quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Textos de Rogério Viana - Um resumo

Textos sobre a mesa de trabalho


Resumo dos textos teatrais de Rogério Viana

(todos registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)

1 - ARCO, TARCO OU VERVA? Paixão e Alegria de Um Barbeiro Caipira

Musical Caipira

Num lugarejo do interior brasileiro perdido num tempo distante (entre 1950 e 1960) o barbeiro Elias disputa o amor de Mocinha com seu vizinho, o comerciante e agiota Cróvis. Elias tem um amigo, Dorfinho, que é dono do serviço de “arto-falante” do lugarejo. Cróvis conta com a ajuda interesseira de Zurmira, solteirona e fofoqueira. Mocinha, a donzela do lugar tem na amiga Inezinha sua confidente e, esta, é a paixão do Dorfinho.

A história desses personagens é contada pelo narrador na figura de um palhaço caipira – de um circo-caipira-mambembe – o Paiaço Veneno (sou paiaço e sou caipira, tudo isso é o que sô, mais óia pra minha cara, pois burro é que num sô). O musical mostra principais “clássicos” do cancioneiro caipira. Para ajudar Elias a conquistar Mocinha, o paiaço Veneno pede ajuda para o jornalista, poeta, escritor, folclorista e grande incentivador da música e da poesia caipira, o grande Cornélio Pires. Ele se revela “padrinho” do barbeiro Elias, cumpadre do pai do apaixonado barbeiro. Ensinando uns truques, uns versos e umas “modas de viola”, Elias quer conquistar Mocinha com seus versos e sua bela voz. Zurmira faz intriga, arruma uma confusão danada e, no final, com tudo esclarecido, o barbeiro Elias conquista Mocinha, sua grande paixão, com seu talento musical e os versos que, finalmente, consegue por para fora com a ajuda da música caipira e dos seus inesquecíveis e fiéis amigos.

Sete personagens 4 homens e 3 mulheres – Nove músicos e cantores – Música ao vivo

2 – Manhas, Mutretas e o Escambau

Drama

Francisco é um ex-jogador e ex-técnico de futebol que, com cerca de 70 anos, vive isolado e esquecido num confortável e simples apartamento numa grande cidade brasileira. Ele é cuidado por uma fiél empregada (Maria das Dores) e pela única filha (Gardênia), que vive ocupada e sempre com pressa com seus compromissos numa faculdade. Francisco sofre do “Mal de Alzheimer”. Ele tem poucos momentos de lucidez e fica quase todo o tempo sentado numa poltrona e, depois, numa cadeira de rodas. Sem responder nada oral ou fisicamente, no plano real, Francisco ganha vida, movimentos e voz, quando começa ser visitado por lembranças e pessoas do seu passado.

Aparecem seu grande amigo de infância, o menino Zião, sua falecida mãe, sua falecida mulher, o menino depois é seu ex-jogador Tales. Visitam as lembranças do ex-técnico de futebol, um jogador determinado e bem sucedido, um jogador talentoso e que se perde com bebidas, drogas e prostitutas. O pai do menino talentoso, um menino que é abusado sexualmente por um dirigente de futebol. Outro dirigente de futebol que tem um caso com a mulher de um talentoso e promissor artilheiro, além de jornalistas e radialistas, torcedores que aparecem e saem de cena durante os momentos em que a consciência de Francisco quer se fazer presente nas lembranças e nos personagens que foram importantes para ele.

Francisco é lembrado por um amigo para dirigir um time no Paraná e, ao final, faz uma poética declaração de amor pelo futebol e deixa revelado que antigos ídolos sempre acabam esquecidos pelo atual riquíssimo mundo do futebol, dos astros, mas também da grande maioria dos torcedores e dos personagens que sonharam um dia e que vivem apenas a ilusão de um dia ter reconhecimento nos gramados, no futebol, o que ele chama da “dança do diabo”. O texto é uma homenagem a Francisco José Sarno Matarazzo, o Chico Sarno, que foi técnico do Corínthians e outros times brasileiros, e que trabalhou como comentarista de futebol em rádios até metade da década de 80.

Seis personagens – Quatro homens (um deles é um menino) e duas mulheres

3 – Cinco Cafés e Algumas Gotas de Afeto

Drama

Cafeteria. Uma mulher vai ao encontro de um homem que seguiu um roteiro definido por ela para encontrá-la. É um tipo de jogo, um desafio, uma fuga da rotina ou o encontro de duas pessoas que se descobriram tão diferentes e incompatíveis. Quem deve submeter-se aos caprichos do outro. Cafeteria. Uma jovem espera pelo namorado. Eles se encontram. O café é o ponto de encontro e de discórdia. Cafeteria. Um homem fala do seu prazer pelo café e da impossibilidade que tem de experimentá-lo. E é através do café que ele identifica os potenciais e os talentos das pessoas. Cafeteria. Uma mulher e um homem se encontram, se reencontram, descobrem o que tem em comum e o muito que um nada tem a ver com o outro. Cafeteria. São várias, são cinco. E tantas histórias e personagens que aparentam ser o que não são e são o que aparentam não ser.

Quatro personagens – dois homens e duas mulheres (um homem e uma mulher são jovens)

4 – Daysi

Drama

Sobre o universo de Daysi no dia em que ela completa 40 anos

Ao acordar na manhã de seus 40 anos, Daysi, um travesti que foi um inseguro rapaz e uma exuberante mulher, não se reconhece ao passar pelo espelho. Tenta reconhecer quem ela é. Não se reconhece nas figuras nem da mãe, nem do pai. Parece que tem mais a aparência do seu pai. Não parece nada com a mãe. Ele é um travesti que começa a questionar, 22, 23 anos depois de ter decidido viver como mulher, quem é, o que é, o que será sua vida dali para frente. Ao confrontar-se com a realidade, naquela manhã, surgem esparsas lembranças do passado. Flashes nas formas de velhos fantasmas que, ao longo de sua vida, reaparecem, desaparecem de novo. Talvez para cobrar dela uma nova posição ou recobrar-lhe a consciência e o entendimento de quem ela é e de quem ele um dia foi. Será possível? Quais surpresas serão reveladas no dia dos seus 40 anos?

Sete personagens – Três homens e quatro mulheres – O travesti velho é homem, o que quer ser travesti, é homem jovem, o travesti novato é mulher, e os dois travestis são mulheres jovens. O pai/mãe é uma mulher.

5 – Eu Avec Você

Drama

O fuso horário entre Brasil e França apresenta uma diferença de 3 horas. Quando aqui são 11h00, lá já são14h00. Quando estamos iniciando o almoço, lá eles já almoçaram. Quando vamos dormir, eles já estão em sono profundo. Quando acordamos, eles já estão em plenas atividades do seu dia a dia. Estamos sempre atrás dos franceses no que estamos fazendo. São três horas de diferença no fuso horário. Aqui é mais cedo, lá é mais tarde. Aqui tudo para fazer, lá as coisas já foram feitas. Tantas diferenças, três horas apenas. Lá em Paris, aqui, ao sul da América Latina e em outros lugares o tempo não para. Avança. O tempo se mistura, independe do fuso – uma formalidade técnica. Os personagens, dentro ou fora de seus fusos espaciais, temporais, sempre encontram caminhos para uma comunicação que não se dá, muitas vezes, apenas pela palavra. Se comunicar é se aproximar, mesmo distantes, improváveis, impossíveis e utópicos, alguns encontros acontecem mesmo sobre uma folha de papel, ou várias. Apenas lá. Desligue o ventilador e fechem as janelas. Os ventos, ah, os ventos...

Dois personagens – um homem e uma mulher, maduros.

6 – Parent(es)is – Fábula para seis ou mais vozes

Drama

No local onde existiu uma antiga tecelagem hoje é um teatro. Onde era a casa das máquinas, é o palco. Onde é a plateia, antes ficavam as urdideiras, as fiadeiras, as máquinas de tecer. Onde as pessoas circulavam pela fábrica, circulam funcionários, atores, atrizes, diretores, técnicos das várias peças de teatro que naquele espaço são encenadas. O espaço não é povoado por fantasma, mas por vozes e as vozes não são personificadas, as vozes são múltiplas, são diferentes e distintas e se confundem com vozes de operários, de tecelãs, de gente do escritório e com as pessoas do teatro e com os personagens de várias peças. Cada voz, cada personagem em cena, é um pronome pessoal, pronomes singulares, pronomes plurais (Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles). Encontros, desencontros, dilemas, intrigas, inveja, raiva, amor, paixão, sexo, tudo se mistura nas tramas dos tecidos que lá foram fabricados e nos tecidos das tramas de novas histórias encenadas. Tramas de afetos e tramas dos fios presentes nos tecidos de cortinas e das coxias.

Seis personagens – pode ser só homens, ou só mulheres. Ou homens e mulheres. Mais homens ou mais mulheres, na distribuição dos papéis.

7 – Das Razões do Nosso Medo

Drama

É um ensaio. Mas é um espetáculo. São histórias de desencontros, de medos, de indecisões. São dois textos que são encenados. São três personagens – um homem, duas mulheres - que trocam seus papéis. Um é homem, depois é mulher, a mulher é outra mulher, depois é a consciência, é quem dirige e orienta a atuação dos outros personagens, que são atores. A consciência sempre pode aparecer em horas inadequadas. Quando chega na hora certa, faz tudo desandar, sair do ritmo, deixar o espaço confuso e o tempo incerto. Depois o homem, que foi mulher, é a consciência do personagem que foi, que será. Aos poucos, deixando aflorar medos e angústias, invejas, loucuras, ciúmes, inseguranças, certezas e o incerto pensar sobre o hoje, o presente e o que virá, os personagens ganham vida e se revelam os próprios atores e o embate diário que eles têm na luta pela sobrevivência e pela busca do papel perfeito, eles que acabam não mais sabendo quem realmente são e, quando se descobrem, através das falas, expõe toda a fragilidade de seres humanos que fazem do instrumento da representação uma vivência de mentiras e inseguranças.

Três personagens – Um homem e duas mulheres.

8 – Homem Ambíguo em Torno do Próprio Umbigo

Tragicomédia

Antes de se enxergar ambíguo, o homem se enxerga espermatozoide, óvulo, cordão umbilical, feto, bebê, gente. Antes de nascer, ele foi gestado, sim, lá em pé, na escada, num sexo ocasional de uma adolescente e de seu namorado surfista que nem nome tinha. Numa rapidinha que bambeou quatro pernas. Depois, dialogando com seu próprio umbigo, enroscado ainda com seu cordão umbilical com a placenta, com o umbigo de sua própria mãe, sua mãe com seu próprio umbigo, trocando de umbigos e de ligações entre si – o homem, seu umbigo, a mulher e seu umbigo – toda a ambiguidade é revelada nas visões que cada um tem daquele limitado espaço importante mas que não pode e nem vai além de simples e simplificadas reflexões atemporais onde o espaço de análise e reflexão não vai além de poucos centímetros ao seu entorno.

Quatro personagens – dois homens e duas mulheres.

9 – Casais (tradução do texto em espanhol Parejas, da autora argentina Susana Lastreto, que escreveu orinalmente em francês, em 1995)

Drama

Noite. Uma adolescente sem sono. No escuro de seu quarto escuta... Os adultos festejam, fazem amor, fazem a guerra. A adolescente se levanta, abre portas, vaga, surpreende intimidades, confissões, dores, segredos. Percorre um labirinto de paixões, descobre o amor, observa o mundo adulto com um olhar curioso, crítica ou divertida, noite a noite, cresce. Ao final da noite, ou de muitas noites, já não será a mesma: terá se convertido em mulher, começará sua própria vida.

O homem e a mulher podem ser considerados como o mesmo casal ou casais diferentes. Por isso pouco importa que às vezes o casal tenha filhos e às vezes, não segundo as cenas. Nem que o tempo seja cronologicamente lógico. Segundo as cenas o casal se separa, ou recém se conhece, ou viveu juntos cem anos.

Os personagens não tem por que ter relações de parentesco entre si; a velha, a dama das rugas não é a avó da adolescente, nem a adolescente a filha do casal. Pode ser às vezes.

É um universo mental. É um mundo noturno, de sonhos e penumbra. Meu desejo é que a cenografia seja a mais simples possível e que todos os textos, inclusive os mais poéticos, sejam ditos com uma grande simplicidade e muito concretamente.

Cinco personagens – Dois homens e três mulheres (uma mulher bem mais velha e uma adolescente)

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