domingo, 28 de fevereiro de 2010

A herança de José Mindlin

No Aeroporto de Piracicaba: Rogério Viana, José Mindlin (então Secretário de Cultura do Governo de São Paulo), Adilson Maluf (de costas, então prefeito de Piracicaba) e Luiz Antonio Lopes Fagundes (Fagundinho), Diretor da Coordenadoria de Turismo de Piracicaba (agosto de 1975 - Piracicaba - SP)
No II Salão de Humor - Claude Moliterni (Ed. Dargaud - França),
Zélio, Fagundinho e Rogério Viana (agosto de 1975 - Piracicaba - SP)

No II Salão de Humor - Antonio Roberto Cera, Zélio, Fagundinho
e Rogério Viana (agosto de 1975 - Piracicaba - SP)

Em 1975, quando fui convidado pelo Luiz Antonio Lopes Fagundes (Fagundinho), então diretor da Coordenadoria de Turismo da Prefeitura de Piracicaba (SP), para ajudá-lo na organização do II Salão de Humor de Piracicaba, iniciamos uma série de contatos e, um deles, fundamental, foi com o então Secretário de Cultura de São Paulo, o empresário e bibliófilo José Mindlin. Foi agendada uma audiência com ele, na secretaria da Cultura, um lindo palacete que fora sede do governo paulista localizado nos Campos Elísios. Mindlin recebeu os "caipirinhas" de Piracicaba que estavam acompanhados pelo cartunista Zélio Alves Pinto, irmão do Ziraldo. Mindlin aprovou o apoio ao II Salão de Humor de Piracicaba que, a partir daquela edição, iria se tornar um salão internacional.

O primeiro Salão de Humor de Piracicaba (1974) nasceu de uma idéia do jornalista e bancário Antonio Roberto Cera, o Cerinha e foi, digamos assim, apropriada pelo professor e funcionário da Secretaria Estadual de Educação, Alceu Marozzi Righetto. Mesmo sendo o autor intelectual da idéia, Cerinha não participou da organização efetiva do primeiro salão. Ambos eram colaboradores do falecido jornal "O Diário" (Piracicaba). Alceu, com o apoio do mesmo Fagundinho, em meados de 1974 foi com outros piracicabanos (dentre eles o Adolpho Carlos Françoso de Queiroz, o Adolfinho) para o Rio de Janeiro, onde buscaram apoio com o pessoal do jornal "O Pasquim" - Ziraldo, Jaguar, Millôr Fernandes, e outros. Meses depois, acontecia no prédio de um antigo banco, na praça central de Piracicaba, o primeiro Salão de Humor de Piracicaba e que tinha como cartaz, uma ilustração do Zélio.

O apoio de Mindlin ao II Salão de Humor de Piracicaba, através de verba da Secretaria de Cultura do governo paulista, foi importante e graças a ele, mesmo naqueles anos "bravos" onde imperava uma forte censura à imprensa - quase não existiam cartunistas, chargistas e caricaturistas na imprensa brasileira da época - Mindlin acreditou na iniciativa dos piracicabanos e o mais importante Salão de Humor da América Latina, um dos mais importantes do Mundo pode, hoje, comemorar sua 37a. edição em agosto de 2010. O inestimável apoio de Mindlin ao Salão de Humor de Piracicaba, infelizmente não foi destacado num livro (vejam só!) que registrou os 30 anos daquele salão e que foi produzido pelo Paulo Caruso e com apoio do Governo de São Paulo (Gestão do Geraldo Alkmin). Uma importante presença no II Salão de Humor de Piracicaba foi a do escritor e editor Claude Moliterni, da editora Dargoud, da França.

A morte de José Mindlin, ocorrida ontem, em São Paulo, é uma grande perda para a cultura brasileira, mas o legado que ele deixou vai muito além da maravilhosa coleção, a biblioteca inteira que ele formou e que, há pouco tempo doou para a USP. Mindlin deixa como maior herança, não os mais de 40 mil volumes que ele colecionou a partir dos seus 13 anos (foram mais de 82 anos colecionando livros), e sim o que é fundamental, o amor incondicional ao livro.

Mindlin sempre foi um homem de visão. O que ele apoiava dava certo. Foi assim com sua biblioteca, depois com sua empresa - a Metal Leve - coincidentemente uma empresa nascida de um ramo da grande indústria de pistões Mahle, na Alemanha e cujo herdeiro - Ernst Mahle - que não tinha vocação para os negócios da família Mahle, no começo dos anos 50 mudou-se para São Paulo para estudar composição e regência com H. J. Koelheutter e acabou casando-se com Cidinha Pinto Mahle, sua colega de estudos de música em São Paulo e com a qual fundou, em Piracicaba, a Escola de Música de Piracicaba, instituição que hoje está vinculada à Universidade Metodista de Piracicaba - Unimep. Os Mahle venderam a Metal Leve para Mindlin e ele a consolidou como grande empresa brasileira na produção de peças (pistões) para automóveis.

Um comentário:

  1. O salão de humor foi criado, idealizado e realizado por Alceu Marozi Righetto, e se não fosse ele, muitos ajudaram, mas se não fosse ele, talvez o Salão não tivesse sequer saído do papel... Alceu também foi o criador da banda do bule, e, foi o único em Piracicaba a chamar para ele a responsabilidade de terminar a construção do Teatro Municipal da cidade, considerado por todos como um "elefante branco". palmas para Alceu... O resto é tudo papagaio de pirata !!!

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