segunda-feira, 22 de março de 2010

Richard Rebelo, clown, palhaço-caipira, D. Quixote e Cantinflas

Richard Rebelo, Cantinflas, Dom Quixote e Sancho Pança
Uma livre associação de imagens e palavras.

Ao publicar, hoje, dois posts sobre a arte do monólogo, fui buscar nos meus arquivos fotos do Richard Rebelo. Uma imediata associação veio à minha mente. No seu currículo, Richard Rebelo tem uma participação em um espetáculo onde fez um “clown”. A associação que fiz foi do rosto expressivo do Richard, imaginando-o um “clown” de cara lavada. Também imaginando-o com a figura do personagem do palhaço-caipira Veneno – da peça musical “Arco, Tarco ou Verva? Paixão e Alegria de Um Barbeiro Caipira”, de minha autoria, que ele teria feito tão bem, caso o projeto, em 2008, não tivesse sido arquivado pelo MinC, pelo descuido do produtor em não enviar cópias de documentos de sua produtora para a continuação do projeto pela Lei Rouanet. O projeto abortado forçadamente em 2008 será retomado, este mês, por outro produtor em Curitiba.

Associei, também, não só a figura do Richard como um “clown”, um palhaço-caipira, um heroi de uma epopeia grega, um narrador do conflito de Canudos, talvez ele como o sempre presente escudeiro Sancho Pança, numa possível montagem teatral de D. Quixote.

Então Sancho Pança levou-me a D. Quixote e o “cavaleiro da triste figura” levou-me, na associação que minha mente fez, ao genial – e para mim imortal – ator mexicano Mario Moreno, o Cantinflas, falecido em 1993, aos 82 anos. No ano que vem será comemorado o centenário de nascimento de Cantinflas.

O que ligaria Cantinflas a D.Quixote? O que Richard poderia ligar um personagem a outro?

Esta semana Richard Rebelo vai estrear o monólogo “A Luta”. Uma adaptação do livro “Os Sertões” para o teatro. Com certeza será outra monumental interpretação de Richard em um texto difícil, longo e feito na medida do seu imenso talento de intérprete. O talento de Richard para monólogos difíceis foi provado com o Canto XVI, da Ilíada de Homero, que ele apresentou em maio do ano passado, no Museu do Catete, no Rio de Janeiro.

Richard, Cantinflas, Canto XVI da Ilíada, palhaço-caipira, clown, D. Quixote.

Tudo isso me fez lembrar de uma citação em D. Quixote de um autor de livros sobre “Cavaleiros”, um dos que inspiraram o personagem de Cervantes a empreender sua aventura sem sentido, se é que sonhos possam ser assim considerados. Lendo o original em espanhol de Feliciano de Silva (Século XVI) e citado por Cervantes, associei que aquele jeito de falar tinha um certo ar de Cantinflas. Ou melhor, que Cantinflas, talvez tivesse um pouco de Feliciano de Silva, citado em D. Quixote.

Uma das falas mais conhecidas em Cantinflas, no seu jeito de falar sem sentido e provocando risos no modo como se expressava – rápido, confuso, dissimulado, desconcentrado, irônico etc, o personagem criado e interpretado por Mário Moreno, dizia:

¡Pueblo que me escucha! Aquí me tienen ante ustedes y ustedes delante de mí, y esta es una verdad que nadie podrá discutir.

Y ahora me pregunto: ¿y por qué estoy aquí, si podría estar en otra parte? Y enseguida encuentro contestación, porque soy muy rápido en todo.

Estoy aquí porque no estoy en otra parte y porque ustedes me llamaron, y si el pueblo me llama, el pueblo sabrá por qué lo hizo.

Agradezco estos aplausos tan desnutridos a la par que merecidos, que me incitan a seguir discursiando. Y ustedes se preguntarán: este joven de tan tierna edad, tan guapo, de aspecto tan distinguido, de cara tan agradable, ¿será capaz de conducir una nave a buen puerto?

Em D.Quixote, o texto de Feliciado também tem o mesmo estilo confuso e engraçado. Está assim no capítulo inicial – As leituras do fidalgo:

“La razón de la sintazón que a mi razón se hace, de tal manera mi razón enflaquece, que com razón me quejo de la vuestra fermosura”.

E também: “ Los altos cielos que de vuestra divinidade divinamente com las estrellas os fortifican y os hacen merecedora del merecimiento que merece la vuestra grandeza...”.

Quem lê e escreve, sempre faz essas ligações. Talvez alguém possa considerá-las sem nenhum sentido. Talvez sejam mesmo. Mas nossa mente liga tanta coisa sem sentido que só ganham sentido por quem para um pouco para pensar e tentar compreender por que “razão a minha sem razão que à minha razão se faz...” e se fez no momento em que via o expressivo rosto de Richard Rebelo numa foto de sua apresentação em “O Causo é o Seguinte...”

Quem não sabe muito sobre Cantinflas - que até deu origem ao verbo "cantinflear" pela Real Academia Espanhola, pode conhecê-lo ou relembrá-lo. Aqui sobre Cantinflas na Wikipedia.

Ou em um dos vários videos, no YouTube, do magistral Cantinflas com uma explicação sobre os átomos.

Também sobre a Gramática do “indioma” Castelhano.

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