quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cartas, fragmentos, idéias

No encontro de ontem, depois de um longo debate sobre o texto A RESISTÊNCIA, de Ernesto Sabato, e, em seguida, com a leitura do primeiro exercício feito pelos participantes, o Márcio Abreu propôs que cada um escolhesse um dos textos apresentados e fizesse, em casa, um outro exercício, escrevendo uma outra carta, desta vez observando quem escreve e quem recebe a carta. Seria obrigatório a citação integral e literal do texto escolhido.

O exercício é o que apresento a seguir:


Exercício para casa – Rogério Viana

1 – Cada um vai escolher uma hipótese a partir do que ela apresenta como carta.
Quem escreve / Quem recebe - Manter o tema: LEGADO – 15 a 20 linhas

11 – Fragmento - Texto original – Manuscrito de Maria Lúcia – Mimi

Hoje resolvi. Resolvi não me calar. Resolvi expressar minha necessidade, minha urgência pela tua escuta. Se for preciso, acalanto teus olhos, teus ouvidos, tua alma, ou sussurro para que não te assustes. Não, sussurrar não, porque aí sim, posso espantar teus sentidos. Olha. Para.

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O texto que produzi é este:

Meu amor,

Há tempos venho tentando dizer certas coisas. E cadê coragem para tal? Tanto tempo juntos, tanto tempo... Não sei quando, não sei onde, nem imagino como, mas num determinado momento começamos a ficar mudos um com o outro. A surdez era inevitável. A nossa. Haveria remédio para nossos males? A disfunção verbal – não saber ouvir, não saber falar – levou-nos a outros males. Tudo recorrente. A falta de diálogo caminhou para a falta de carinho, o carinho inexistente percorreu um caminho rápido para a falta de amor, faltando amor não tivemos mais sexo. Estabeleceu-se um círculo vicioso, de ausência de palavras, de toques, de atenção. Tudo começava a faltar, ostensivamente. Nas nossas caras, na nossa cama, nas nossas vidas. Temos vida? Sim, temos vida? Começo a fazer indagações. Quero avaliar tudo sem precipitar uma crise maior, uma dor insuportável. Volto a perguntar: Há remédio, um elixir mágico, uma poção, gotinhas homeopáticas ou uma injeção pequenina e tão dolorida para nos salvar? Hoje resolvi. Resolvi não me calar. Resolvi expressar minha necessidade, minha urgência pela tua escuta. Se for preciso, acalanto teus olhos, teus ouvidos, tua alma, ou sussurro para que não te assustes. Não, sussurrar não, porque aí sim, posso espantar teus sentidos. Olha. Para. Sim, para tudo. Olha, preciso que você agora olhe para mim. Sim, olhe para mim, por favor! Você vai perguntar, mas olhar como? Você vai indagar, como esta mulher quer que eu a olhe se não está aqui comigo? Como vai me ouvir se ela ficou surda? Como posso falar se perdi a capacidade de pronunciar um simples oi? Mas quero dizer com todo o carinho que tivemos nos nossos primeiros encontros, no namoro, no noivado rápido e no nosso casamento maravilhoso que é possível estabelecermos um novo pacto. Sim, um pacto. Desse pacto poderá nascer um novo encantamento. Assim, começando, sim, começando pelo que sempre nos foi essencial, poderemos nos apaixonar novamente. Hoje resolvi. Resolvi não me calar. Com coragem, entrego-te meu amor. Olhe. Estou aqui. Aqui

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