sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Um exercício de escrita - o diálogo teatral

Alunos da UTFPR (curso de Letras) comigo e com a professora Maurini Souza

Na tarde de terça feira, dia 1 de novembro de 2011, fui convidado pela professora Maurini Souza para participar de um encontro com alunos do 4o. período do curso de Letras da UTFPR - Universidade Tecnológica do Paraná, em Curitiba. No encontro abordei alguns aspectos da construção de diálogos no teatro contemporâneo. Em seguida, os 11 alunos presentes fizeram a leitura de páginas iniciais de alguns dos meus textos de teatro. Para finalizar o encontro, foi proposta a seguinte atividade a eles. Todos deveriam preencher fichas contendo uma Ação, um Objeto, um Personagem, uma Situação e um Tema. Os alunos, em duplas, escolheriam, então, cinco fichas e, sobre o que estas indicassem deveriam escrever um texto livre, no formato de texto teatral ou não.

Os textos apresentam temas, personagens, ações, situações e objetos absurdos, mas essa era mesmo a ideia, afinal cada dupla trabalhou com uma mistura de sugestões que deveriam seguir à risca.

A primeira dupla que me enviou o texto finalizado e que foi lido no final do encontro na UTFPR foi a composta por Felipe Souto Maior (aluno) e Maurini Souza (professora).

Felipe Souto Maior e a professora Maurini Souza


Texto I


(voz anunciando nos alto-falantes do aeroporto)

-  O Aeroporto Internacional de Munique informa aos passageiros do vôo 3557 com destino a Veneza que prossigam ao portão LH para embarque imediato.

(mulher está na fila do check-in e se aproxima do homem que está na sua frente, interpelando-o)

-  Desculpe senhor, mas você está chamando atenção na fila! Por um acaso aconteceu algo sério para o senhor se encontrar nesse estado precário? O senhor está com um cheiro peculiar!
-  Ah!, liga não, é só vômito! Ruim mesmo é o que a megera me fez! Que coragem me trair na nossa cama!
-  Mas o senhor vai mesmo viajar assim desse jeito?
-  O quêeee! Dez anos juntos, inseparáveis como a pimenta e o acarajé! Que ousadia descarada!
-  Mas é importante esse vôo?
-  Mas claro! É um almoço de domingo em família! Tomara que a gente se sente junto pra eu te contar tudo!
-  Licença senhor, vou ali comprar um sorvete e já volto!

(ela segura a ânsia de vômito e dirige-se à sorveteria)

-  A senhora não me parece bem, vou acompanhá-la! Eu to vendo a senhora sozinha, por acaso é solteira, ou desiludida como eu?
-  Solteira, empresária dedicada ao trabalho e felizmente jovem! Estou quase nos 40!
-  Sério, mas nem parece! Qual a idade da moça?
-  Só vou dizer por que o senhor me parece simpático e está passando por uma crise!

(ela sussura no ouvido dele)

-35!

(ela dirige-se ao atendente da sorveteria)

-  Moço, me vê uma bola de morango com calda de caramelo por favor!

(ela paga e começa a lamber o sorvete)

(toca o celular dele)

-  Desculpa, esse Motorola é de 2002 e me enche o saco com tantos problemas, ainda mais que deve ser a bendita, mas tenho que atender! O pior é que a amo mesmo assim!

(ele põe seus óculos escuros e atende a ligação com uma expressão nervosa no rosto)


Robinson Kremer e Maria Moraes
O segundo texto é da dupla Robinson Kremer e Maria Moraes. Eles se divertiram muito na brincadeira de criar. A Maria Moraes até disse que não queria aparecer com seu verdadeiro nome, mas o jogo da criação tem dessas coisas. É preciso arriscar-se e sair do lugar comum e não abordar as questões sobre um senso comum. 


Texto 2


Maria Moraes e Robinson Kremer (alunos)


(Mulher de 40 anos, jovial, morena, usando jeans e camiseta e com uma bolsa grande, sai do seu lugar dentro do ônibus biarticulado e começa a apalpar o motorista. Os dois começam uma discussão.)
- Ô dona, o que é isso?
- Eu tô procurando alguma coisa que eu acho que você de ter...
(O motorista olha para ela. Está confuso.)
(A mulher continua apalpando.)
- Tira a mão daí, dona! Tô dirigindo.
- Eu tô muito necessitada. Me dá agora!
- Você não pode esperar?
- Mas é urgente! (enquanto fala, coloca as mãos sobre os peitos)
(O motorista para o ônibus, completamente irritado. Fica em pé e vira-se para ela)
- Chega! Do que você precisa?
- Já achei o que eu preciso.
(Cara de felicidade. Ela leva uma das mãos como se fosse pegar entre as pernas do motorista, mas enfia a mão no bolso dele e tira de lá uma caneta Bic.)
- Ah, era isso?! (Ele levanta os braços, um pouco ressentido pois achava que ela procurava por outra coisa. Ele deixa à mostra o relógio)
(A mulher olha fixamente para o pulso do motorista, faz cara de surpresa e pega no pulso dele.)
- Esté é muito melhor, será o fecho perfeito.
(Enquanto o motorista observa, completamente estupefato,  ela retira o relógio de seu pulso e volta a sentar-se.)
- Estou indo me encontrar com um rapaz e meu sutiã arrebenta! Muito azar.
(De repente as luzes se apagam. A voz do diretor a traz de volta à realidade)
- Vamos ensaiar pessoal!
(Ela sai correndo da coxia e toma o seu lugar no palco.)

Os textos dos demais alunos (em duplas) serão publicados na sequência, aqui.

Um comentário:

  1. yey. Muito legal este texto. E muito legal a atividade de criá-lo. Eu ri muito (com a criação do meu texto peculiar rsrs)

    ResponderExcluir