quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ambiguidades em torno do próprio umbigo

O meu lado esquerdo é seu lado direito...
O espectro parece amplo. Posso ser extrema esquerda,
você sendo extrema direita. Há um ponto médio?
Centro esquerda. Se for para lá um pouco, é. Se não...

Seria trágico, poderia ser comédia. São reflexões limitadas ao perímetro que dá contorno ao umbigo de quem pensa que reflete, reflete sem pensar... No meu texto "Homem Ambíguo em Torno do Próprio Umbigo", isso é o que acontece: Antes de se enxergar ambíguo, o homem se enxerga espermatozoide, óvulo, cordão umbilical, feto, bebê, gente. Antes de nascer, ele foi gestado, sim, lá em pé, na escada, num sexo ocasional de uma adolescente e de seu namorado surfista que nem nome tinha. Numa rapidinha que bambeou quatro pernas. Depois, dialogando com seu próprio umbigo, enroscado ainda com seu cordão umbilical com a placenta, com o umbigo de sua própria mãe, sua mãe com seu próprio umbigo, trocando de umbigos e de ligações entre si – o homem, seu umbigo, a mulher e seu umbigo – toda a ambiguidade é revelada nas visões que cada um tem daquele limitado espaço importante mas que não pode e nem vai além de simples e simplificadas reflexões atemporais onde o espaço de análise e reflexão não vão além de poucos centímetros ao seu entorno.

Aqui, diálogos do homem e do seu próprio umbigo. Do primeiro quadro com o título:

"Gênese - Que porra é essa?":

Um homem

Mas isso estaria certo? É correto ver pelos olhos do outro? E os meus olhos? O que é meu olhar? Minha visão, meu jeito? O que vejo agora, se eu estivesse na sua posição eu veria apenas o contrário. Não é como um espelho, eu sei, pois em mim ainda nada reflete. Mas... bem, é sim... É como? Sim... Como uma imagem refletida. Não faz sentido enxergar apenas com um sinal invertido. De lá para cá, é... De cá para lá, não. O certo é errado, o direito é agora esquerdo, o lado que vai para lá, agora vai para cá... Vai ou vem? Tanto faz? Então, é um desconforto ter que enxergar e conviver com sentimentos divergentes, contrários, contraditórios, contrastantes. O que antes era claro, está agora confuso, equivocado. Embaralhou tudo? De novo? Estou correto ou, do meu ponto de vista, estaria equivocado?

O umbigo dele

Mas, por um lado, você verá por outro, não é? Visão privilegiada, isto sim! Poderá ver por outro, se do outro você não mais estiver. Parece ambíguo? Nem tanto. É uma vantagem ver-se olhando por outra perspectiva. Ou não? Basta girar. Afastar. Subir, descer. Dar um zoom ou fazer um traveling... Assim, sim... Percebeu? Ah, se você se considerar equivocado, por outro, o equívoco não existe. É tudo uma questão de ponto de vista. Ou não? Percebeu? Enxergue... Uma coisa pode ser tantas outras. Rode. Veja como as perspectivas se ampliam. Pule para este lado. Rode, venha, entre na roda... Gire, mova-se... Não saia do trilho... Se sair, aproveite ir para onde nem imaginou estar.

Um homem

Mas se eu pular para o seu lado, você, fatalmente, terá que vir para cá. Não podemos estar no mesmo lugar no espaço. O que? Um pouquinho mais para o lado? Você vive me confundindo com sua falta de habilidade de reconhecer-se de esquerda. Não? Sim, de esquerda. Já não é mais? Mudou?

O umbigo dele

Sim, vire para o lado esquerdo... Sim... um pouco mais para cá... Vamos, vire-se...

Um homem

O meu lado esquerdo é seu lado direito... O espectro parece amplo. Posso ser extrema esquerda, você sendo extrema direita. Há um ponto médio? Centro esquerda. Se for para lá um pouco, é. Se não...

O umbigo dele

Sim... então escolha...


Acesse o texto integral aqui.


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