quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Entre fios e urdiduras

...um pouco da trama, dos fios que se entrelaçam,
costuram, tecidos, vozes, afetos, dramas e mentiras...


No meu texto "Parent(es)is - Fábula para seis ou mais vozes", seis ou mais vozes falam sobre e nos encontros que acontecem ou aconteceram numa antiga fábrica de tecidos e onde, hoje, as vozes são de outras pessoas, de atores, diretores, cenógrafos, iluminadores, gente que vive não mais na fabricação de tecidos mas na tessitura de papéis, de olhares. Os personagens são os pronomes pessoais, do singular e do plural. No terceiro ato - são quatro atos ou quatro quadros - "Entre fios e urdiduras", um pouco da trama, dos fios que se entrelaçam, costuram, tecidos, vozes, afetos, dramas e mentiras:

Eu – Foi assim. Ele chegou mais cedo que de costume. Não que ele fosse sempre o primeiro a chegar, mas estava entre os primeiros. Notou que o Roberto já estava. Só que o carro dele não estava na frente. Estava lá no fundo, perto da chaminé...

Tu – Logo com aquela moreninha? A de cabelo cacheadinho e olhos verdes?

Ele – Rapaz, nem te conto...

Nós – Apesar das aparências, ele não era de todo desprezível...

Vós – Ouviu um barulho estranho. Uma batida ritmada, seca. Andou mais devagar pelo corredor. Afinou os ouvidos... Pam, pam, pam, pam... pampampampampam...

Eles – Quando mostraram a nova cartela de cores, eu não acreditei. De novo este azul ridículo? Não gosto de azul. O quê? O céu de Curitiba está de novo cinza? Normal, não é? Até parece Londres. Só que aqui chove menos...

Eu – Não pare! Não pare! Vai, vai, vai...

Tu – E foi assim... Pampampampampampam... E ela gritou, gemendo, gritou gemendo... Deu para ouvir direitinho... Roooobeeeeertoooo... Roooobeeeeertoooo... você gozou dentro de
mim?

Eu – Menina, menina... Que loucura! Que loucura!

Ele – Sim, a menina do cafezinho disse que vai pedir demissão...

Nós – Não sei bem quando foi... Não fico controlando este tipo de coisa. Aqui, se está no orçamento eu pago, caso contrário, que se dane. Mas ele é chefe! É seu patrão, idiota! Se está previsto, eu pago. Não pago nada por fora. Não sou burro. Isso eu não sou. Podem me chamar do que quiserem, menos idiota. Doutora, a senhora tem remedinho para saco cheio? Manda aquela filho da puta enfiar os pedidos no cu! Não tem essa de pedir adiantamento. Se não está no orçamento, não dou. Nem que me amarrem... Mas... e daí, o que aconteceu depois?

Eles – Minha mãe não quer abrir mão dos direitos dela. Ela tem 50 por cento das ações. Afastá-la das decisões será difícil. E ela não vai dar procuração para o Roberto? Não vai mesmo...

Tu – Doutora, por favor, a senhor tem que me dizer o que tenho... É grave? O quê? O que é isso? A senhora dá uma receita, então.

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