quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ernesto Sabato, algumas possibilidades de cartas

Estou participando de uma oficina de leitura com o Márcio Abreu, diretor e autor, um dos integrantes da Cia. Brasileira de Teatro. A oficina que tem o nome de "Amostra Grátis" é uma promoção da Fundação Cultural de Curitiba e conta com a participação de 15 pessoas. São três encontros semanais - de terça a quinta-feira - e começou no dia 15 de setembro e vai até o dia 24 de setembro de 2009 no Palacete Wolf, em frente a Igreja do Rosário, no centro histórico de Curitiba.

No primeiro encontro, Márcio Abreu distribuiu um texto que integra o livro A RESISTÊNCIA, do autor argentino Ernesto Sabato e publicado pela Cia. das Letras. Foi feita uma leitura pelos participantes e cada um leu um parágrafo. Após breves comentários sobre o texto lido, Márcio Abreu propôs, como exercício a ser desenvolvido em casa pelos participantes individualmente, que se escrevesse três possibilidades de começo de uma carta inspirada no texto de Sabato. Seria necessário endereçar a alguém. Qual o legado que a carta teria que apresentar e cada possibilidade com cinco a sete linhas.

Reproduzo abaixo o exercício. E, em seguida, o que realizei atendendo o recomendado.

Exercício proposto por Márcio Abreu

(a partir do primeiro texto do livro A RESISTÊNCIA – Ernesto Sabato – Cia. das Letras)

Escrever três possibilidades de começo de uma carta inspirada pelo texto acima referido.
Endereçar a alguém. Deixar claro a quem será endereçada. Qual o legado. De 5 a 7 linhas.

Os textos que produzi:

01

Querido neto - A milhares de quilômetros daqui um homem vive seus últimos dias. Quantos dias serão? Não é possível precisar. A alguns quilômetros daqui, onde você está, agora, seus pais estão contando os dias para seu batizado. Até lá você vai ter exatos seis meses e 17 dias. Aquele homem, aos poucos, está se despedindo. Você, recém chegado, se prepara para a primeira grande cerimônia que vai participar. Um homem, um grande escritor, se despede da vida. Você, um livro em branco, como será branca sua roupa de batizado. O que liga você e aquele homem sábio? A distância entre vocês é enorme. Só física, porém. O homem que se vai e o homem em formação se ligam pela esperança. Se ligam pelo mesmo nome: Ernesto.

02

Querido neto – Hoje acordei com uma incumbência importante. Fui impelido a escrever uma carta. E a quem endereçá-la? Poderia escrever para uma ex-namorada. Minha ex-namorada é minha atual mulher. Poderia escrever para um homem que vendeu toda sorte de ilusões. Não vale a pena. Hoje ele é mais um político corrupto. Que tal aquela grande atriz? Ah... ela deixou os palcos e hoje só aparece na televisão. Escreverei, então, ao Ernesto. O que o escritor me inspirou para que eu escrevesse a você, querido neto? E o que vou escrever? Nada de muito complicado, nem difícil de ser entendido. Poucas palavras. Ocupe-se com os livros. Faça deles objetos de adoração. Deixe-se seduzir por eles. Homens dignos e bons livros ninguém esquece.

03

Querido neto – Seria exigência demais pedir sua atenção neste momento em que o tempo voa tão rápido para um certo homem, um escritor argentino, um homem quase centenário? Seria pedir demais para que você, quando puder ler esta carta a tenha como meu principal legado? No dia 27 de setembro de 2009 - dia do seu batizado. - aquele homem, um grande e lúcido escritor, estará vivendo o ocaso do seu centenário. E você, o que poderá aprender da lição que o escritor deixou, do que seu avô – eu – agora registra? Tenha em mente que é preciso viver com intensidade, ser simples, olhar as pessoas, conversar com elas. Integrar-se à natureza, ler muito, escrever muito. Cultuar as cores, a beleza, os sons. Ser Ernesto, como ele. Ele Sabato.

Rogério Viana

PS.: Na noite do primeiro encontro - dia 15 de setembro - recebi, durante a oficina, um telefonema de meu filho Rafael, que mora em Rio Claro, interior de São Paulo, informando e convidando-me para o batizado do meu neto, no próximo dia 27 de setembro de 2009. O nome do meu neto, que tem hoje 6 meses e 7 dias é Ernesto. Uma simples coincidência, claro!

Sobre Márcio Abreu visite o site da CBT - Cia. Brasileira de Teatro


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