O que me faz pensar? É a ausência de um pensamento? Seria o vazio que se instala em mim? Fico a pensar e aquela ausência ganha um minúsculo corpo. Não há mais o absoluto vazio. Algo apareceu para ocupar um pequeno espaço
Estou pensando ou estou fazendo uso da linguagem? Pensamento é palavra? Estou confuso, confesso. Pensamento sem palavra não existe. A palavra me ajuda a fazer uma análise do que de lógico tenho ao pensar. Mas palavra só não diz nada – que digam os vários dicionários disponíveis em todo o mundo. Um pensamento também não diz nada. Para que eu pense alguma coisa, formule um pensamento e o transforme em palavras, é preciso ter em mente que preciso passar para a frente isso tudo. Guardar naquele espaço vazio que havia em mim – que há em mim, em você, também – não colabora em nada. É preciso fazer com que o pensamento, com as palavras, tenha sentido ao ser levado para alguém. A palavra deve voar – verba volent – e, assim, eu poderei me fazer entender.
Assim, diante desse dilema da palavra necessária dentro do diálogo que se estabeleceu por uma simples razão de alguém ter falado alguma coisa, começa, agora, o que poderíamos determinar como um diálogo teatral. A força do contrário.
Um improvável diálogo para um chuvoso sábado de manhã. Quem sabe, daqui a algumas horas faça sol. E as palavras encontrem o caminho para a qual foram pensadas, ditas e endereçadas.
Homem
Você não esperava que eu fosse aceitar suas condições sem discuti-las, não é?
Mulher
De você eu sempre espero tudo. Nada também.
Homem
Sempre assim. Quer se impor às custas da minha boca fechada, não é?
Mulher
Quando você a abre, sei que coisa boa não virá!
Homem
Não é isso que você me diz quando eu a beijo.
Mulher
Já aconteceram tempos melhores.
Homem
É mesmo. Eu aprendi a questioná-la.
Mulher
Você desaprendeu a beijar.
Homem
Não me ocupo mais em apenas lhe ser agradável.
Mulher
Agradaria muito se você continuasse de boca fechada e me beijasse mais.
Homem
Não seria essa receita ideal para você?
Mulher
Não quer que eu fale mais?
Homem
Só o necessário. Quero que fale com a boca, mas em outro contexto.
Mulher
Sempre tenho que ficar quebrando a cabeça para entender o que você quer, mas que não diz claramente o que quer.
Homem
O mesmo se aplica a você. Não tenho o dom da adivinhação.
Mulher
Nem se esforça, um pouco que seja, para entender outras linguagens em mim, não é?
Homem
Você se ocupa demais com sua própria boca. É ela que prevalece
Mulher
Isso pode significar que de boca fechada eu seja mais convincente?
Homem
Não é bem exatamente isso.
Mulher
O que é, então?
Homem
Feche a boca e segure minha mão.
Mulher
Sua mão?
Homem
Sim.
Mulher
E...
Homem
Agora eu só preciso disso.
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