O teatro de Roberto Alvim brilha na "penumbra"
A descoberta do poder das palavras se deu quando o carioca Roberto Alvim, 36 anos, era uma criança de 8. Sozinho em casa numa tarde, aventurou-se na biblioteca de seus pais, onde encontrou o volume de capa preta com um título irresistível: Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe. Pela janela entreaberta podia ver o cemitério do outro lado da rua, mas a luz no quarto era crepuscular. O menino devorou o contoO Gato Preto, mas fraquejou em Berenice - história macabra de um homem obcecado pelos dentes da prima morta. Em pânico, correu para a rua, em busca de gente. "Pela força da literatura, daquelas palavras, num simples livro, o mundo inteiro ao meu redor ganhou novo significado", conta Alvim. À frente da companhia paulista Club Noir, ele vem explorando o palco como um espaço da escuridão, onde a palavra é a força ordenadora. É o caso de A Terrível Voz de Satã, espetáculo do inglês Gregory Motton cuja temporada será retomada em março, e de O Quarto, peça do irlandês Harold Pinter cuja montagem lhe rendeu o prêmio de melhor espetáculo no 5º Prêmio Bravo! Prime de Cultura. (...)
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Reproduzo, aqui, texto que postei nos comentários da matéria de Gabriela Mellão sobre o trabalho de Roberto Alvim, publicado na edição de janeiro/2010 da revista BRAVO!:
ResponderExcluirTive a felicidade de participar de uma oficina de dramaturgia com o Roberto Alvim aqui em Curitiba durante nove meses em 2009. Não vi nenhum trabalho dele encenado, infelizmente, mas li dois de seus textos. Se há uma preferência por escuridão, penumbra, pouca luz nos trabalhos dirigidos pelo Alvim, ele, no entanto é um "ensolarado professor". Nenhum texto de seus alunos ele lê de olhos fechados ou com a luz apagada. Alvim, que pode parecer dar preferências a textos sombrios como os lidos em sua infância, e os encenados agora em sua fase adulta e criativa, acende todas as luzes sobre os textos dos participantes da oficina de dramaturgia que orienta e não permite que cada texto apresentado seja lido com pré conceitos, ressalvas ou limitações de olhar. Diz ele: "Aceitem a visão de mundo do autor". Ninguém tem uma nítida visão de mundo se não estiver de olhos, coração e mente bem abertos. Parabéns pela matéria, Gabriela. Eu li cinco de suas peças e do texto DesolaDor, destaco uma frase (das cartas de Artaud, a Carta de um Desertor) e que, talvez possa contrapor o trabalho do Alvim como diretor, encenador e o trabalho dele como professor, iluminador de novas idéias: (...) mas vida fede / não posso mais / tratar de teatro,/ nada que remeta arte dramática/ ou cenográfica / não posso mais tratar de mim. E responde o DUPLO: Meu camarada acaba de me presentear/ uma decepção terrível / me fez ver a mim mesmo com horror. (...) Alvim, como Artaud, é assim. Dá luzes para que nós (pretendentes a autores) nos revelemos através da palavra. Da palavra. Não da luz.
Rogério Viana
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