quinta-feira, 4 de março de 2010

O padeiro e a boneca cobiçada - roteiro de curta metragem

O padeiro apaixonado por uma cobiçada boneca...

Em 1996 escrevi, quando trabalhava como jornalista em Piracicaba, a uma série de contos que integram meu inédito livro "Arenito do Caiuá". O conto ficou guardado. Em 2001, dos vários contos que escrevi, juntei três e, depois de muita pesquisa, escrevi um roteiro de um longa metragem que tem o título de "Caculé". É um roteiro que me agradou muito, pois me deu a noção exata de como contar uma história com imagens. Claro, não estou seguro de que tenha contado a história de um jeito certo, mas o que é certo e errado quando se trata de lidar com imagens, palavras e emoções? Continuei lendo muitos roteiros, livros, críticas de cinema. E não deixei de assistir a muitos filmes. Comecei, também, a ver com carinho a possibilidade de escrever para teatro. Um sonho que sempre esteve presente em minha vida, mas que não havia ainda se apresentado como possível de acontecer.

Quando fui trabalhar numa editora universitária em Salvador (Ba), em 2003, fui desafiado por duas atrizes que conheci na TV Educativa da Bahia a escrever uma peça de teatro para poucos atores - elas queriam duas atrizes e um ator, só - e saiu "Das razões do nosso medo", que saiu inicialmente com o título "O medo de te perder", mas achei melhor usar no título "razões" do que ir diretamente para o temor de perder algo. Mesmo nas perdas a gente sempre aprende mais, pois nos deixam lições. Algo que dê certo de cara, pode ser simples obra do acaso ou da sorte, se preferirem. Foi uma grande lição que aprendi.

Em 2006 fiz um curso on-line com Hugo Moss, do Rio de Janeiro e, um ano depois, fui participar da Oficina de Roteiro, no projeto Olho Vivo, com o Luciano Coelho. Dentre os vários exercícios que estudamos, um deles era de escrever um "roteiro". Como eu já tinha um certo domínio de roteirizar peças de audiovisuais - como jornalista e vinculado a uma agência de propaganda, durante muitos anos escrevi roteiros de audiovisuais para empresas, também para roteiros de comerciais de TV - então o desafio ficou menor pois eu já tinha um argumento e esse era o de um dos meus contos. Foi assim que passei do conto para um roteiro de curta metragem este "O Padeiro e a Boneca Cobiçada".

Ao longo de minha vida como jornalista - no ano que vem, oficialmente completo 40 anos como jornalista - mas, se retomar em minha história o fato de, aos 12 anos, ter entrevistado um jogador de futebol - meu ídolo, o baixinho driblador e ponta direita do ACP - Atlético Clube de Paranavaí, de apelido Babá (José Eustáquio da Silva) - e o então jornal semanário "O Noroeste" (que desapareceu depois de um incêndio em meados dos anos 60 em Paranavaí) publicou em suas páginas aquela minha entrevista, posso me considerar que terei, no ano que vem, 50 anos de paixão pela palavra escrita, pelos personagens e suas histórias.

Na vivência como jornalista fui, sempre, guardando na memória alguns fatos, coisas que noticiei enquanto repórter, mas também, em coisas que li. Eu morava, em Paranavaí, na frente da casa do meu amigo Ricardo Antonio Balestra, advogado aqui em Curitiba, e cujo pai tinha uma padaria no fundo de sua casa e que, tempos depois, foi arrendada para uma família que foi morar ao lado de minha casa. Sempre ia ver os padeiros trabalhando, as gozações entre eles. Uma empregada nossa foi namorada de um dos padeiros. Bem... melhor não entregar todo o ouro.

Meu roteiro de "O Padeiro e a Boneca Cobiçada" tem como "story line": Padeiro, homem maduro, se apaixona por uma jovem prostituta e faz tudo para tirá-la da zona.

O padeiro, portanto, já aparece no título. A "boneca cobiçada", a figura dela, de uma cobiçada, jovem e linda prostituta, foi inspirada na canção "Boneca Cobiçada", cantada pela dupla "Palmeira e Biá" e composta por Biá e Bolinha, regravada por muitas duplas sertanejas, caipiras e outros cantores românticos desde os anos 50, quando foi grande sucesso no rádio da época.

Assim, com todas as explicações que julgo necessárias, nasceu o roteiro de um curta metragem de 15 minutos (fui preciso na questão do tempo, já que, para cada página de roteiro deve gerar um minuto do filme, aproximadamente). Andei mostrando o roteiro para algumas pessoas e uma delas, a Alessandra Moretti, que é cineasta aqui em Curitiba, sugeriu que eu mudasse para uma menina, o que, a princípio eu havia colocado como menino o filho da jovem prostituta de nome Suzi. Ficou melhor sendo uma menina.

Aqui, uma das cenas iniciais do curta. A revelação da paixão do padeiro Justino pela Suzi, uma jovem prostituta da casa da Terezona, numa pequena cidade do interior paranaense nos anos 60.

O roteiro completo, aqui.

(...)

EXT. PONTO DE TÁXI – NOITE

No ponto de táxi, o motorista está dormindo no banco de um antigo Corcel. Justino agora veste outra roupa, escura. Ele acorda o motorista, tocando-o em seu ombro.

O motorista acorda assustado.Ajeita-se ao volante do carro.

MOTORISTA

Ué! Vai pra zona, de novo, padeiro? Está se juntando com aquela moreninha da casa da Terezona?

Justino abre a porta do carro e senta-se ao lado do motorista.

INT. TÁXI – NOITE

Justino permanece sem nada dizer. O motorista olha para ele e balança a cabeça.

MOTORISTA

Puxa! Então se apaixonou mesmo, não é, padeiro? Cuidado! Menina nova, na zona, é problema. Pode ser que ela já tenha um coronel, nunca se sabe.

Justino apenas balança a cabeça, negativamente, permanecendo calado e tenso.

FUSÃO do rosto de Justino.

INT. CASA DA TEREZONA – NOITE

Justino entra na sala da casa onde algumas mulheres estão bebendo cerveja com homens nas pequenas mesas. No fundo da sala, o sanfoneiro toca boleros.

Ao ver Justino entrar no salão, o SANFONEIRO começa a tocar BONECA COBIÇADA.

Suzi está sentada numa mesa, sozinha. Ao ouvir a música, olha em direção à porta, onde Justino está.

Justino faz sinal de positivo com o polegar direito para o sanfoneiro e vai para a mesa onde Suzi está.

SUZI vê Justino se aproximar e sorri.

POV JUSTINO

SUZI

Você de novo, no cu da madrugada! Será que a farinha acabou, padeiro?

Justino abaixa-se até Suzi.

POV SUZI

JUSTINO

Acabou não. O que acabou foi minha paciência. Quero falar com você, menina. Pode?

Suzi faz sinal para Justino sentar-se ao lado dela, mas ele a pega pela mão e a faz levantar-se, com delicadeza.

SUZI

Tudo bem. Mas tem que ser num programa. Nada de jogar conversa fora. Tenho conta pra pagar, sabe?

Ambos caminham em direção a uma porta, ao lado de onde o sanfoneiro está tocando BONECA COBIÇADA.

(...)

Para ouvir BONECA COBIÇADA, com um arranjo orquestral belíssimo e a voz mais bonita ainda do ANTÔNIO MARCOS, veja a letra da composição de Biá e Bolinha e ouça aqui (o vídeo é uma montagem tosca de imagens de bonecas antigas). Mas a versão que me inspirou é a original do Palmeira e Biá que está aqui neste link. Ao abrir clique no bonequinho com o violão. Há esta versão (muito boa, também) do Milionário e José Rico. Está no YouTube e você ouve aqui.

Será que a música BONECA COBIÇADA cai bem como trilha sonora desta história? Comentários serão apreciados por mim. Aqui o roteiro do curta metragem.

5 comentários:

  1. Rogério:

    Muito boa sua inspiração. Estou ouvindo Boneca Cobiçada tocando no Sistema de Alto Falantes do Raimundo Lago, na antiga Rodoviária. O sanfoneiro é o Cearense. O taxi foi pego ali perto do Palace Hotel. A casa da Teresona já esvaziou nessa madrugada (como sempre, por sinal...). O padeiro é um dos (muitos) empregados do meu pai. E por aí vai...
    Abraços. Sucesso!
    Ricardo

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  4. Ola Rogério, agora com o roteiro completo. Gostei, realmente angelical, bem ambientado e a real história não de um amor, mas sim de uma grande paixão, que rompe laços, ensurdece, foge do real e se fixa no imaginário do ser. Continue garoto, valeu. Abraços Pedra

    ResponderExcluir
  5. AVISO DO ADMINISTRADOR DO BLOG

    Os dois comentários que eliminei estavam repetidos por erro do sistema.

    ResponderExcluir