Ao publicar, hoje, dois posts sobre a arte do monólogo, fui buscar nos meus arquivos fotos do Richard Rebelo. Uma imediata associação veio à minha mente. No seu currículo, Richard Rebelo tem uma participação em um espetáculo onde fez um “clown”. A associação que fiz foi do rosto expressivo do Richard, imaginando-o um “clown” de cara lavada. Também imaginando-o com a figura do personagem do palhaço-caipira Veneno – da peça musical “Arco, Tarco ou Verva? Paixão e Alegria de Um Barbeiro Caipira”, de minha autoria, que ele teria feito tão bem, caso o projeto, em 2008, não tivesse sido arquivado pelo MinC, pelo descuido do produtor em não enviar cópias de documentos de sua produtora para a continuação do projeto pela Lei Rouanet. O projeto abortado forçadamente em 2008 será retomado, este mês, por outro produtor em Curitiba.
Então Sancho Pança levou-me a D. Quixote e o “cavaleiro da triste figura” levou-me, na associação que minha mente fez, ao genial – e para mim imortal – ator mexicano Mario Moreno, o Cantinflas, falecido em 1993, aos 82 anos. No ano que vem será comemorado o centenário de nascimento de Cantinflas.
O que ligaria Cantinflas a D.Quixote? O que Richard poderia ligar um personagem a outro?
Esta semana Richard Rebelo vai estrear o monólogo “A Luta”. Uma adaptação do livro “Os Sertões” para o teatro. Com certeza será outra monumental interpretação de Richard em um texto difícil, longo e feito na medida do seu imenso talento de intérprete. O talento de Richard para monólogos difíceis foi provado com o Canto XVI, da Ilíada de Homero, que ele apresentou em maio do ano passado, no Museu do Catete, no Rio de Janeiro.
Richard, Cantinflas, Canto XVI da Ilíada, palhaço-caipira, clown, D. Quixote.
Tudo isso me fez lembrar de uma citação
Uma das falas mais conhecidas em Cantinflas, no seu jeito de falar sem sentido e provocando risos no modo como se expressava – rápido, confuso, dissimulado, desconcentrado, irônico etc, o personagem criado e interpretado por Mário Moreno, dizia:
¡Pueblo que me escucha! Aquí me tienen ante ustedes y ustedes delante de mí, y esta es una verdad que nadie podrá discutir.
Y ahora me pregunto: ¿y por qué estoy aquí, si podría estar en otra parte? Y enseguida encuentro contestación, porque soy muy rápido en todo.
Estoy aquí porque no estoy en otra parte y porque ustedes me llamaron, y si el pueblo me llama, el pueblo sabrá por qué lo hizo.
Agradezco estos aplausos tan desnutridos a la par que merecidos, que me incitan a seguir discursiando. Y ustedes se preguntarán: este joven de tan tierna edad, tan guapo, de aspecto tan distinguido, de cara tan agradable, ¿será capaz de conducir una nave a buen puerto?
Em D.Quixote, o texto de Feliciado também tem o mesmo estilo confuso e engraçado. Está assim no capítulo inicial – As leituras do fidalgo:
“La razón de la sintazón que a mi razón se hace, de tal manera mi razón enflaquece, que com razón me quejo de la vuestra fermosura”.
E também: “ Los altos cielos que de vuestra divinidade divinamente com las estrellas os fortifican y os hacen merecedora del merecimiento que merece la vuestra grandeza...”.
Quem lê e escreve, sempre faz essas ligações. Talvez alguém possa considerá-las sem nenhum sentido. Talvez sejam mesmo. Mas nossa mente liga tanta coisa sem sentido que só ganham sentido por quem para um pouco para pensar e tentar compreender por que “razão a minha sem razão que à minha razão se faz...” e se fez no momento em que via o expressivo rosto de Richard Rebelo numa foto de sua apresentação em “O Causo é o Seguinte...”
Quem não sabe muito sobre Cantinflas - que até deu origem ao verbo "cantinflear" pela Real Academia Espanhola, pode conhecê-lo ou relembrá-lo. Aqui sobre Cantinflas na Wikipedia.
Ou em um dos vários videos, no YouTube, do magistral Cantinflas com uma explicação sobre os átomos.
Também sobre a Gramática do “indioma” Castelhano.
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