um imbecil pintado de verde...
C: Vai começar a cena... Aliás, já começou.
A (cada vez mais exacerbado): Um idiotinha querendo ser mais do que é... Isso é coisa que se diga? Sim, porque... Oras... As pessoas precisam ter limites... Não se pode ir despejando todo o lixo em cima de outra pessoa e achar que é assim mesmo...
B: Como?
C (para B): Não se meta, você é apenas um coadjuvante.
A (espumando): Ai que vontade de ... (faz sons estranhos)
C: Isso é que é contemporaneidade.
B: De quem você está falando?
A (exausto): Daquele idiota japonês... Aquele imbecil chinês... Aquele anormal chileno... Aquela anta colombiana...
C: É um negro!
A: Nem português ele fala.
B (sem entender): Ahhhh...
C: É mudo.
A: Ficou me perseguindo... Estava de marcação comigo... De um lado para o outro... Pra cima e pra baixo...
B: Hummmm...
C: É aleijado.
A: Uma ova!
B: De quem vocês estão falando, afinal de contas?
A: De um filho da puta!
C: De um sujeito que a partir de agora será denominado "ausente". (pausa)
Ausente de princípios. (pausa) Ausente de determinação. (pausa) Ausente de desejos e vontades e complicações e existência. (pausa) Um sujeito que não vê outra coisa que não seja o umbigo. (pausa) Na verdade, um sujeito que não vê.
(longa pausa) É cego!
B: Vocês estão falando de mim? Eu estava dormindo.
A (gritando): Um filho da puta!
C: Como a maioria de nós.
A (gritando): ...um filho da puta, isso sim é o que ele é!
B (tranquilo): Eu sonhei que havia alguém ausente. Eu sonhei...
C: Um momento lírico... Talvez...
B: ... Sonhei que ele me balançava calmamente em uma rede. E seu rosto era calmo e tranquilo... E ele me dizia palavras doces... E ele me dizia que eu não devia me preocupar com nada... E ele me dizia que eu não era um inútil... E ele era doce... (angustiando-se) Mas ele não tinha rosto... Ele não tinha rosto... Em alguns momentos era somente um borrão, noutros tinha uma cabeça de cavalo... Em outros ainda era como se ele não existisse...
C: É só um pretexto. (longa pausa) Talvez.
A: Não era um sonho... Eu o vi... Ele falou comigo. Tenho certeza. (confuso) Ele me xingou. Era rude. Arrogante. Gritava. Xingava. Eu o vi. Eu acho que o vi. Estava escuro, mas ele me tocou. Isso... Ele me tocou... E disse... (pausa) E disse...
C: É preciso terminar a cena!
A: Não...
B: Tenho sono...
A: Seu imbecil...
C: Como a maioria de nós.
A: Você é como ele... Um idiota... Prepotente...
B: Muito sono... Preciso de silêncio...
C: Já está acabando.
A (enquanto sai, vai aumentando o volume): Um idiotinha querendo ser mais do que é... Isso é coisa que se diga? Sim, porque... Oras... As pessoas precisam ter limites... Não se pode ir despejando todo o lixo em cima de outra pessoa e achar que é assim mesmo...
(longa pausa)
C: Acabou.
(B adormece)


Oficina Regular de Dramaturgia – Núcleo de Dramaturgia SESI-PARANÁ
Roberto Alvim – Curitiba – PR – Aula de 14 de abril de 2009 – Teatro José Maria Santos

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