quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O dedo de Deus

Serve o dedo de Deus?

No meu texto "Da palavra não dita à palavra mal dita", na sua parte final, os três personagens Anália, Matheus e Ricardo travam um diálogo que tem um interesse bem particular, hoje, para mim. Eles foram inspirados em personagens reais - muito reais, com certeza - e refletem um pouco de uma certa controvérsia acerca da palavra. De palavras que não foram ditas, pronunciadas e de palavras, malditas, que foram proferidas a despeito de serem ou não agradáveis ao senso comum.

(...)


Anália – O quê? Vida e morte, como assim?

Matheus – Sim, minha vida. Sua morte. Meu ganha pão, seu ocaso. Meu prazer, a sua dor...

Anália – Não... Não... Agora eu tinha que estar gozando... Aproveitando essa turbulência toda e gritar, gritar, gemer de prazer... Cade o seu dedo me tocando? Onde está o seu dedo?

Matheus – Você acha que eu me prestaria a tocá-la com meu dedo? Acreditou mesmo que seria possível eu tocá-la?

Ricardo – Será que podemos arriscar e trocarmos de lugar?

Anália – Trocar como? Tocar, é isso que você está dizendo?

Matheus – Eu não vou tocá-la mesmo que isso signifique a minha salvação...

Anália – Mas o que você está dizendo? Quer me tocar ou quer trocar de lugar comigo?

Ricardo – Eu não tenho muita habilidade com essa mão. Preciso estar no seu lugar para poder tocá-la com o dedo da mão certa.

Anália – Que dedo? Que dedo?

Matheus – Não há nenhum dedo...

Ricardo – Troque de lugar, vamos...

Anália – É preciso tudo isso para gozar?

Matheus – Gozar? Você acha que vai gozar?

Anália – Que confusão... Antes eram apenas as vozes, agora, tudo ganhou corpo, voz e corpo. É chegada a hora? É a minha vez de gozar?

Matheus – Não. Você não tem mais vez nessa brincadeira.

Anália – Vamos, quero que me toquem.. Estou mandando.

Ricardo – Com que dedo?

Matheus – Com que dedo?

Anália – Um dedo qualquer...

Ricardo – Então ouça essa derradeira voz. Serve o dedo de Deus?

Anália – Que Deus? Que dedo?

Matheus – O meu...

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