quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

As ambiguidades de um certo homem ambíguo em torno do seu próprio umbigo

Pois é, nem eu bem acabara de atualizar meu inventário de textos escritos este ano dentro do que pode-se chamar de dramaturgia, havia me esquecido que um certo texto, iniciado em setembro, estava esperando uma revisão e as duas últimas páginas. Terminei o inventário e peguei as páginas para reler e revisar. Na sequência, completei as páginas restantes, agora pela manhã. Talvez inspirado pelo lindo sol que já batia na janela do meu apartamento no décimo terceiro andar perto das 7h10. E assim, hoje, dia 16 de dezembro - nossa, o Natal está aí! - concluí o texto "Homem ambíguo em torno do próprio umbigo". É bem interessante quando a gente passa a refletir em torno do próprio umbigo e olhando, porém, com outros olhos. Tudo fica ainda mais interessante quando percebemos que nosso olhar pode ser um outro olhar, se enxergamos num outro gênero, como se fôssemos mulher. Esta, por sua vez, enxergando também sobre a perspectiva do seu próprio umbigo. Assim, a visão do homem, da mulher, do umbigo dela e do umbigo dele é que nos dá uma visão muito ambígua, porém particular, do que podemos enxergar e refletir. Um auto reflexo, está bem claro, mas ele, um reflexo que volta com um sinal trocado, trocando de gênero, pode ser mais, pode ser menos, pode ser positivo, negativo também.

Então, vai lá uma fala de "Homem ambíguo em torno do próprio umbigo", com o personagem "Um Homem":

(...)

Bem... o que virá depois vocês já sabem...
Acho que sabem, não é? O que estou
fazendo aqui, afinal de contas? Pra que
serve essa coisa que me deixa preso aqui.
Parece confortável o ambiente, mas estou
preso, tenho pressa, mas estou preso,
preciso acostumar com esse balé, essa
dança que vou fazer aqui nessa coisa
aquosa onde sou obrigado a nadar. A
engolir, a respirar como peixe. Mas não
sou peixe, não tenho guelras, mas respiro
esse líquido aquoso que entra pela minha
boca, invade meus pulmões. Ainda não
tenho pulmões? Nem coração? Então, nem
cérebro? Ué, mas como estou pensando?
Que porra é essa? Que porra é essa,
afinal?

Mais adiante, uma fala de "Uma Mulher":

(...)

Na verdade, agora, aqui, você está
crescendo na minha barriga, colado na
parede do meu útero, se alimentando do
meu sangue. Você que é meio sangue meu
e meio sangue dele. Você, se alimentando
do meu sangue. Crescendo a cada
segundo, milionésimos de milímetros por
segundo. Um sanguinho aqui, um
pedacinho de uma célula que se
transforma em osso, em cérebro, em
coração, em um estômago, num pedaço de
bunda, num punhado de cabelo, num olho.
Será azul, como o meu? Ou o cabelo será
crespinho como o dele... Nem deu para eu
ver se o pentelho dele é enroladinho como
seu cabelo. Ah, o meu, loirinho, é bem
escasso e liso. Não é enroladinho, não é
mesmo. É ralo e lisinho. Delicadamente
loirinho.
Como será que vai ser o rosto do bebê que
está agora crescendo em minha barriga?
Como será que ele vai se chamar? Será
menino, ou menina? Lúcia, Lúcio, Dirce ou
Dirceu, Mário ou Marina, Luiz ou Luiza,
Rudney ou Rudnéia, Natálio ou Natália...
Natálio? Logo... bem, acho que vai nascer
próximo do Natal... pode ser mesmo
Natália ou Natálio...! Mas que nome mais
estranho! Bem, o que vier, virá! O médico
disse que em poucas semanas o bebê vai
nascer. Mas não quero saber, antes se
será menino ou menina. Não quero saber.
Só quero é que tenha saúde.

(...)

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