Serve o dedo de Deus? |
No meu texto "Da palavra não dita à palavra mal dita", na sua parte final, os três personagens Anália, Matheus e Ricardo travam um diálogo que tem um interesse bem particular, hoje, para mim. Eles foram inspirados em personagens reais - muito reais, com certeza - e refletem um pouco de uma certa controvérsia acerca da palavra. De palavras que não foram ditas, pronunciadas e de palavras, malditas, que foram proferidas a despeito de serem ou não agradáveis ao senso comum.
(...)
Anália – O quê? Vida e morte, como assim?
Matheus – Sim, minha vida. Sua morte. Meu ganha pão, seu ocaso. Meu prazer, a sua dor...
Anália – Não... Não... Agora eu tinha que estar gozando... Aproveitando essa turbulência toda e gritar, gritar, gemer de prazer... Cade o seu dedo me tocando? Onde está o seu dedo?
Matheus – Você acha que eu me prestaria a tocá-la com meu dedo? Acreditou mesmo que seria possível eu tocá-la?
Ricardo – Será que podemos arriscar e trocarmos de lugar?
Anália – Trocar como? Tocar, é isso que você está dizendo?
Matheus – Eu não vou tocá-la mesmo que isso signifique a minha salvação...
Anália – Mas o que você está dizendo? Quer me tocar ou quer trocar de lugar comigo?
Ricardo – Eu não tenho muita habilidade com essa mão. Preciso estar no seu lugar para poder tocá-la com o dedo da mão certa.
Anália – Que dedo? Que dedo?
Matheus – Não há nenhum dedo...
Ricardo – Troque de lugar, vamos...
Anália – É preciso tudo isso para gozar?
Matheus – Gozar? Você acha que vai gozar?
Anália – Que confusão... Antes eram apenas as vozes, agora, tudo ganhou corpo, voz e corpo. É chegada a hora? É a minha vez de gozar?
Matheus – Não. Você não tem mais vez nessa brincadeira.
Anália – Vamos, quero que me toquem.. Estou mandando.
Ricardo – Com que dedo?
Matheus – Com que dedo?
Anália – Um dedo qualquer...
Ricardo – Então ouça essa derradeira voz. Serve o dedo de Deus?
Anália – Que Deus? Que dedo?
Matheus – O meu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário